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‘Ficava ao lado de fora assistindo’: trancista precisou matricular filha em curso para aprender a fazer penteados

Tatiana atende clientes em Itapuã

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 8 de março de 2024 às 08:00

Tatiana largou o trabalho como cuidadora de idosos para passar mais tempo com a família
Tatiana largou o trabalho como cuidadora de idosos para passar mais tempo com a família Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Se tem uma coisa que aprendi com a minha vivência, é que você senta e lamenta ou levanta e enfrenta”. Esse é o lema que Tatiana Factum, 41, herdou das suas figuras maternas e repassa para as novas gerações da família. Ela contempla boa parte das características da maioria das mulheres baianas: é negra, tem menos de 49 anos e não fez faculdade. Até se tornar trancista, Tatiana ouviu muitas negativas e até matriculou a filha mais nova em um curso de penteados para conseguir desenvolver suas habilidades.

Sair de casa todos os dias antes do amanhecer e voltar para a casa depois das 23 horas. Assim foi o cotidiano de Tatiana durante muito tempo, até ela largar o trabalho como cuidadora de idosos e apostar em uma mudança de vida. A vontade era abrir um salão para fazer penteados e tranças. Ela mirou no objetivo e não se deixou abalar com os “nãos” que lhe foram dados no meio do caminho.

Para começar a traçar a meta, Tatiana buscou uma associação de bairro que oferecia curso de trancista. Na época, ela tinha ideia de como funcionava o trabalho, mas faltava capacitação. O primeiro revés veio quando ela descobriu que não tinha mais idade para se matricular. “Viram que eu já tinha passado dos 24 anos e disseram que não tinha mais vaga para mim. Mas, a sala estava vazia e cheia de cadeiras”, relembra.

“Fiquei pensando em como conseguiria entrar no curso. Decidi matricular minha filha, que tinha 16 anos, no curso, assim eu levaria ela e ficaria inserida de alguma forma naquele espaço”, conta. A estratégia foi, aos poucos, dando certo. “Eu ficava do lado de fora da casa vendo elas confeccionando o cabelo e aquilo queimava dentro de mim. Comecei a ajudar a entregar marmitas na associação para me fazer ser vista. Depois de um tempo, consegui a oportunidade de assistir às aulas”.

Com a possibilidade de aprendizado, veio outra dificuldade: como iria praticar os penteados? Foi quando teve mais uma ideia brilhante. Tatiana colocou uma placa anunciando que fazia tranças de graça. “As mães que iam levar os filhos para a escola deixavam as crianças lá e eu fazia os penteados”, explica. A partir daí, ela foi ficando conhecida no bairro, até que montou um pequeno salão na extensão de casa.

Assim surgiu o Studio Taty Factum (@tatyfactumhair), que funciona em Itapuã. Mas esse é só o início que, se depender da baiana, ainda vai render muitos frutos. “Aprendi com a minha mãe que nunca devemos desistir. É aquela história que quando não conseguimos subir a montanha, podemos contorná-la”, diz.