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Festa da Boa Morte terá mais dois dias de celebrações

Cozido, caruru e samba de roda estão entre as atrações

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 17:37

Festa da Boa Morte em Cachoeira Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A presença de um batalhão de fotógrafos disputando a melhor imagem em frente a um casarão mexeu com a rotina dos moradores de Cachoeira, no Recôncavo, nesta quinta-feira (15). O prédio vermelho é a sede da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte e de onde partiu uma procissão até a igreja matriz, duas quadras adiante. A celebração é uma das festas mais importantes do município e atraiu uma multidão formada por moradores de cidades vizinhas e turistas brasileiros e estrangeiros.

A festa da Boa Morte dura cinco dias, deve terminar no sábado, e nesta sexta-feira (16) será dedicada a Nossa Senhora da Glória. Enquanto do lado de fora os fotógrafos disputavam espaço na expectativa de registrar a saída das irmãs, do lado de dentro o grupo formado por cerca de 30 mulheres descendentes de negros escravizados davam os últimos retoques nas vestimentas. Sentada, a irmã mais antiga da casa, Lindaura Paz dos Santos, 88 anos, observava a cena.

"Tenho 55 anos de Irmandade. São 55 anos de fé e de bênçãos. Tive muitas graças alcançadas. Um dia, eu saí de casa e não vi que meu neto, uma criança, veio correndo atrás de mim. Um jegue foi enfurecido para cima dele e quando me virei o animal já estava quase alcançando o menino. Eu gritei por Nossa Senhora da Boa Morte e o animal de repente recuou. Foi por pouco, foi um milagre", conta, emocionada.

Irmã Lindaura tem 55 anos na Irmandade Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A missa estava marcada para 10h, mas 1h antes já havia fiéis em pé em frente à igreja, aguardando as portas serem abertas. Os veteranos contaram que se anteciparam para conseguir um lugar, já que o templo sempre fica lotado na data. Eles tinham razão. Em questão de minutos, bancos, corredores e a nave central foram tomados e parte dos religiosos não conseguiu entrar. Um telão transmitiu a missa para aqueles que ficaram do lado de fora. A maioria vestiu branco.

Nos bastidores havia uma expectativa sobre como seria o comportamento das irmãs diante da atual situação da irmandade. Isso porque, nas últimas semanas, a entidade vem passando por uma queda de braço entre as religiosas. De um lado, está a presidente eleita, mãe Zelita, e do outro, um grupo de irmãs que não reconhece mais a autoridade da líder e proclamou a tesoureira Cleuza Maria como a nova presidente.

As duas mulheres compareceram à festa, Cleuza se identificou para a reportagem como tesoureira e preferiu não comentar a polêmica. Outras irmãs, dos dois lados da disputa, seguiram o mesmo caminho e resolveram não tocar no assunto até que a festa termine. O evento seguiu com honrarias a Nossa Senhora e sem incidentes.

Procissão nas ruas de Cachoeira Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Festa

A missa começou com uma saudação às irmãs mais antigas da Irmandade e teve participação de autoridades, como a prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga (PT), e o secretário estadual de Cultura, Bruno Monteiro. Cânticos e orações deram o tom da celebração, e a passagem bíblica em que a voz de Maria fez João Batista se manifestar no ventre da mãe dele, Isabel, foi um dos destaques.

Quatro irmãs foram escolhidas para levar os elementos da Eucaristia até o altar. A imagem da santa deixou a igreja sob aplausos e fogos de artifício e percorreu as ruas de Cachoeira sendo saudada pelos moradores nas calçadas, janelas e sacadas dos prédios. Dona Maria da Glória, 93 anos, além de ter o nome da santa, disse ser uma devota fervorosa. "Ela é tudo para mim. Eu tinha que vim agradecer pelas bênçãos já alcançadas e pedir por todos nós", disse, segurando o andador na porta de casa.

Uma multidão seguiu atrás do andor com a imagem da santa. A festividade foi encerrada na sede da Irmandade, onde houve valsa e feijoada, como manda a tradição. A festa da Boa Morte existe há mais de 200 anos, começou inicialmente no bairro da Barroquinha, em Salvador, mas devido a perseguições e intolerância religiosa, as irmãs mudaram para Cachoeira, no Recôncavo, onde é realizada entre 13 e 17 de agosto.

Igreja ficou lotada durante a missa Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Em 2010, ela foi registrada como Patrimônio Imaterial da Bahia, por celebrar a liberdade do povo negro, a resistência da mulher negra, a religiosidade e a cultura afro-brasileira. A Festa da Boa Morte é considerada uma expressão característica da religiosidade popular e foi inscrita no Livro de Registro Especial de Eventos e Celebrações pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), unidade vinculada à Secretaria de Cultura da Bahia (Secult).

Confira a programação:

16 de agosto – Sexta-feira

18h - Cozido, seguido de samba de roda no largo D´Ajuda

17 de agosto – Sábado

18h - Tradicional caruru e samba de roda no largo D´Ajuda