Feira mãe: mulheres são maioria entre feirantes em São Joaquim

Evento destaca a importância da mulher na liderança da salvaguarda da feira enquanto patrimônio histórico e cultural

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  • Priscila Natividade

Publicado em 31 de agosto de 2024 às 22:21

Mediada pela editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra, roda de conversa destacou a liderança feminina na Feira de São Joaquim
Mediada pela editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra, roda de conversa destacou a liderança feminina na Feira de São Joaquim Crédito: Priscila Natividade/ CORREIO

Mulheres, empreendedoras e autônomas. É a energia feminina que movimenta de uma ponta a outra, a Feira de São Joaquim. “São mulheres fortes, corajosas que lutam e mantêm a feira. São chefes de família, são chefes de São Joaquim. É só chegar lá bem cedo que você só vai ver mulher trabalhando. São elas que mandam”, diz Dadá, chef de cozinha e proprietária do Restaurante Cantinho da Dadá, localizado bem no coração da feira há 50 anos. Junto com as duas filhas, Dadá toca o negócio que vende mais de 80 pratos de feijoada no sábado e se somar com a rabada, o mocotó, isso chega a 200 refeições.

“É só nós três para tudo. Três mulheres tocando um restaurante. Eu sou aposentada, mas você vai me ver em casa? Não. Eu venho, trabalho, cozinho, dou risada. Faço a conta no balcão. A força da mulher é essa aí”, afirma a cozinheira, que é uma das figuras mais importantes da feira e idealizadora da Marujada, que acontece amanhã (01), no restaurante, a partir das 10h. Defensora do legado e do patrimônio da feira, Dadá também foi uma das convidadas da 2ª Edição da Arena São Joaquim, que aconteceu neste sábado (31), na Doca 1, no Comércio.

"Eu venho, trabalho, cozinho, dou risada. Faço a conta no balcão. A força da mulher é essa aí"

Dadá
chef de cozinha e proprietária do Restaurante Cantinho da Dadá

Dadá se juntou a chef de cozinha dos Restaurantes Encantos da Maré, Deliene Mota, e a assistente de secretaria do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Salvador (Sindfeira), Suzy Mendes para discutir ‘A importância das Mulheres na Salvaguarda da Feira de São Joaquim enquanto Patrimônio Cultural’. Mediada pela editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra, a roda de conversa trouxe experiências e histórias de quem vive e respira a feira de São Joaquim todos os dias.

“A gente está falando de um patrimônio imaterial que está na memória, na cabeça, na fala, na vida das pessoas. Isso é de um valor único. Existe um universo na Feira de São Joaquim que não é percebido. A memória de quem vive na feira. Isso tem uma importância enorme para o tombamento dela. Esse é o nosso interesse”, defende Linda Bezerra sobre a valorização de São Joaquim enquanto símbolo cultural e histórico.

Arena São Joaquim reuniu feirantes, empreendedores e defensores da feira enquanto patrimônio histórico e cultural
Arena São Joaquim reuniu feirantes, empreendedores e defensores da feira enquanto patrimônio histórico e cultural Crédito: Priscila Natividade/ CORREIO

Foi lá que Deliene Mota alimentou seus negócios e tornou os Restaurantes Encantos da Maré, localizados na Cidade Baixa, a referência que eles são atualmente. “Eu sou filha da feira de São Joaquim. Ela é mulher, é mãe. A feira alimenta. É uma troca. Alimenta meus restaurantes e eu alimento pessoas. Aqui, são as mulheres que dominam. Venho, compro, passeio, troco uma ideia, converso, ‘tomo uma’. Isso é muito poderoso. É a união de força dessas mulheres que podem fazer grandes coisas na Feira de São Joaquim”.

"É a união de força dessas mulheres que podem fazer grandes coisas na Feira de São Joaquim"

Deliene Mota
chef de cozinha dos Restaurantes Encantos da Maré

Suzy Mendes confirma que a maioria dos empreendedores que estão na feira hoje são mulheres. A assistente de secretaria do Sindfeira destaca que existe um esforço para estimular a formalização e de valorizar o trabalho dessas feirantes. “Conheço de perto a vida delas e são muitas histórias que chegam para a gente. São Joaquim é um lugar de mulheres que sustentam seus filhos com a feira. Tem até feirantes que moram aqui, vão para casa no fim de semana e retornam domingo para trabalharem na segunda-feira logo cedo. Estamos sempre orientando sobre a importância da formalização. Mas é um projeto que precisa ganhar mais força. É um trabalho que começa muito pela confiança que se estabelece com essa trabalhadora”.

Empreendedora e feminina

A iniciativa, fruto da parceria entre a JA Bahia e a Wilson Sons, contou ainda com a presença de agentes de microcrédito do Crediamigo Banco do Nordeste, a fim de conscientizar sobre a importância do associativismo e da formalização como estratégia de crescimento. Gerente regional do Crediamigo, Tedson Neiva aproveitou o evento para anunciar que até 2025, o banco pretende mais que dobrar o número de estruturas, saindo de 400 unidades para mais de 1 mil.

As mulheres representam 68,3% dos clientes da linha de microcrédito, que tem taxas a partir de 0,8% ao mês. No último ano, as contratações chegaram a 10,64 bilhões, um incremento de R$ 22,9 bilhões na economia. “Queremos estar cada vez mais próximos e mais disponíveis para realizar sonhos. É muito importante ver mulheres, utilizando esse poder e fazendo a diferença. Inclusive, temos o Crediamigo Delas, um produto que foi feito pensando justamente no público feminino e com taxas ainda mais atrativas”, comenta.

Também durante a Arena São Joaquim, 18 feirantes que participaram do curso de formação ‘Capacitar para Conectar’, receberam o certificado. O encerramento do evento ficou por conta da Banda Didá, que além levar a percussão feminina para o palco deu espaço a pequena Dandara Rohrs, de 8 anos, para declamar o seu poema ‘Guerra Urbana’ escrito por ela mesma sobre a periferia.

“São as mulheres que estão na salvaguarda desse patrimônio que é São Joaquim. Que diariamente sustentam e fazem com que essa feira seja esse apogeu incrível. É importante trazer a mulher como líder de tudo isso”, reforça a supervisora de marketing e analista em ESG no Tecom Salvador, unidade da Wilson Sons, Adriana Medeiros.