Febre oropouche pode estar relacionada a casos de microcefalia em bebês, apontam estudos

Saiba como as grávidas devem se proteger da doença

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  • Maysa Polcri

Publicado em 24 de julho de 2024 às 07:30

A microcefalia é caracterizada pelo desenvolvimento anormal do cérebro
A microcefalia é caracterizada pelo desenvolvimento anormal do cérebro Crédito: Shutterstock

As atenções das autoridades em saúde estão voltadas para o surto de casos de febre oropouche na Bahia. Já são 835 casos confirmados no estado, quantidade maior do que todos os diagnósticos do Brasil no ano passado, quando foram 832. Na esteira do aumento do número de registros, o Ministério da Saúde (MS) investiga a relação da doença com casos de microcefalia em bebês.

A microcefalia é caracterizada pelo desenvolvimento anormal do cérebro, quando a cabeça do bebê é significativamente menor do que o esperado. Um estudo realizado no mês passado pelo Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, detectou que quatro recém-nascidos com microcefalia possuíam a presença de anticorpos contra o vírus da febre oropouche.

Três dos bebês tinham um dia de vida e um tinha nascido há 27 dias quando passou pelo teste. Segundo o Ministério da Saúde, essa é uma evidência de transmissão vertical da doença, ou seja, da gestante para o feto. “As limitações do estudo não permitem estabelecer relação causal entre a infecção por OROV [vírus oropouche] durante a vida intrauterina e malformações neurológicas nos bebês”, pontua nota da pasta.

O óbito de um feto de 30 semanas, em julho deste ano, também está sendo investigado. Nesse caso, o vírus foi encontrado em sangue do cordão umbilical, placenta e órgãos fetais. O virologista Gúbio Soares, que identificou os primeiros casos de febre oropouche em Salvador, em 2020, explica que os casos ainda carecem de investigação.

“Chama atenção que os casos de microcefalia apareçam agora, sendo que o vírus já circula no país há muito tempo. Então, é preciso que ocorra uma investigação extremamente minuciosa”, afirma o especialista. O mosquito maruim (culicoides paraensis), conhecido também como mosquito-pólvora, é o principal vetor da doença.

Se a relação entre a febre oropouche e a microcefalia for comprovada, não será a primeira vez que uma arbovirose (doença transmitida por mosquitos) é responsável pela má formação fetal. Entre 2015 e 2017, uma epidemia de casos de microcefalia relacionados à infecção de gestantes pelo vírus da zika atingiu o país. Isso acontece porque o vírus inflama a placenta das grávidas e compromete o desenvolvimento dos bebês.

O Ministério da Saúde recomenda os cuidados que as gestantes devem ter para evitar a infecção pela febre oropouche: evitar áreas onde há muitos insetos, usar telas em portas e janelas e usar roupas que cubram a maior parte do corpo. As regiões sul e leste da Bahia respondem por 97,4% de todos os casos do estado, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). Ilhéus é a cidade com mais casos diagnosticados - foram 110 apenas neste ano.

“O mosquito maruim se prolifera em locais onde há acúmulo de material orgânico, diferentemente do aedes aegypti, que gosta de água parada. Então é preciso manter a casa limpa e o lixo orgânico em local adequado”, indica o virologista Gúbio Soares.