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Fé em Antônio: conheça histórias de devotos do santo casamenteiro

Pároco da Paróquia Santo Antônio Além do Carmo e doutor em História da Igreja, padre Jailson Jesus, explica porquê o santo se tornou tão popular

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 13 de junho de 2024 às 05:00

Altar da paróquia Santo Antônio Além do Carmo
Altar da paróquia Santo Antônio Além do Carmo Crédito: Paula Fróes/CORREIO

A fé em Antônio move a professora Jurania Coutinho, 48 anos. A mãe e a tia rezavam todo ano na casa do avô e todos da família sempre acompanhavam esse momento. “Nessa época, eu procuro mentalizar coisas boas, vestir branco e azul, distribuo pães e oro pela paz no mundo. Se tornou tradição repetir os ensinamentos dos meus antepassados, manter a vida, alegria e esperança. Ensinar aos mais novos”.

Quem também tem a fé no santo português presente na vida é a empresária Renata Côrtes, 48 anos. Casada com um Antônio, nascida e criada no bairro do Santo Antônio, vizinha da Igreja do Santo Antônio além do Carmo, ela cresceu apreciando as festas e liturgias que eram feitas em todo da fé. "Santo Antônio tem um significado muito forte para mim. Conheci meu marido no bairro de Santo Antônio numa festa, comecei a namorar no dia de Santo Antônio e ele morava no Santo Antônio também. Porém, a devoção foi uma herança da minha avó, que me criou”, conta. Não foi só uma ou duas graças alcançadas na relação de fé ao santo. Renata venceu um AVC, conseguiu realizar sonhos profissionais, teve duas filhas e pagou todas as promessas que devia a santo Antônio. “Tudo que eu peço a Santo Antônio, eu agradeço. Inclusive, já fui para Pádua, na Itália, onde ele morreu, visitar seus restos mortais. Eu entrego tudo nas mãos de Santo Antônio. Ele realiza mesmo, pode pedir. Agora, prometa, mas pague. Nunca fiquei sem pagar uma promessa a Santo Antônio. Eu nem durmo, se não pagar”, revela.

A devoção por um dos santos mais queridos da Igreja Católica tem explicação. Santo Antônio nasceu em Lisboa. Ele, inicialmente, se consagra a Deus na ordem agostiniana, mas depois se torna franciscano, quando presencia a chegada dos corpos de franciscanos mortos em Marrocos, durante as cruzadas, como explica o pároco da Paróquia Santo Antônio Além do Carmo e doutor em História da Igreja, padre Jailson Jesus.

“Foi um santo que, desde cedo, amava nosso senhor Jesus Cristo profundamente. Com 15 anos, ele entrou no convento. Santo Antônio se torna popular ainda em vida devido ao seu conhecimento e também fica muito famoso pelos relatos de milagres acontecidos por seu intermédio”. O sacerdote se tornou tão popular que foi canonizado apenas um ano depois da sua morte. “Ele também é doutor evangélico da igreja. A partir daí, Santo Antônio se tornou ainda mais conhecido e sua devoção se espalhou pelo mundo inteiro. No Brasil, essa devoção chegou através das famílias portuguesas que vieram para colonizar o país”.

Mesmo que 13 de junho seja o dia que muita gente costuma retirar a figura do menino Jesus dos braços de Santo Antônio ou colocá-lo de cabeça para baixo até encontrar o pretendente, o padre Jailson garante que o santo é muito mais que casamenteiro. “Santo Antônio me impressiona por duas características: primeiro por ser um santo forte, que chama conversão, uma transformação de vida, a viver ao evangelho. Um santo que sua pregação toca os corações. Sua pregação é tão forte que ele é chamado até de terror dos demônios, martelo dos hereges. Mas, ao mesmo tempo, é um santo muito amoroso, que sabe acolher as pessoas, ter paciência, que era capaz de pegar os pães do convento para os frades se alimentarem e dar aos pobres”.

"Sua pregação é tão forte que ele é chamado até de terror dos demônios, martelo dos hereges. Mas, ao mesmo tempo, é um santo muito amoroso, que sabe acolher as pessoas, ter paciência"

Jailson Jesus

pároco da Paróquia Santo Antônio Além do Carmo 

Também chama atenção o fenômeno da devoção: “Um santo da idade média que continua até hoje na vida das pessoas, do povo, atraindo multidões. Todo mundo deveria conhecer mais sua história e sua doutrina. As pessoas, muitas vezes, ficam só no aspecto dos milagres e esquecem o grande santo sábio que é Santo Antônio. Hoje, existem publicações de todos os seus escritos e sermões e isso é uma fonte de conhecimento. É um santo que nos ensina a oração, a evangelizar, olhar para os carentes. Mostra que é possível viver realmente a santidade na nossa vida”.

Viva a Santo Antônio

A aposentada Arisbel Cerqueira teve a oportunidade de conhecer o quartinho onde Santo Antônio viveu, em Lisboa. “Minha sogra contava que caiu do cavalo quando criança e que o médico a desenganou, afirmando que ela não voltaria a andar. Ela fez a promessa a Santo Antônio e ficou boa. Minha sogra já faleceu, mas eu continuei com a devoção. Humilde, simples, viveu em um quarto minúsculo. A vida de pobreza que ele teve, tudo isso me inspira. Sou só gratidão”, afirma Arisbel.

Foi através da intercessão de Santo Antônio que a funcionária pública Tita Bahiense realizou o sonho de ser mãe, após 10 anos de casada. “Na verdade, sempre rezei na infância, mais isso se fortaleceu há 23 anos com um grupo de amigas, o Clube das 13, todas da igreja católica. Minha devoção tem um significado muito grande: Thiarê Antônia, o meu presente de Deus. Santo Antônio, é sim um grande intercessor, muito amado por Deus, pois foi através do seu pedido cheio de amor que Deus realizou o milagre de uma vida no meu ventre. Minha filha, não por um acaso, nasceu em um dia 13 de junho”, testemunha.

Já a turismóloga Mary Magalhães, 58 anos, começou a rezar em casa para Santo Antônio depois que teve o seu primeiro pedido atendido. “Reuni amigos, vizinhos e começamos a organizar a reza, buscar aquele caderno que os mais velhos tinham com orações completas. Cada um trazia um prato, montávamos o altar, confeccionamos o livro e todo mundo ia colaborando”.

Depois que a mãe faleceu, em 2019, a fé fez com Mary continuasse. “Mesmo com todas as perdas que tivemos de pessoas que eram importantes e faziam parte da reza, a fé em Santo Antônio me fez forte o bastante para continuar. Santo Antônio não é  casamenteiro, mas sim um santo que pode fazer com que sejamos mais fortes para seguir na vida. Arrumo meu altar e me organizo para ir rezar nas casas das amigas e no terreiro. O sentimento é o de que, apesar de tudo, ainda temos esperança”, completa.

Confira o horário das principais programações do dia de Santo Antônio:

Paróquia Santo Antônio Além do Carmo (Centro Histórico)

As homenagens terão início com a alvorada às 6h, seguida de Missas às 6h30, às 9h30, às 11h e às 16h30, sendo esta última a de consagração do novo altar da Igreja, sob a presidência do Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sérgio da Rocha.

Às 18h haverá uma procissão pelas principais ruas dos bairros Santo Antônio Além do Carmo e Barbalho, saindo e retornando para a Matriz, onde, após a chegada dos fiéis, será celebrada a última noite do trezenário.

Paróquia Santo Antônio (Cosme de Farias)

As homenagens iniciarão com a alvorada às 5h30, seguida de Missa às 6h, e café da manhã partilhado na praça às 7h. Por volta das 8h uma carreata com a imagem do padroeiro percorrerá as principais ruas do bairro.

Às 18h, os fiéis realizarão uma procissão, saindo da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Milagres (Largo dos Paranhos) até a Matriz da Paróquia Santo Antônio, onde o bispo auxiliar Dom Valter Magno de Carvalho presidirá a Santa Missa.

Paróquia Santo Antônio (Portão, Lauro de Freitas)

Em Portão, Lauro de Freitas, Santo Antônio será homenageado às 19h, na Matriz. Em 2024, a atual paróquia – que antes era comunidade da Paróquia Santo Amaro de Ipitanga – completa 105 anos de trezena. O tema escolhido para este ano é “Com Santo Antônio somos peregrinos da Esperança.

Paróquia Santo Antônio (Fazenda Coutos)

A Santa Missa acontecerá às 19h.

Igreja Santo Antônio da Barra (Ladeira da Barra)

“Caminhar para Deus seguindo os passos de Santo Antônio”, este é o tema central dos festejos na Igreja Santo Antônio da Barra, em Salvador. A celebração acontece às 18h.

O Projeto São João 2024 é uma realização do jornal Correio com apoio da Sicoob.