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Wendel de Novais
Publicado em 24 de agosto de 2023 às 13:20
Wellington Pacífico, neto de Mãe Bernadete, relembrou a morte da avó e pediu justiça nesta quinta-feira (24), sete dias depois do crime. Ele participou hoje, ao lado de familiares e amigos, de uma missa na Igreja do Bonfim, na Colina Sagrada, que marcou a data.>
"Infelizmente hoje faz sete dias que perdi minha avó. Foi um momento de terror, um pesadelo, porque naquele momento eu era o único adulto que poderia tentar fazer alguma coisa, mas não tinha nenhuma possibilidade. Saí agradecendo pela vida de minha irmã e do meu primo mais novo, que estavam lá no momento fatídico. Parece que foi ontem, consigo ainda lembrar de todos os detalhes, de todo meu sentimento, de toda aquela carga pesada a se carregar", disse Wellington, que testemunhou a avó ser morta com 12 tiros no rosto e 10 no tórax.>
Filho de Flávio Gabriel Pacifico dos Santos, conhecido como "Binho do Quilombo", Wellington pede justiça pela avó e pelo pai, que também foi executado há 6 anos. "A única coisa que a gente pode fazer é apelar pra Justiça, às autoridades competentes, cobrar justiça, para que elucidem o caso deminha avó, como o de meu pai também, em 2017, que foi brutalmente assassinado dentro da comunidade com 16 tiros. Não pode ficar impune. A gente não pode escrever novos livros de história afirmando que os culpados escaparam impunes. A gente precisa escrever nossa história dizendo que os mandantes dos assassinatos de nossos líderes foram responsabilizados, foram para a cadeia", disse. "Estou aguardando a resposta das autoridades".>
Na catedral lotada, familiares, amigos e membros de entidades do movimento negro e quilombola da Bahia compareceram em homenagem a líder do Quilombo Pitanga dos Palmares. >
O filho da líder quilombola, Jurandyr Pacífico, falou sobre a importância do momento religioso. "É um momento religioso, minha mãe era religiosa, é o momento de estar com Deus. Eu sei que ela está junto com Deus. Está difícil, do jeito que foi, como está sendo... muito difícil pra gente", desabafou.>
Jurandyr disse ter fé que a justiça será feita. "Eu sou uma pessoa que tenho muita fé em Deus e todos esses que estão fazendo mal, esse mal nunca vai chegar até a mim. E toda arma levantada contra a minha família não prosperará. Tenho muita fé em Deus e que vão se resolver os dois assassinatos [de mãe Bernadete do irmão dele, Fábio, assassinado há seis anos]". Ele aproveitou a oportunidade para agradecer pela escolta que tem recebido da Polícia Militar.>
Mel Girassol, 29 anos, presidenta da Instituição Sócio Educacional Abayomi, disse que Mãe Bernadete ainda tinha muito a fazer. "Não queria estar aqui em uma missa de sétimo dia. O que eu sinto é um sentimento de vazio. Gostaria de estar dando continuidade no trabalho. 30 de setembro a gente tem o Beldade Negra, ação afirmativa em que ela seria homenageada", relembrou, dizendo que Mãe Bernardete seria jurada do evento. "Gostaria de dar continuidade ao trabalho e ver o sorriso dela, aquele sorriso largo, contagiante, e ver uma mulher forte, de fibra, que tinha todo um trabalho pela frente e teve a vida interrompida de forma perversa e desumana". >
Presente na missa, o coronel Coutinho, comandante da Polícia Militar, falou sobre o reforço na segurança à família. "A Polícia Militar continua cumprindo com seu papel constitucional que é levar segurança, especificamente, não só à família, mas a todas as famílias que moram naquele local", disse.>
A missa foi celebrada pelo padre Lázaro Muniz, que comentou sobre a importância de Mãe Bernadete para a luta quilombola. "O sentimento de impotência pela violência vai se revertendo pelo sentimeno de gratidão à Mãe Bernadete, pela luta pelos quilombolas, para que a gente possa continuar nessa defesa, e nesse combate a todo tipo de violência no meio de nós, à barbarie de vidas ceifadas pela ganância".>