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Família de Mãe Bernadete vai processar ONG que pediu indenização de R$ 143 milhões ao Governo

Educafro afirma que a ação coletiva movida contra o Estado da Bahia se deve pela negligência em relação à morte de 11 lideranças quilombolas nos últimos 10 anos

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  • Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2023 às 22:06

Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada em Simões Filho
Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada em Simões Filho Crédito: Reprodução/Redes sociais

A família de Mãe Bernadete informou que entrará com um processo contra a associação civil Educafro, após a ONG pedir uma indenização de R$143 milhões ao Governo do Estado pela morte da líder quilombola. Mãe Bernadete foi morta com 22 tiros dentro da Associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador, no dia 17 de agosto.

Segundo o advogado David Mendez, que representa alguns familiares de Mãe Bernadete, a família pretende entrar com uma ação por entender que a organização “tenta monetizar em cima de tragédias alheias sem estabelecer nenhum tipo de vínculo ou mesmo qualquer diálogo com as verdadeiras vítimas. Neste caso, a família de Mãe Bernadete e a comunidade quilombola de Pitanga de Palmares”.

O coordenador da Educafro na Bahia, Marinho Soares, informou que a ação coletiva movida pela ONG contra o Estado se deve pela negligência em relação à morte de pelo menos 11 quilombolas na Bahia nos últimos 10 anos. O levantamento foi feito pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Ele também afirma que, por ser uma ação coletiva, não é necessário que haja a autorização da família. Já sobre a quantia pedida na indenização, o também advogado completa que o dinheiro vai ser destinado a políticas afirmativas no combate ao racismo.

Mendez também revelou que a família e a Associação do Quilombo Pitanga dos Palmares ingressarão com ações contra os governos Estadual e Federal pelas falhas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH). A comunidade de Pitanga de Palmares, entretanto, irá pedir uma indenização pelo dano moral coletivo sofrido pela comunidade.

O CORREIO procurou o advogado Hédio Silva Jr, representante de Jurandir Wellington Pacífico, filho de Mãe Bernadete, que representará a família no processo contra a Educafro, mas não obteve resposta. O Governo do Estado também foi procurado, mas não respondeu até esta publicação. O espaço segue aberto. 

Encontro com a SSP

Na tarde desta segunda-feira (13), o filho e o neto de mãe Bernadette, além dos advogados da família, foram recebidos pelo subsecretário de segurança pública da Bahia, Marcel Oliveira, no prédio da Secretaria de Segurança Pública da Bahia.

A família pede atualizações sobre o inquérito que investiga a morte de mãe Bernadete e também o inquérito que apura a morte de Binho do Quilombo, assassinado em 2017. Em entrevista para a TV Bahia, os familiares disseram que, durante a reunião, foi dito que as investigações estão avançadas e que em breve novas informações serão divulgadas.

“Eu creio e torço que realmente ele traga quem matou, quem mandou e o porquê. Não vou deixar de cobrar”, disse Jurandir Pacífico.

Relembre o caso

Mãe Bernadete foi morta com 22 tiros dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador, no dia 17 de agosto. Até o momento, três homens foram presos na Bahia pelo envolvimento no assassinato e um suspeito de ser o segundo autor da execução segue sendo procurado.

As prisões foram anunciadas pelo secretário Marcelo Werner, no dia 4 de setembro, durante coletiva da SSP-Ba. Segundo o líder da pasta, os presos têm diferentes participações no crime: suspeito de ser um dos executores do crime, suspeito de guardar as armas do crime e preso por porte ilegal de arma de fogo e suspeito de receptação dos celulares da líder quilombola e de familiares, roubados durante o homicídio.

O primeiro preso foi detido por mandado de prisão no último dia 25 de agosto em Simões Filho. De acordo com a SSP, ele é suspeito pela receptação dos celulares do líder quilombola e de familiares, roubados durante o homicídio. O segundo detido por envolvimento no crime teve o mandado de prisão cumprido na sexta-feira (1º), na cidade de Araçás, a 105 km de Salvador. Ele confessou ter sido o executor do crime.

O terceiro a ser preso foi um mecânico que guardava as armas supostamente usadas no crime. Ele foi autuado em flagrante pela polícia na última sexta-feira (1º) em uma oficina mecânica na comunidade de Pitanga de Palmares, na zona rural de Simões Filho, mesma região onde fica o quilombo. As duas pistolas foram encontradas na oficina, com munições e três carregadores, dois deles estendidos.

O mecânico que guardava as armas foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. No trio, apenas o homem apontado como executor do crime já tinha passagem pela polícia.