Família de Mãe Bernadete questiona envolvimento de mais pessoas no assassinato

Após prisão de três suspeitos, advogado da família afirma que não há dúvidas quanto aos executores

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  • Yasmin Oliveira

Publicado em 16 de novembro de 2023 às 23:37

Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada em Simões Filho
Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada em Simões Filho Crédito: Reprodução/Redes sociais

A família da líder do ‘Quilombo Caipora’ Maria Bernadete Pacífico Moreira, Mãe Bernadete, questiona a participação de mais pessoas em seu assassinato e afirma que não há dúvidas sobre os executores. Segundo o advogado da família, essas pessoas estariam na condição de mandantes, inclusive dentro da hierarquia da facção criminosa apontada no inquérito.

Nesta manhã (16), o Ministério Público da Bahia denunciou cinco homens pelo assassinato de Mãe Bernadete. Quatro deles são apontados como integrantes de facção criminosa de tráfico de drogas. A denúncia foi oferecida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco). O crime aconteceu no último dia 17 de agosto, na sede da associação quilombola, na comunidade de Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Os cinco primeiros foram indiciados por homicídio e o sexto por posse ilegal de arma de fogo, em outro inquérito policial. Os procedimentos foram encaminhados para a Justiça na quinta-feira (9).

“Agora o momento é de nos debruçarmos sobre o conteúdo do inquérito policial que embasa a ação penal a cargo do MP/BA, pois, pasmem, só agora a defesa teve acesso à íntegra. A reunião com a equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi proveitosa e elucidativa, ressaltando a disponibilidade e disposição expressa pela equipe para prestar todo e qualquer eventual esclarecimento”, relata David Mendez, advogado da família.

Ainda conforme declarações do advogado, será movida uma ação indenizatória contra o Estado da Bahia e a União Federal pelas falhas no Programa de Proteção ao qual Mãe Bernadete estava submetida (PPDDH). O Secretário Felipe Freitas relatou à defesa da família que tentou viabilizar um acordo da família com o governo do estado, porém não obteve êxito.

Nesta tarde (16) houve outra reunião com o Ministério Público do Estado, mas o advogado David Mendez não pôde participar devido a um compromisso na Justiça Federal. O filho de Mãe Bernadete, Jurandir, Dr. Leandro e Dr. Hédio participaram desta segunda reunião.

Jurandir foi procurado durante a manhã e a tarde, mas não retornou.

Articulação do crime

O planejamento da morte da líder religiosa teria começado a partir da insatisfação de um morador do quilombo, após a reprovação de Mãe Bernadete sobre exploração ilegal de madeira praticada por ele naquela região. O homem instigou o crime e auxiliou os executores no crime.

Ainda de acordo com as investigações, esse morador enviou áudios aos líderes do tráfico, informando que a vítima estaria acionando a polícia para desarticular eventos suspeitos, em um bar na comunidade Pitanga dos Palmares, na área quilombola. Com as informações, um criminoso acusado de liderar o tráfico na região ordenou a morte de Mãe Bernadete aos executores.

O morador também facilitou a entrada dos autores no imóvel. Após o crime, um dos envolvidos facilitou a fuga de um dos atiradores e guardou as armas utilizadas no homicídio.

Entre os seis envolvidos, dois encontram-se com mandados de prisão em aberto e, portanto, foragidos. Outro teve a prisão solicitada ao Poder Judiciário. O executor ainda não localizado é fugitivo do sistema prisional e tem condenação por homicídios cometidos em Simões Filho e Madre de Deus.

O promotor de Justiça Luiz Neto, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco), afirmou que as investigações deixaram “fartamente comprovado que Mãe Bernadete morreu porque lutava contra o tráfico de drogas na região. Ela tinha uma legitimidade popular grande. Seus conselhos, orientações e decisões eram ouvidas pela comunidade a qual defendia”.

Questionada se a morte de Mãe Bernadete teria tido relação com a do filho, Binho do Quilombo, a delegada geral da Polícia Civil, Heloísa Brito, afirmou que a PC não pode se manifestar acerca desta outra apuração, que é de responsabilidade da Polícia Federal e corre sob sigilo.

Flavio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, foi assassinado em 2017, dentro de seu carro, em frente à Escola Centro Comunitário Nova Esperança, em Pitanga dos Palmares. O inquérito sobre o crime ainda está em andamento.

A polícia continua fazendo diligências para localizar os foragidos. Para colaborar, a população pode fornecer informações sem precisar se identificar, para o Disque Denúncia da Secretaria da Segurança Pública (SSP), ligando 181.

*Orientado pela subeditora Monique Lôbo