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Priscila Natividade
Anna Luiza Santos
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 06:34
Moradores e turistas estão assustados com violência que vem tomando conta da Ilha de Boipeba, na cidade de Cairu. A disputa entre facções que atuam no tráfico de drogas da região tem aumentando o clima de tensão em um dos destinos turísticos mais requisitados no Baixo Sul do estado, principalmente depois do tiroteio que resultou na morte de três homens na noite de sábado (30).
Um morador que preferiu não se identificar disse ao CORREIO, que já tem algum tempo que ele se sente preocupado com a segurança na ilha. “Eu não fico na rua, mas fiquei sabendo do tiroteio e o que dizem é que uma facção de Valença que está disputando aqui a área e eles estão entrando em choque. Eu acho que todo lugar que começa a ficar com o turismo em voga, acaba ganhando coisas boas com isso, mas também atrai essas coisas adversas. Eu tenho impressão que essa questão da violência, infelizmente, tende a piorar”.
morador de Boipeba
(não quis se identificar)Segundo informações da polícia, a suspeita é que os homens foram baleados durante uma troca de tiros entre facções rivais. Equipes da Delegacia Territorial de Cairu estão realizando diligências para identificar os autores das mortes de Luciano da Conceição Santos, de 21 anos, Wellington da Silva e Silva, de 27, e Marcos Souza de Jesus, 37.
De acordo com informações já apuradas, a disputa territorial pelo tráfico em Boipeba motivou o triplo homicídio. Inicialmente, a polícia havia informado que além dos três mortos duas pessoas haviam ficado feridas durante o confronto, informação que foi descartada no final da tarde deste domingo (01).
O ataque teria acontecido em represália à morte de Vinícius Lopes da Silva, 20 anos, no interior de um estabelecimento comercial em Valença. Vinícius, foi executado pela manhã em uma loja de roupas no bairro de Bolívia. A Polícia Civil também informou que a perícia já foi feita.
Em julho desse ano, o CORREIO mapeou 20 facções que disputam o tráfico de drogas em 19 cidades baianas. O levantamento feito pela reportagem foi baseado em ocorrências nas regiões, depoimentos de moradores e agentes de segurança. A maior parte das organizações criminosas estão em Salvador, mas com ramificações em outras cidades como por exemplo, o Bonde do Maluco (BDM), Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP), Katiara, Ordem e Progresso (OP) e A Tropa.
Outro morador afirmou que o problema maior está nos bairros onde essas facções atuam. “A segurança em Boipeba, em geral, é boa, tirando os bairros aonde atuam algumas facções. Evidentemente, essas áreas ficam mais perigosas. É um problema que poderia se resolver se existisse vontade política”, opinou.
Uma turista carioca que também pediu para não ser identificada pela reportagem está desde o início da semana passando as férias em Boipeba, onde fica mais alguns dias. Ela contou que ficou sabendo do que aconteceu. “Uma moça que estava hospedada em uma casa de uma moradora comentou comigo sobre o tiroteio e a briga de facção. Me disse que um cara que era piloto de quariciclo, que não tinha nada haver, morreu. Um chefe de uma facção também morreu e que tiveram pessoas feridas. Eu estou vendo helicóptero passando para cima e para baixo aqui”.
Ontem ela chegou a perceber um movimento menor de moradores na rua. “Como eu nunca tinha vindo aqui, eu não sabia ainda que esse movimento menor era por conta disso. Achei estranho ver os locais todos 'entocados' e só turista mesmo circulando. É isso que está rolando, o que eu fiquei sabendo. Esse povo vai chegando o verão, a galerinha de fora e eles querem vender drogas para quem tem condições de pagar. É nessa época que eles faturam, infelizmente. Estamos aqui hoje, mas amanhã vamos embora para passar alguns dias em Itaparica e Salvador”, comentou.
turista carioca
(não quis se identificar)A empresária e dona de pousada, que preferiu não se identificar por questão de segurança, relatou ao CORREIO que a tensão na ilha por conta dos assassinatos tem afastado os turistas. "Recebi uma família do sul do Brasil na quinta-feira e eles iam passar duas semanas aqui relaxando e curtindo. Ontem, por conta do ocorrido, eles ficaram assustados e decidiram comprar as passagens de volta mais cedo. Qual justificativa eu ia usar para manter eles aqui em meio a tanto terror?", confessou.
Já o proprietário de uma loja de artesanato e lembrancinhas, que também não quis se identificar, comentou sobre como a falta de segurança já tem impactado o bolso de quem trabalha no comércio da ilha. "Nesse domingo eu não vendi quase nada, porque nem os turistas se sentem seguros fora de seus quartos. Todo mundo com medo de levar tiro", contou.
O comerciante comentou que, em 15 anos nas vendas, essa é a primeira vez que a criminalidade atingiu seu clímax. "Se tem assassinatos aqui, não vai ter turistas. Se não tem turista, não tem dinheiro. E o meu medo é que essas disputas de facções se prolonguem e tomem mais espaço. Se for assim, acabou turismo por aqui", desabafou.
Dono de loja de artesanato e lembrancinhas
(preferiu não ser identificado)A Secretaria de Turismo de Cairu, cidade a qual Boipeba faz parte, foi procurada pelo CORREIO para se pronunciar sobre o impacto da crescente violência no turismo da ilha, contudo, até a publicação desta matéria, não obtivemos respostas.
Boipeba é parte de um arquipélago que pertence ao município de Cairu, que abriga 26 ilhas. Além de Boipeba, a ilha de Tinharé – onde fica Morro de São Paulo - tem se consolidado como grandes destinos paradisíacos do litoral sul do estado baiano. Com base nos dados da pesquisa de Tendências de Turismo da Embratur 2024, a Bahia ocupa atualmente a 4ª posição na preferência entre os turistas.