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Wendel de Novais
Publicado em 16 de abril de 2024 às 10:19
O terror virou rotina no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Após quase uma semana de tiroteios em Mirantes de Periperi, traficantes espalharam ameaças através de áudios enviados por aplicativos de mensagem, ordenando o fechamento do comércio na região, nesta segunda (15).
O Comando Vermelho (CV), que se estabeleceu no bairro e mira o avanço pela região, ocupando outras localidades, ameaçou enviar homens para regiões próximas a Mirantes de Periperi, como Alto do Tanque, Recanto da Urbis e da Rua da Jaqueira, o que não ocorreu.
Apesar da ameaça não ter se concretizado, os áudios apavoraram a população. "Não teve tiro e nem homem armado, mas só o áudio já assustou muita gente. Eu mesmo fiquei com receio, mas acreditei que era um exagero. A maioria fez o mesmo, mas teve colega que nem abriu o comércio hoje com medo de algo acontecer aqui na rua. Por enquanto, está tudo sossegado", disse um comerciante do Recanto da Urbis, que prefere não se identificar.
"A maioria de nós permaneceu aqui, mas teve gente que fechou as portas por conta da apreensão, que é comum quando áudios assim circulam. Infelizmente, no meio de muita violência, algumas pessoas acabam entrando em pânico com coisas que recebem na internet. Porém, a maioria das lojas ficou aberta até mais tarde, entre 19h e 20h", completou.
A precaução de interromper o funcionamento dos serviços não ocorreu só em lojas. A Escola Estadual Nelson Oliveira, também localizada no Recanto da Urbis, suspendeu as aulas nesta terça. Na porta, um funcionário confirmou que os alunos foram liberados, mas disse não saber o motivo. A Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) foi procurada pela reportagem para informar se a suspensão das atividades tinha alguma ligação com casos de violência recentes na área ou os boatos que circulavam na noite de ontem, mas a pasta não respondeu até o fechamento desta matéria.
Além de impactar a rotina dos moradores, a ameaça de toque de recolher acabou gerando também a disseminação de mensagens que depois não se comprovaram. A reportagem teve acesso a uma delas, na qual uma moradora do Recanto da Urbis relata ter visto "50 homens armados nas ruas", e que "todos os estabelecimentos comerciais estavam fechando as portas".
A reportagem foi até o local e conversou com comerciantes, que dizem não ter presenciado nada do tipo. A polícia também confirmou que tudo não passou de uma ameaça e que não existiu toque de recolher nenhum no local. Comandante da 18ª Companhia Independente de Polícia Militar, João Daniel Ribeiro, afirma que os áudios são uma forma do grupo criminoso estabelecer o terror no local.
”Eles acabam tentando implantar o medo de uma forma psicológica, ou seja, mandando mensagens e uma série de situações, mas a gente estava com o policiamento reforçado em toda a área aqui da 18ª e realmente não foi verificado nenhum tipo de situação como a que foi descrita no áudio”, garante o major.
Policiamento reforçado
Para prevenir novos ataques, a PM chegou a reforçar a segurança na região na noite de segunda. De acordo com a polícia, equipes da 18ª e da 31ª Companhias Independentes da PM, dos Batalhões de Choque e Patamo, do Bope e da CIPT/Rondesp BTS promoveram a intensificação das rondas e incursões na Baixada de Mirantes de Periperi e no Campo do Bambu. Houve também o apoio de helicópteros do Graer, mas não foram registradas prisões ou apreensões.
A medida conteve, no entanto, o que se projetava como um avanço do CV para as áreas onde o comércio teve ordem para fechamento. Em um outro áudio, um morador chega a relatar que precisou mudar o roteiro para casa por conta da ação de bandidos. Os criminosos teriam fechado a subida de Vista Alegre, nas imediações da Estrada do Derba.
"Estou voltando para casa. Cadê a polícia? Os vagabundos interceptaram a rua aqui da subida da Vista Alegre, eu quebrei aqui para o Hospital do Subúrbio e vou retornar lá em cima e descer por Paripe para voltar para casa. Sem condição, estão dizendo que vão tomar tudo hoje, já deram ordem até de fechar o comércio", relata um morador em áudio.
O policiamento segue reforçado na região para conter o conflito entre facções.