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Exposição 'Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira' chega a Salvador com 150 peças de mais de 60 artistas negros

Mostra tem início no dia 29, no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab)

  • Foto do(a) author(a) Monique Lobo
  • Monique Lobo

Publicado em 21 de março de 2025 às 17:23

Obra Perigeu - autorretrato com lua cheia, de Tiago Sant'Anna
Obra Perigeu - autorretrato com lua cheia, de Tiago Sant'Anna Crédito: Divulgação

Em meio às comemorações pelos 476 anos da capital baiana, a exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira traz um presente aos soteropolitanos. A mostra, que reúne cerca de 150 obras de 69 artistas, vai estar sediada no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), a partir do dia 29, como parte da programação do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A visitação acontece de terça a domingo, das 10h às 16h30, com entrada por R$ R$20 (inteira) e R$10 (meia). Clientes do Banco do Brasil têm direito à meia entrada e funcionários do banco, à entrada gratuita. 

As peças traçam um panorama da produção artística negra no Brasil, reunindo desde nomes históricos até expoentes contemporâneos. Em suas exibições anteriores no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, já recebeu mais de 300 mil visitantes, consolidando-se como uma das mostras mais assistidas do ano de 2024.

A curadoria é do pesquisador e curador Deri Andrade, responsável pelo Projeto Afro, plataforma que mapeia artistas negros no país. "A exposição propõe um olhar sobre a presença negra na história da arte brasileira e sua influência nas construções visuais do país. Salvador, com toda sua relevância histórica e cultural, era um destino essencial para essa itinerância. O Muncab, como espaço de referência, amplia ainda mais esse diálogo”, afirma Deri Andrade.

Além da exposição, a programação inclui a performance “Do Que São Feitos os Muros” (2020-2025), do artista Davi Cavalcante, que constrói um muro com tijolos gravados com palavras, criando uma reflexão sobre a construção das relações humanas e seus impactos nos territórios.

Obra Mais um ano próspero para fazer florescer o jardim, de Guilherme Almeida
Obra Mais um ano próspero para fazer florescer o jardim, de Guilherme Almeida Crédito: Divulgação

Salvador e a arte afro-brasileira

A escolha pelo Muncab para abrigar a mostra em Salvador intensifica o diálogo entre a produção artística negra e um território historicamente marcado pela presença afrodescendente. No espaço, as obras se inserem em um ambiente que ressignifica a memória coletiva da diáspora africana.

A disposição das obras da exposição segue a estrutura já apresentada em outras capitais, mas a conexão com Salvador imprime novos sentidos à mostra. A expografia, concebida pelo arquiteto e cientista social Matheus Cherem e realizada com a produção técnica e executiva de Vinícius Andrade e Vitória Mazzaro, desafia o cubo branco e o padrão estéril do mercado de arte, propondo um espaço de troca e sociabilidade. Nesse labirinto expositivo, o público é convidado a explorar as possibilidades sem caminhos predefinidos e com múltiplas leituras e experiências.

A mostra reúne obras que conectam tradição e contemporaneidade para visibilizar a identidade negra em diversas linguagens artísticas, como pintura, escultura, fotografia, instalação e vídeo. As obras estão organizadas em cinco eixos curatoriais: Tornar-se, que destaca o ateliê do artista e o autorretrato; Linguagens, dedicado aos movimentos artísticos; Cosmovisão, que aborda engajamento político e direitos; Orum, sobre as relações espirituais entre céu e terra no fluxo Brasil-África; e Cotidianos, que discute representatividade.

Entre os artistas homenageados estão nomes como os baianos Lita Cerqueira, Rubem Valentim e Mestre Didi, além de Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro) e Maria Auxiliadora (Minas Gerais).

O curador Deri Andrade destaca que, ao chegar a Salvador, a mostra se fortalece como um espaço de reconhecimento e valorização da arte afro-brasileira. “A cidade carrega consigo a história e a resistência da população negra no Brasil, o que transforma a experiência da exposição. Essa conexão se fortalece, especialmente com o trabalho de Lita Cerqueira, que há décadas registra a cidade e suas manifestações culturais. Apresentar suas imagens aqui é um reconhecimento da sua contribuição para a memória visual da cultura afro-brasileira” afirma.

Obra Saída dos Filhos de Gandhy carnaval de 1999, de Lita Cerqueira
Obra Saída dos Filhos de Gandhy carnaval de 1999, de Lita Cerqueira Crédito: Divulgação

Parceria

Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira é realizada pelo CCBB e o Muncab. O projeto, patrocinado pelo Banco do Brasil por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, possui apoio da BB Asset, tem concepção assinada pelo Projeto Afro e produção da Tatu Cult.

A exposição no MUNCAB acontece em um momento importante para o museu. Em 2025, a instituição receberá mais de 700 obras de arte afro-brasileiras repatriadas dos Estados Unidos.

A diretora artística do Muncab, Jamile Coelho, ressalta a importância dessa parceria e o impacto da exposição para o museu e para a cena artística da cidade. “A exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira afirma a arte negra como eixo central, não desvio. Sua itinerância para Salvador, a cidade mais negra fora da África, fortalece esse enraizamento e amplia o acesso a narrativas antes marginalizadas. O Muncab recebe a mostra como parte de sua missão de preservar, promover e difundir as expressões afro-diaspóricas”.

Para Júlio Paranaguá, gerente geral do CCBB Salvador, a itinerância reforça o compromisso da instituição com a valorização da cultura afro-brasileira e o acesso democrático à arte. “O CCBB tem como missão ampliar o acesso à arte e à cultura, e trazer ‘Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira’ para Salvador é um marco. A mostra oferece um olhar necessário e abrangente sobre a produção de artistas negros no Brasil, promovendo reflexões sobre representatividade e história. É uma honra contribuir para essa circulação e possibilitar que um público cada vez maior tenha contato com esse acervo”.