Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Raquel Brito
Publicado em 22 de janeiro de 2024 às 06:24
Desde o lançamento de Geraldo Júnior (MDB) como pré-candidato à prefeitura de Salvador no dia 21 de dezembro, eleitores de esquerda e setores políticos ligados ao petismo têm expressado resistência ao emedebista. Os críticos do vice-governador afirmam que, embora ele faça parte da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), a sua posição política de centro-direita gera incertezas em relação ao seu eventual mandato.
A falta de adesão de Geraldo Jr. a algumas pautas da esquerda deixa os eleitores apreensivos. Ele assumiu que, em 2018, votou em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais. No ano passado, quando já estava no grupo petista e mirava o apoio da esquerda para disputar o Palácio Thomé de Souza neste ano, ele voltou atrás e disse que tinha “arrependimento mortal” por ter votado no ex-presidente.
Durante participação em um podcast da Rádio Metrópole, o vice-governador falou também sobre o impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff, classificando a discussão se foi ou não golpe como uma “perda de tempo”.
Militante histórica do PT, a professora Geracina Aguiar questionou se Geraldo Júnior terá habilidade para conciliar as diversas ideologias num possível governo emedebista. “É um direito constitucional que ele se candidate. Agora, eu, socialista convicta, doutora em Ciência Política, faço a avaliação que ele não vai conseguir conciliar. Como ele pretende governar com um partido onde a maioria é socialista e progressista sendo liberal, sem (ele ter) nenhuma experiência com as esquerdas e com governos socialistas?”, indagou.
Na semana passada, a “Articulação de Esquerda”, uma das tendências do PT, pediu que o diretório nacional do partido suspenda o apoio ao vice-governador, com o argumento de que o regimento interno petista foi desrespeitado. O pedido fundamenta-se na premissa de que a deliberação sobre pré-candidaturas ou apoio a pré-candidaturas deve ocorrer até 60 dias antes da realização das reuniões partidárias. A data-limite, então, para o PT discutir o apoio a Geraldo Jr. seria 30 de novembro, quase um mês antes de ele ser anunciado como o nome da base governista para as eleições deste ano.
Membro da “Articulação de Esquerda”, Rodrigo Pereira disse que os filiados foram surpreendidos com o anúncio da retirada da pré-candidatura do PT para apoiar o emedebista. “Outros partidos podem até fazer dessa forma, de alguém ir lá, decidir por todos e ficar por isso mesmo. No PT, não é assim, é de outra forma que se organiza, outros métodos”, afirmou.
Ao admitir que há resistência dentro do seu partido a Geraldo Jr., o ex-vereador petista Moisés Rocha afirmou que alguns votos de esquerda vão migrar para o pré-candidato do PSOL, Kleber Rosa. “Resistência sempre vai ter. O PT é um partido fantástico porque não tem dono. Vai ter alguns que vão migrar para o candidato de esquerda (Kleber Rosa), mas não terá prejuízos maiores”, declarou.
A pesquisa AtlasIntel, divulgada no final do ano passado, dá respaldo ao argumento de Moisés Rocha de que a tendência é os votos de esquerda migrarem para Kleber Rosa. Segundo a sondagem de opinião, se a eleição fosse hoje, Geraldo Júnior teria 12% dos votos e o socialista 10%. O atual prefeito Bruno Reis (União Brasil) seria reeleito no primeiro turno com 51,9% dos sufrágios. O resultado do levantamento indica que pode ser o melhor desempenho do PSOL nas eleições de Salvador até hoje.
Na avaliação do cientista político Cláudio André, o perfil de político de centro-direita de Geraldo Júnior pode fazer com o que o eleitor, que costuma votar na esquerda, flerte com a pré-candidatura de Kleber Rosa. “A gente vai ter que observar qual é a capacidade do vice-governador de agregar esse arco mais amplo de alianças à direita e à esquerda? Do ponto de vista da relação ideológica, de propostas, de projetos de pré-campanha do vice-governador Geraldo Júnior, é necessário uma correção de alinhamento com o que pensa o eleitorado da esquerda”, afirmou.
Sem um nome competitivo para disputar a prefeitura de Salvador neste ano, esta é a terceira vez que o PT abre mão de candidatura própria desde a redemocratização do País. A última vez foi em 2016, quando a sigla decidiu apoiar a deputada federal Alice Portugal (PCdoB). Na época, a legenda passava por uma grave crise e enfrentava o impeachment de Dilma Rousseff. A outra vez foi em 1992 quando os petistas decidiram integrar a aliança de Lídice da Mata, naquele momento filiada ao PSDB.
Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva