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Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2024 às 17:22
Para marcar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, neste domingo (21), o Parque Pedra de Xangô foi sede de uma atividade especial. Um grande Xirê e um ritual de plantio de baobá ao som do Afoxé Omorobá e do Samba das Obás foram organizados por Mãe Diala, do Ilê Asè Baba Ulufan Alá, e Pai Josias do Ilê Asè Obá Paleomon. >
O evento contou com a presença das Matriarcas da Pedra de Xangô, que é um sítio natural sagrado afro-brasileiro, sede de uma Área de Proteção Ambiental e patrimônio cultural reconhecido pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) e patrimônio geológico de relevância nacional reconhecido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM).>
A advogada, mestra e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Maria Alice Pereira da Silva, é autora do livro "Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro", que compôs o dossiê de tombamento da pedra enquanto laudo etnográfico. Ela lembra que, lamentavelmente, o espaço, como o primeiro no Brasil a ostentar o nome de um Orixá, tem sido alvo de diversos atos de racismo religioso e intolerância religiosa. >
A data é uma homenagem a Mãe Gilda de Ogum, do Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado no Abaeté, que faleceu no dia 21 de janeiro de 2000, há 24 anos, em decorrência de problemas de saúde oriundos de agressões morais frutos da intolerância religiosa.>
“Dia 21 de janeiro não é dia de comemoração, mas de reflexão e mobilização pelo fortalecimento da luta contra o racismo religioso e intolerância religiosa. A Pedra de Xangô é um centro de convergência de diversos rituais privados, semipúblicos e públicos de uma gama de comunidades de terreiros que se comunicam e se conectam em rede. É, ainda, o lugar e a linha em que é tecida a teia dos terreiros de Salvador, tornando-se encruzilhada religiosa, comunitária e política do Povo de Terreiro da Cidade”, reforça a advogada.>
Lembrança >
O coordenador de Ações Transversais da Semur, Eurico Alcântara, é pai de santo do Terreiro Aloyá, também no Abaeté, e conviveu com Yá Gilda. “Relembrar esta data para mim que conheci e convivi com a Yá Gilda, é fazer uma viagem não só ao ano 2000, quando tudo aconteceu, mas há anos 70, quando a conheci. Ela é lembrada não só dia 21, mas todos os dias, pois passo sempre pelo busto e vivo isso todo dia. Quando hoje vemos que o ódio religioso ainda é instigado por alguém, assusta”, disse.>
“As pessoas precisam saber que a luta é todos os dias. A intolerância fere e mata. Se tem uma coisa que é devastadora na vida de um ser humano é a intolerância, principalmente religiosa”, afirma o coordenador. “Nós lutamos em prol da mulher, pelos orixás, inquisses, voduns, pelos encantados, e pela pessoa humana que são as ialorixás, as mulheres de maneira geral, e os homens”, concluiu.>
O presidente do Conselho Municipal das Comunidades Negras (CMCN), vinculado à Secretaria Municipal da Reparação (Semur), Evilásio Bouças, destaca a importância do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa: “A data não é uma comemoração, mas um dia para chamar atenção para que se busque ações, políticas públicas, conscientização das pessoas sobre esse tema que é tão doloroso. A gente precisa respeitar o outro, a diferença, a orientação religiosa, o que o outro acredita como importante para você.">
Em 2023, foi sancionada a Lei 14.532, que equipara a injúria racial ao crime de racismo e protege a liberdade religiosa, com pena de dois a cinco anos para quem obstar, impedir, ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas. A pena será aumentada a metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, além de pagamento de multa.>