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Estudante baiano descobre como fabricar papel com espada-de-são-jorge

Projeto foi reconhecido por uma das maiores feiras de ciências do país

  • E
  • Emilly Oliveira

Publicado em 22 de agosto de 2023 às 06:00

Nicolas percebeu que a planta poderia ser transformada em papel ao cultivar espécie em casa
Nicolas percebeu que a planta poderia ser transformada em papel ao cultivar espécie em casa Crédito: Paula Froes/ CORREIO

Fabricar papel a partir das fibras da espada-de-são-jorge. Foi o que o estudante baiano Nicolas Natale, de 16 anos, fez depois de perceber que a folhagem da planta seca tinha o mesmo aspecto das folhas produzidas pelos egípcios na Antiguidade, chamadas de papiro, usadas como superfície para escrita na época.

Enquanto a fabricação do papiro egípcio exigia um trabalho artesanal minucioso, o papel desenvolvido por Nicolas é feito de forma tão simples e eficiente que repercutiu nacionalmente e garantiu a ele a chance de apresentar o projeto na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em junho deste ano, em Curitiba.

De acordo com Nicolas, a fabricação tem cinco etapas: Depois de coletar as folhas sadias de uma espada-de-são-jorge, ele as tritura em um liquidificador com duas medidas de água para cada uma medida de folhas. A mistura é depositada em um molde de serigrafia - usado para impressão manual de telas - para ser moldada no formato de uma folha de ofício A6.

Fabricação de papel com espada-de-são-jorge por Arquivo pessoal

Por fim, o material moldado é colocado para secar em uma superfície que absorve água, como um pano de prato, e prensado entre duas placas de papelão, para deixar o papel liso o suficiente para ser escrito. Segundo Nicolas, a simplicidade e o baixo custo de produção foram pensados para que qualquer pessoa pudesse praticar a sustentabilidade em casa e para gerar soluções mais sustentáveis de fabricação industrial.

“É uma produção sustentável em todos os aspectos, desde a produção que não gasta muito, até o cultivo e a manufatura que podem ser feitos até na cozinha de casa. Eu pretendo buscar patrocínios para saber se o papel, com todas as suas características, realmente pode ser feito em escala comercial, porque a ideia é fazer cadernos e livros mais sustentáveis”, almeja Nicolas.

Todo o trabalho foi desenvolvido no Centro Juvenil de Ciência e Cultura (CJCC) de Salvador, onde Nicolas participa da oficina “Sementes da Bahia”, ministrada pela professora Laísa Brandão, à tarde, no turno oposto às aulas do 2° ano do ensino médio, no Colégio Central da Bahia, em Nazaré.

Laísa foi quem abraçou a ideia de Nicolas e o orientou para alcançar o bom resultado. Ela também o acompanhou na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e o ajudou a escolher o nome do trabalho: ‘Papel de Sansevieria trifasciata: folha, água e nada mais!’

Laísa e Nicolas no Centro Juvenil de Ciência e Cultura
Laísa e Nicolas no Centro Juvenil de Ciência e Cultura Crédito: Paula Froes

A professora explica que, se comparado com o papel convencional, feito a partir da madeira de eucalipto, a fabricação do papel de fibra da espada-de-são-jorge não apenas reduz a degradação do meio ambiente, mas também ajuda a recuperá-lo.

Por ser uma espécie que não gosta de competição, o solo onde a árvore de eucalipto é plantada se torna infértil para outras plantas, por isso, é preciso desmatar para ampliar o cultivo dela. Em contrapartida, a espada-de-são-jorge é benéfica para as regiões onde é plantada, porque consegue recuperar o solo degradado e purificar o ar do gás carbônico.

Já os custos de fabricação ainda não foram calculados pela dupla, no entanto, a diferença de tempo de crescimento entre as duas espécies indica que a fabricação do papel a partir da espada-de-são-jorge pode ser maior e, consequentemente, mais barato do que o papel produzido com eucalipto. Enquanto a árvore leva cinco anos para atingir a maturidade, a espada-de-são-jorge leva apenas dois.

“Isso nos mostra como é importante investir em espaços como o Centro Juvenil, para detectarmos essas pérolas e dar suporte para que elas se desenvolvam profissionalmente e como pessoas. Todos os meninos que estão aqui hoje, estão porque querem estar. Não tem nota, nem nada disso, mas tem a atenção que faz com que eles se interessem pela ciência”, destaca Laísa.

Foi a paixão pelo cultivo de plantas que levou Nicolas para o CJCC. Ele nasceu em Feira de Santana, mas foi criado em Salvador, no Rio Vermelho. Sempre estudou em escola pública ou como bolsista em algumas escolas particulares da capital baiana e sonha em ser biólogo. “Ainda estou avaliando para que área da biologia eu vou, mas, sem dúvidas, será para me dedicar à ciência e à pesquisa para fazer diferença na vida das pessoas”, almeja o estudante.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo