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‘Estamos abandonados’: passageiros denunciam incertezas após fim de linhas de ônibus metropolitanos

Entenda o que motiva o fim de 12 linhas de ônibus

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 11 de abril de 2024 às 05:15

Ônibus da empresa Costa Verde
Ônibus da empresa Costa Verde Crédito: Ana Albuquerque/CORREIO

Moradores de quatro cidades da Região Metropolitana de Salvador foram surpreendidos nos últimos dias com o anúncio do fim de 12 linhas das empresas de ônibus Avanço e Costa Verde. Juntas, elas respondem pelo transporte de mais de 2 milhões de pessoas por mês. Outras cinco empresas continuarão prestando o serviço, mas passageiros temem a piora da mobilidade entre os municípios e a capital.

Ana Julia Sobral, 23, mora em Lauro de Freitas e estuda em uma faculdade na Avenida Tancredo Neves. Todos os dias, ela percorre o trajeto entre as duas cidades e, para isso, utiliza uma das três linhas da empresa Costa Verde. “O serviço já é extremamente sucateado, com uma frota pequena para uma quantidade enorme de pessoas. Sem esses ônibus, o transtorno vai ser ainda maior. Já estou ansiosa sem saber o que será da minha vida”, desabafa.

A preocupação não é à toa. A empresa Costa Verde anunciou que vai deixar de operar todas as linhas a partir do dia 1º de maio, enquanto a Avanço está de aviso trabalhado e irá encerrar suas atividades no dia 3 de maio, segundo Mário Cléber, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da Região Metropolitana de Salvador (Sindimetro-BA). São elas: 846 (Lauro de Freitas X Lapa), 860 (Portão X Terminal Pituaçu) e 841 (Vilas do Atlântico X Campo Grande). As linhas funcionam há 26 anos. “As linhas hoje param na Estação Aeroporto e os ônibus seguem até Salvador. Mas, agora, vamos ser obrigados a parar no metrô, que vai ficar mais lotado”, completa Ana Julia Sobral.

As duas empresas atendem as cidades de Madre de Deus, Candeias, Camaçari e Lauro de Freitas. Os três trajetos que ligam Camaçari até Águas Claras, sob responsabilidade da Avanço Transportes, também deixarão de existir, o que preocupa Anna Carollyne Vieira. A empresa anunciou que 8 das suas 20 linhas vão parar de funcionar a partir do dia 15 (segunda-feira). “Todas as vezes que eu vou para Salvador, de lazer até emergências de saúde, eu pego o ônibus da Avanço”, conta.

Se a locomoção entre os municípios é alvo de críticas com sete empresas que fazem o transporte, a expectativa é que, com duas, seja pior. “O transporte é péssimo. Não tem rigor com horários, passam a hora que quer. É um absurdo com o trabalhador que tem compromissos. É normal ficarmos mais de uma hora esperando”, diz a moradora de Camaçari.

O urbanista José Lázaro de Carvalho explica que o fim das linhas representa uma tentativa de integração dos sistemas metroviário e rodoviário. “Há uma tentativa de racionalizar o sistema para que linhas metropolitanas não concorram com as linhas de Salvador dentro da capital. Na orla, isso até pode acontecer. Mas uma linha de Lauro de Freitas que passe pela Avenida Paralela não faz sentido, já que existe o metrô”, diz o urbanista, que é professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Para que a integração seja bem feita, no entanto, é preciso que o sistema tenha melhorias, segundo José Lázaro de Carvalho. “A reorganização do transporte público tem que ser planejada numa rede integrada ou a frequência dos ônibus é impactada. Os passageiros têm que ter confiabilidade, saber que um determinado ônibus vai passar no horário certo”, completa.

A Avanço Transportes comunicou, através das redes sociais, o fim da operação de oito linhas da empresa (veja abaixo), no domingo (7). O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da Região Metropolitana de Salvador, Alagoinhas e Paulo Afonso (Sindimetro-BA), tenta estender o prazo para o final deste mês. O Sindicato diz que mais de 2 milhões de pessoas utilizam os transportes por mês.

Cerca de 1,5 mil funcionários das empresas Costa Verde e Avanço estão em aviso prévio. A reportagem tentou entrar em contato com ambas, por telefone, mas não obteve retorno.

A Associação das Empresas de Transporte Coletivo Rodoviário do Estado da Bahia (Abemtro-BA) disse que só teve conhecimento do fim das 12 linhas através da imprensa e redes sociais. “Não recebemos nenhum comunicado oficial por parte das empresas nem do Poder Público de forma que não temos como nos pronunciar sobre o assunto”, pontuou. 

As empresas Expresso Metropolitano, Expresso Vitória, ATP, Univale e Atlântico continuarão operando normalmente, de acordo com a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba).

Crise

De acordo com o Sindimetro-BA, o fim das linhas de ônibus da empresa Costa Verde é resultado da determinação do Governo do Estado que impediu que os ônibus das empresas circulassem na orla, sendo obrigados a encerrar o trajeto no Aeroporto. “Os passageiros não vão ter mais ônibus para ir para a orla. Eles terão que utilizar o metrô e, no mínimo, outro ônibus. Podendo ser mais de um em alguns casos. A Avanço decidiu pelo fim das três linhas em seguida”, afirma

Desde 2017, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) tenta solucionar irregularidades no sistema de transporte intermunicipal. Em agosto do ano passado, o MP-BA ajuizou uma ação civil pública pedindo que a Justiça suspendesse as linhas metropolitanas da empresa Costa Verde. O Ministério Público foi procurado, mas não comentou o fim das atividades da empresa e da Avanço.

Em nota, a Agerba disse que permanece em negociações com ambas empresas. "Com relação à Avanço Transportes, em reunião do dia 9 de abril, ficou decidido que haverá a suspensão da entrega das linhas no prazo anunciado pela empresa, garantindo que a população não sofrerá descontinuidade do transporte metropolitano. Da mesma forma, continuam as tratativas com a empresa Costa Verde garantindo não trazer qualquer prejuízo à população", disse a agência reguladora.

No dia 30 de março, duas linhas metropolitanas (Portão X Terminal Pituaçu e Vila de Abrantes X Lapa) foram alteradas para operarem até o bairro de Piatã e retornarem para Portão e Vila de Abrantes, respectivamente. De acordo com a Agerba, a medida deu “continuidade à readequação das linhas metropolitanas em função da integração com o Metrô e em consonância com os acordos e Termos de Ajustes de Conduta firmados principalmente com o Ministério Público”.

No dia 27 de março, usuários do transporte público metropolitano foram surpreendidos com um reajuste de 8,11% da tarifa. O aumento da passagem foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) um dia antes de entrar em vigor.

Veja quais linhas vão deixar de funcionar 

Costa verde

846 - Lauro de Freitas - Lapa (via Avenida Centenário)
860 - Portão - Terminal Pituaçu (via Avenida Pinto de Aguiar)
841 - Vilas do Atlântico - Campo Grande (via orla)

Avanço Transportes 

A800 - Camaçari x Águas Claras (via BA-093)
A0812 - Camaçari x Simões Filho
A0813 - Candeias x Simões Filho
A814A - Camaçari x Águas Claras (via Parafuso)
A0834 - Madre de Deus/Candeias x Lauro de Freitas
A0835 - Distrito de Passé (Candeias) x Calçada
A0903A - Candeias x Outlet Premium (via Simões Filho)
874A - Simões Filho x Lauro de Freitas
811.URB - Candeias x São Francisco do Conde