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Thais Borges
Publicado em 24 de fevereiro de 2024 às 05:00
Entre os cientistas, há quase um consenso: não há como erradicar o vírus da dengue - ao menos, não enquanto houver grandes quantidades de mosquito por aí. Se houver vacinação efetiva em larga quantidade, porém, é possível um dia alcançar o que foi feito com a varíola. A doença foi eliminada em todo o mundo na década de 1980.
“As vacinas estão há anos sendo produzidas e até hoje não têm resultados. Essa vacina atual não resolve o problema. A epidemia de dengue no Brasil ainda está no início, ainda não atingiu seu pico”, alerta o virologista Gúbio Soares, coordenador do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
O que também é factível pensar é no controle da doença. Isso foi feito com a febre amarela no século 20. Ela foi eliminada do contexto urbano, de modo que, atualmente, só tem o ciclo selvagem.
"O mosquito foi eliminado do Brasil na metade do século 20. Entretanto, ele voltou e foi se expandindo para todo o território nacional de forma que hoje não é possível mais falar em eliminação do mosquito. Nós temos que tentar manter o nível de proliferação do mosquito mais baixo possível”, diz o médico sanitarista Claudio Maierovitch, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Segundo a coordenadora do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Salvador, Isolina Miguez, a cidade tem dois mil agentes de endemias que fazem esse trabalho nas ruas, mas ainda existe uma dificuldade quanto à conscientização da população.
"Tudo que você for fazer que possa armazenar água pode se transformar num criadouro, então a gente pede que a população observe se estiver circulando e encontrar algo com água. Se for algo como um tanque ou tonel, pode ligar para a gente no 156 e os agentes poderão fazer o tratamento com larvicida".
Algumas estratégias que eram populares no passado, porém, não são mais bem vistas atualmente. É o caso do uso indiscriminado dos inseticidas, com os carros do tipo fumacê, segundo o infectologista Guilherme Ribeiro, da Fiocruz. A medida não seria mais indicada porque não tem ação eletiva, ou seja, não eliminaria apenas o Aedes aegypti. Ela afeta outros tipos de insetos, o que pode gerar desequilíbrio ecológico, inclusive afetar insetos que trazem benefícios, como as abelhas com a polinização.
Além disso, o uso contínuo de inseticidas acaba selecionando mosquitos resistentes aos químicos, que serão aqueles que vão sobreviver às aplicações e se reproduzir. “Essas abordagens têm aplicações muito específicas e, em geral, as secretarias de saúde aplicam só nesses casos. Você pode borrifar numa rua com surto para controlar aquela transmissão, mas se é desordenado por rotina, você propicia o surgimento de insetos resistentes sem trazer grandes ganhos”.