Terceiro envolvido na morte de Mãe Bernadete é preso em Stella Maris

Café estava com uma pistola municiada e porções de entorpecentes, segundo a polícia

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Publicado em 24 de julho de 2024 às 07:00

Mãe Bernadete estava sofrendo ameaças
Mãe Bernadete estava sofrendo ameaças Crédito: Reprodução

Acusado de auxiliar no plano de execução da líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, Ydney Carlos dos Santos, conhecido como Café, foi preso na noite dessa terça-feira (23), no bairro de Stella Maris, em Salvador. Segundo a Polícia Civil, ele integrava a carta 'Dama de Ouros' do Baralho do Crime da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP).

Ele foi detido por policiais civis do Departamento Especializado de Investigação e Repressão ao Narcotráfico (Denarc). Com ele, também foram apreendidas uma pistola municiada e porções de entorpecentes.

“Café” teria auxiliado no plano de execução de Mãe Bernadete
Café teria auxiliado no plano de execução de Mãe Bernadete Crédito: Divulgação/SSP-BA

O acusado, que era alvo de investigações do Denarc por integrar um grupo criminoso responsável pelo tráfico de drogas na Região Metropolitana de Salvador (RMS), teve o mandado de prisão preventiva cumprido. Ele passou por exames de lesões e segue preso à disposição da Justiça.

A Polícia Civil informou que, ao todo, cinco homens são suspeitos de cometer o crime, sendo que três estão presos e dois seguem foragidos. Existe ainda um sexto envolvido que teria armazenado as armas utilizadas na execução. É Carlos Conceição Santiago, que está preso.

Com a terceira prisão, a Polícia Civil, agora, se concentra para localizar os outros dois suspeitos de envolvimento no caso. "Café se via como grande interlocutor entre o quilombo de Mãe Bernadete e Maquinista por seu envolvimento no tráfico e por, também, conhecer o primeiro filho da ialorixá. Na véspera do assassinato, 16 de agosto de 2023, Ydney e Mãe Bernardete tiveram uma discussão acalorada por conta da proibição da instalação de uma barraca como ponto de tráfico de drogas no quilombo, negada pela líder. Então, Café, quando soube da informação, articulou com os seus comparsas a execução de Mãe Bernadete", explicou a delegada-geral da Polícia Civil, Heloísa Brito.

Júri popular

Na terça-feira (23), o Ministério Público informou que três denunciados pelo assassinato da liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares vão a julgamento popular. A determinação judicial foi expedida na segunda-feira (22) pela 1ª Vara Crime de Simões Filho.

Os investigados foram identificados como Arielson da Conceição Santos, Marílio dos Santos e Sérgio Ferreira de Jesus. Eles serão julgados pelo Tribunal do Júri pelos crimes de homicídio qualificado cometido por motivo torpe, de modo cruel, sem possibilitar a defesa da vítima e para assegurar a execução. Arielson também responderá pelo crime de roubo. Os três réus integram uma organização criminosa, cujo líder seria Marílio dos Santos, conhecido como Maquinista, que ainda está foragido. Mesmo sendo procurado pela polícia, Marílio foi incluído na lista para o júri, pois tem advogado constituído.

Segundo a sentença judicial, a análise das investigações e das provas técnicas e testemunhais trazidas ao longo do processo aponta para existência de elementos relevantes e suficientes sobre a autoria dos crimes. O documento destaca também que, em “dezenas de oitivas de familiares e moradores da localidade Quilombo Pitanga dos Palmares”, foi “unânime o relato de que a vítima, fundadora e importante liderança da comunidade, era figura reconhecida pela luta referente ao assentamento, reconhecimento do quilombo e pelo combate à exploração ilegal de madeira e à prática de tráfico de drogas”.

Como estava foragido, Ydney Carlos dos Santos não faz parte dessa ação penal, pois o processo foi desmembrado. Ainda estão foragidos Josevan Dionísio dos Santos e Marílio dos Santos.

Relembre o caso

Mãe Bernadete foi assassinada no dia 17 de agosto de 2023, na sede da associação quilombola, na comunidade de Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho, na Região Metrpolitana de Salvador (RMS).

Segundo as investigações da ‘Operação Pacific’, realizadas pela Polícia Civil com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do MP e da 7ª Promotoria de Justiça de Simões Filho, a líder religiosa foi alvejada com 25 tiros de arma de fogo em várias partes do corpo, dentro da própria casa, onde estavam três netos dela, de 12, 13 e 18 anos.

As apurações chegaram a conclusão de que Mãe Bernadete foi executada porque se posicionou de maneira firme contra a expansão do tráfico de drogas na região e contra especificamente contra a construção da barraca ‘Point Pitanga City’, ponto de venda de drogas de Marílio e Ydney, edificada pelo grupo criminoso na barragem de Pitanga dos Palmares de forma ilegal, uma vez que o local é área de preservação ambiental.

As investigações tiveram o acompanhamento do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (CAODH) do MP. O Centro também acompanha as ações do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), do governo federal, executado na Bahia pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do estado (SJDH).