Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 2 de agosto de 2024 às 06:30
Além da denúncia contra uma tentativa de destituição da presidência da Irmandade da Boa Morte, o manifesto de reação em que constam as insatisfações de Joselita Alves, irmã e presidente eleita da confraria afrocatólica, apresenta uma contestação quanto ao vínculo de Celina Sala – advogada, ex-administradora e ekedi – com a irmandade. Segundo o texto, “apesar de se apresentar publicamente como irmã, a mencionada senhora nunca figurou efetivamente como tal”. >
A alegação feita no documento de denúncia afirma ser baseada em arquivos da entidade e no conhecimento popular. “Não há um único registro da senhora Celina com as vestes da irmandade ou ocupando oficialmente cargo na mesma”, diz um trecho. A informação é reiterada pelo historiador Cacau Nascimento, que afirma que Celina, apesar de sempre ter agido como benfeitora da irmandade, não cumpre os requisitos para ser uma irmã. >
“Os critérios para ser irmã são dois. O primeiro é que a mulher pertença a orixás ou voduns que tenham um relacionamento mítico ou cosmogônico com a morte e com o nascimento. Os orixás relacionados à morte são Ogun, Nanã, Obaluaê e Oxóssi. Quem estão relacionados com a vida são Oxalá, Iemanjá, Oxum, Iansã e Nanã, que transita nos dois planos. Também há pessoas que são consagradas a um vodum chamado Sogbó em ketu, que tem como correspondente Xangô no iorubá. Uma mulher de Sogbó pode ser irmã, uma de Xangô, não”, explica. >
O outro critério é que a mulher negra tenha uma relação de ancestralidade biológica ou sociológica de uma irmã já falecida. Em ambos os casos, Celina não atende ao que é necessário, mas ainda assim foi indicada como irmã pela falecida Mãe Estelita. >
“Celina não tem o perfil, mas é uma benfeitora da irmandade. Ela é ekedi de uma ialorixá de São Félix, chamada Ambrosina, que era integrante da Irmandade da Boa Morte. A mãe de Celina, que era uma senhora negra, tinha uma relação afetiva com a irmandade. Em 1986, quando houve o conflito entre a Igreja e a irmandade, Celina se inseriu na irmandade como advogada para defendê-la juridicamente e, a partir desse momento, ela se tornou a pessoa que resolvia as questões administrativas da entidade”, explica. >
Apesar do papel desempenhado como benfeitora, Celina nunca teve o poder de deliberar no que tange às questões religiosas, visto que a líder, nesse sentido, sempre foi a irmã mais velha da confraria. Ainda, de acordo com o historiador e outras fontes ouvidas pela reportagem, a advogada nunca chegou a ser presidente, mas já assumiu o cargo de procuradora-geral da entidade, além de sempre conduzir os processos financeiros relacionados a Festa da Boa Morte. “Ninguém delegou essa autoridade, ela se auto revestiu”, analisa Cacau Nascimento.>
A reportagem não conseguiu o contato de Celina Sala. O espaço segue aberto.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>