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Thais Borges
Publicado em 11 de novembro de 2023 às 05:00
Teoria da Resposta ao Item. Para os mais íntimos, apenas TRI. Se você vai fazer as provas do segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (12), conhecer - e entender - como funciona esta teoria pode fazer toda a diferença. Segundo professores das quatro áreas do conhecimento envolvidas nesta fase do exame, a TRI pode ser uma aliada até para quem não passou o ano inteiro estudando.
Isso porque ela implica um cálculo de nota diferente das provas tradicionais de vestibulares e concursos, que costumam ter notas proporcionais ao número de acertos. No caso do Enem, pessoas que acertaram o mesmo número de questões podem ter notas com até 200 pontos de diferença, em cada uma das áreas, já que o que mais importa é o perfil da questão. Garantir as questões fáceis - que, muitas vezes, são de assuntos bem elementares e até do ensino fundamental - é o melhor caminho.
Assim, até quem já saiu da escola há algum tempo pode conseguir uma nota satisfatória nas provas de Matemática e de Ciências da Natureza (que, por sua vez, inclui Biologia, Física e Química). Mesmo se a pessoa não estudou nada ao longo do ano pode ter uma chance, como explica o professor Mateus Lordêlo, de Física e Matemática do MSL Cursos.
"No Enem, por causa da TRI, uma quantidade básica de acertos pode oferecer uma possibilidade de bolsa do Prouni ou uma vaga na universidade pública. A gente está passando por uma situação em que algumas universidades públicas têm alguns cursos com dificuldades em preencher as vagas. Então, as pessoas podem se surpreender", explica.
A leitura é a mesma do professor de Biologia Digenal Cerqueira, do Colégio Bernoulli. Essa pode ser uma vantagem se a pessoa quiser cursar alguma graduação que tenha concorrência mais baixa ou mesmo intermediária. "A depender do curso que a pessoa queira, a TRI dá para salvar a nota. Num curso como Medicina ou alguma Engenharia mais concorrida, fica mais difícil porque a gente entende que tem pessoas há três, quatro anos, tentando uma vaga", pondera.
De acordo com o Ministério da Educação, a TRI pressupõe que, se o estudante tem um certo nível de proficiência, é provável que acerte as questões de menor dificuldade e erre as mais difíceis. Pelo sistema, quem erra todas as fáceis e acerta alguma difícil é visto como alguém que 'chutou' a resposta - ou seja, não sabia respondê-la. Por isso, a pontuação não é tão alta. Ao mesmo tempo, quem acaba definindo o que vai ser visto como fácil ou difícil são os próprios estudantes - as estatísticas vão indicar isso a partir das questões mais ou menos acertadas, respectivamente.
"A prova do Enem não é só conteúdo. É também estratégia, é conhecer a prova, porque é um processo avaliativo diferente dos demais", diz o professor Rodrigo Schiefler, de Matemática. Cada área do conhecimento, porém, tem uma estratégia própria. Por isso, a pedido do CORREIO, alguns dos principais professores do estado falaram sobre esses métodos e deram algumas dicas para quem deixou tudo para o último minuto.
Matemática, a prova conhecida pelas notas mais altas
A prova de Redação é famosa por ser aquela em que mais alunos já tiraram notas mil, no entanto, as maiores pontuações já feitas no Enem vieram da Matemática. Em 2016, por exemplo, um aluno de Teresina (PI) ficou famoso no Brasil inteiro por ter conseguido 1008,8 pontos - um recorde no exame. Desde o começo, porém, estudantes e docentes relatam que não é incomum que as notas sejam as mais altas, em comparação aos demais cadernos de questões. Enquanto as outras áreas não costumam passar de 900, Matemática com frequência tem alunos com pontuações maiores.
“Os estudantes gostam muito de falar em questões fáceis, médias e difíceis para a TRI, mas eu prefiro chamar de elementar, intermediária e complexa, porque acho que ser fácil é algo mais subjetivo”, afirma o professor Rodrigo Schiefler, que ensina em colégios como Mendel, Oficina, Bernoulli, Sartre, Concept e no curso Único.
Segundo ele, ao menos um terço da prova do Enem é de assuntos de Matemática básica - ou seja, aqueles ensinados até o 9º ano do Ensino Fundamental. Estão incluídos aí tópicos como as quatro operações simples, potenciação, radiciação, regra de três, razão e proporção.
“No ano passado, eu e um colega fizemos uma comparação e vimos que uma pessoa que só acertou a questão mais fácil da prova fez mais de 300 pontos com apenas uma questão. Depois, a gente pegou um estudante que acertou as 16 questões mais difíceis e ele não tinha feito mais do que 400 pontos”, conta.
Nesse mesmo levantamento, eles identificaram que o estudante que fez 16 acertos e conseguiu a maior pontuação fez mais de 700 pontos - ou seja, quase o dobro da pessoa que acertou a mesma quantidade, mas só com questões mais complexas. “Para quem diz que não é justo, a questão não é justiça, mas coerência. Pode ser que o estudante que acertou as 16 tenha feito a prova de forma consciente, tenha conteúdo. Mas não tem estratégia”, explica.
O importante, como lembra o professor de Matemática Pedro Paulo de Oliveira, do Colégio Vitória-Régia, é não deixar nenhuma questão em branco. “Mas o aluno deve focar bastante nas questões que, para ele, são mais tranquilas. Assim, ele garante a pontuação também das mais complexas”.
A ordem, portanto, é começar pelas mais simples, depois seguir pelas intermediárias e, por fim, as mais difíceis. Para ele, a prova de Matemática é mais objetiva do que as outras. “Tem questões que você resolve até fazendo a análise da alternativa, enquanto as questões de outras áreas requerem interpretação mais precisa”, completa.
Para o professor Pedro Paulo, se há um único tema para revisar neste sábado, seria estatística. Aqui, estão incluídas questões com gráficos e aspectos de moda e mediana. Já o professor Rodrigo Schiefler elenca que, dentre os assuntos mais recorrentes, seria importante focar em Matemática básica, com estatística, geometria plana e espacial.
Biologia, a prova que pode ser o trunfo em Ciências da Natureza
Desde 2009, quando foi instituído esse ‘Novo’ Enem, os conteúdos de Ecologia foram maioria nas provas de Biologia, em praticamente todas as aplicações. No entanto, nas últimas edições passou a haver mais diversidade de conteúdos - maior até do que em Física e Química, como explica o professor Digenal Cerqueira, do Bernoulli.
Apesar dessa variedade nos assuntos, segundo ele, nos últimos três anos, das 15 questões mais fáceis do Enem, pelo menos sete ou oito são de Biologia. “Não tem um assunto específico porque as mais fáceis podem ser de qualquer assunto. Mas o aluno que estuda todos os conteúdos consegue perceber que alguns conceitos básicos estão sempre ali”.
A professora Cristina Brandão, que ensina Biologia no Sartre SEB, na rede estadual e no curso Interseção, explica que a percepção que muita gente tem de que a prova de Biologia é a mais fácil das três de Ciências da Natureza é devido ao conhecimento geral que muitos estudantes têm.
Ainda assim, ela aponta mudanças de acordo com os últimos anos. Em 2022, por exemplo, um assunto que veio com força foi a Botânica. “Era explorado, mas não da forma intensa como veio no ano passado. Então, se o Enem tiver a mesma pegada do ano passado, vamos colocar também Botânica entre os principais”, afirma, citando ecologia, citologia, genética, fisiologia e biotecnologia/DNA.
“Se os alunos têm uma boa base no Ensino Médio, eles conseguem tirar de letra, porque geralmente é o que trabalhamos no Ensino Médio”, explica. A recomendação da professora Cristina de assunto para revisar no sábado é ecologia, que também costuma estar entre as questões mais fáceis.
O professor Digenal também sugere que a revisão seja de temas básicos, a partir de tópicos conceituais. “Olharia temas básicos de ecologia e evolução, que são coisas mais simples. Na véspera, não adianta colocar mais peso nas costas. O assunto do sábado seria descanso estratégico”, completa.
Física, em que vale começar pelas questões teóricas
Apesar do medo de muitos estudantes, a prova de Física não costuma ter os itens mais difíceis em Ciências da Natureza. Uma orientação é que sejam respondidas após Biologia e antes de Química. A física médica e professora Natália Goés explica que sempre recomenda que os estudantes comecem pelas questões teóricas - essas costumam ser mais fáceis, especialmente para quem tem dificuldade na matéria.
"Um exemplo como propagação de calor, às vezes, eles não conseguem aplicar as fórmulas de propagação de calor, mas conseguem entender os tipos e compreender, de forma exemplificada, os tipos de propagação existentes", explica.
Nesse sentido, vale pensar em aspectos que fazem parte da rotina. "O Enem é uma prova conhecida por trazer o nosso cotidiano. Então, se ele vai falar sobre dilatação, pode trazer o exemplo de um piso que dilata com o calor. Você pode usar o seu raciocínio lógico e a sua vivência para acertar essas questões teóricas", acrescenta Natália.
Nas questões mais fáceis, segundo ela, é comum que sejam abordados conteúdos como os de termologia, que inclui propagação de calor e conversão, e mecânica.
O que ocorre é que, muitas vezes, os estudantes têm dificuldade em Física na escola, de acordo com o professor Mateus Lordêlo. Por isso, acabam indo para a prova do Enem sem grandes expectativas e sem muita cobrança.
Assuntos que são mais recorrentes em provas de vestibular ao longo dos anos também podem estar em questões mais difíceis - isso porque, para tentar trazer algum ineditismo, as questões podem vir mais elaboradas. “Por outro lado, assuntos menos recorrentes, que normalmente precisam de conhecimentos químicos indiretos, como o eletromagnetismo, quando caem na prova, vêm de maneira bem direta”, analisa.
Na opinião dos dois professores, o conteúdo que deve ser revisado neste sábado é a parte de eletricidade, especificamente eletrodinâmica. Segundo o professor Matheus Lordêlo, uma boa opção para quem tiver um tempo disponível é ler as provas anteriores com o gabarito do lado.
“A TRI pode ser aliada para aquele aluno que sabe trabalhar com ela e que está disposto, mesmo com toda a dificuldade, mesmo sendo cansativo e mesmo não conseguindo se preparar como gostaria. Ele está no jogo, basta não desistir”, reforça.
Química, a prova que provavelmente será a mais difícil deste domingo
Muitos estudantes podem até ter mais medo de Física ou Matemática, mas é praticamente consenso entre professores que a Química tem os itens mais complexos. Segundo o professor Rodrigo Rêgo, que ensina Química nos colégios Bernoulli, Vieira e Sartre, em geral, as questões da área ficam com níveis intermediário e difícil.
“Pela análise estatística, você encontra questões mais fáceis na prova de Biologia, seguido da prova de Física”, diz ele, que é um dos coordenadores do Cine Aulão, uma mega revisão que acontece neste sábado (11), promovida pela Unijorge, nas salas de cinema do Cinemark do Salvador Shopping.
Por isso, a dica é deixar as questões de Química por último, já que muitas delas podem valer menos na pontuação final. “Como estratégia para Naturais, eu diria para priorizar a prova de Biologia, que tem, tradicionalmente, questões mais fáceis, seguir por Física e deixar Química por último”, orienta.
Além disso, se uma questão tem muitos dados no enunciado, provavelmente terá um grau de dificuldade maior e pode envolver cálculos. Para o professor, uma estratégia pode ser pular itens como esse e deixar para respondê-los numa segunda leitura da prova, depois de já ter feito todas as questões fáceis.
Na avaliação do professor Carlos Salinas, do Colégio Vitória-Régia, porém, ainda é possível, dentre as 15 questões de Química, identificar quatro que podem ser consideradas mais fáceis. Em média, outras sete costumam ser medianas. “Se o aluno tem um excelente desempenho acertando todas as fáceis e indo bem nas medianas, já teria uma boa pontuação”, calcula.
Por outro lado, se o estudante teve um desempenho ruim nas intermediárias e acerta, por exemplo, duas questões difíceis, é pouco provável que essas mais complexas façam alguma diferença grande na nota. “Essa forma de correção acaba contemplando alunos que são mais assertivos. Os alunos que vão como franco atiradores, infelizmente, acabam tendo notas mais baixas”.
Ou seja: se for para chutar, que sejam as questões com mais complexidade. Em Química, é possível que essas questões abordem reações orgânicas, cálculo estequiométrico e cálculo de soluções. Muitas, inclusive, reúnem dois ou três conteúdos em um único item.
“Tem alguns conteúdos que, pela simplicidade, costumam aparecer nas questões mais fáceis, como métodos de separação de misturar e a parte introdutória da química orgânica. Questões de termoquímica também são de fórmula direta”, diz Salinas.
Além disso, uma recomendação é começar lendo a questão pelo chamado comando verbal - ou seja, a frase final que indica a pergunta antes das alternativas. Isso pode ajudar a identificar palavras-chave e reconhecer a resposta mais rapidamente. “Quando você pensa em caderno por área, o número de acertos na prova de Química acaba sendo mocinho e vilão. Quando você está muito bem em Química, sua nota vai lá para cima. Se não, acaba comprometendo as outras duas", afirma Salinas.
Na véspera da prova, o professor Rodrigo Rêgo sugere que alguém que não estudou ao longo do ano pelo menos dê uma olhada nas provas de três anos anteriores, para conhecer o modelo de questões e saber o que costuma ser cobrado. “Milagre na prova do Enem não existe. É uma prova muito bem elaborada e que existe um certo grau de preparo. Na véspera da prova, é muito difícil conseguir recuperar um ano de preparação”, pondera.
Mas se há um único assunto que ele recomenda a revisão seria de propriedades dos compostos orgânicos. “Em Química, infelizmente não tem uma questão que eu possa dizer que é provável vir mais fácil. Nos últimos anos, propriedades de compostos orgânicos aparecem com frequência e normalmente são questões médias”.
Para não esquecer
Dia 2 do Enem: provas de Matemática e Ciências da Natureza
Horário: os portões abrem às 12h e ficam até 13h. As provas começam pontualmente às 13h30, em todo o Brasil.
Duração: 5 horas
O que levar: caneta preta de tubo transparente, documento oficial com foto, água e lanche.