Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 10 de novembro de 2024 às 20:15
Uma questão de física sobre eletrodinâmica deve ser anulada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Segundo professores, o enunciado, que constava no caderno de questões deste domingo (10), não tem resposta correta por falta de consistência nos dados.
A questão pede que o candidato calcule a eficiência de uma cafeteira, considerando que não há perdas de energia, para saber quanta energia foi realmente usada para aquecer a água em relação à energia fornecida pela cafeteira. Trata-se da questão de número 100 no caderno cinza, 102 no caderno amarelo, 124 no caderno verde e 129 no caderno azul.
De acordo com Idelfranio Moreira, gerente executivo de Ensino e Inovações da SAS Educação e especialista em Física, o erro fica evidente quando é feita uma análise minuciosa da questão. "Se você analisar os dados direitinho, o tempo que ele diz que a cafeteira funciona não produziria com esta potência o aquecimento que ele descreve. Então [o dado] é inconsistente para encontrar uma resposta e calcular o que ele pede", explica.
O professor Alexnaldo Neves, que atua no Colégio Antônio Vieira, detalha o erro na resolução da questão. "Eles forneceram a potência nominal, que é a potência total que fica registrada no aparelho, de 700 watts. Essa informação deve ter no aparelho porque é isso que o aparelho vai consumir. Quando a gente vai aquecer água na chaleira, a potência utilizada para aquecer a chaleira não chega a esse valor, é sempre menos", afirma.
"Para calcular a potência útil a gente tem que fazer o calor sensível dividido pelo tempo e isso dá 933,33 watts, o que é impossível. Você não pode ter uma potência útil maior do que a potência total do aparelho. Quando você faz a conta do rendimento, o rendimento é a potência útil sobre a potência nominal, dá 1,33 e isso está errado, porque não pode nem chegar a 1, é sempre abaixo de 1. Não existe máquina térmica que opera a 100% de eficiência", enfatiza.
De acordo com Alexnaldo, é possível obter a resposta da questão, mas de forma errada. "Se a gente acertar a conta do rendimento, colocando a potência nominal em cima e a última em baixo, de acordo com o cálculo que foi feito, a gente vai achar 0,75. Aí é 75%, que é a letra B. Então, veja que para achar a alternativa que está no Enem, o aluno tem que fazer o cálculo do rendimento de forma errada. É por isso que essa questão precisa ser anulada", frisa.
Caio Félix, professor de física, começou a questão calculando o calor específico necessário para a cafeteira ter variação de temperatura, e chegou ao valor de 168 mil Joule (J), a partir da multiplicação da massa (500g), quantidade de calor (4,2 J) e variação de temperatura (80ºC). Depois, ele calculou o calor fornecido pelo aparelho e chegou ao valor de 126 mil J, o que é menor do que o calor necessário para a cafeteira ter uma das eficiências energéticas cogitadas como resposta. "O calor necessário na questão é 168 mil, então é um problema de formulação na questão. Por isso, tem que ser anulada", defende.