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Em pleno verão, lambreta está em falta nos bares e restaurantes de Salvador

Saiba o que está por trás da ausência da iguaria baiana nos estabelecimentos da capital

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 05:00

Lambreta está em falta na capital baiana
Lambreta está em falta na capital baiana Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Sexta-feira chegou, e não faltam baianos contando as horas para sentar em uma mesa de bar e pedir uma cerveja gelada. O que está escasso, na verdade, é um item do cardápio que combina com o momento de descontração: a lambreta. Donos de restaurantes e bares de Salvador relatam que comprar o molusco está cada vez mais difícil, causando prejuízo durante a alta temporada.

Fornecedores alertam empresários sobre as dificuldades em encontrar a iguaria desde setembro do ano passado. O problema foi intensificado nas últimas semanas, quando a demanda aumentou. A pesca da lambreta é feita, sobretudo, por marisqueiras no Baixo Sul e Recôncavo da Bahia, de forma artesanal. Clientes já reclamam da ausência em Salvador. 

Quando a vontade de beber o caldo da lambreta bateu, a biomédica Fernanda Carvalho, 37, estava em uma barraca de praia em Stella Maris, na última semana de 2024. Foi surpreendida com a resposta do garçom, que disse que o produto estava em falta. E sem previsão de normalização. A situação se repetiu em outros dois restaurantes - todos que possuem a lambreta como item fixo do cardápio.

Na terceira tentativa, que aconteceu no Dois de Julho, na quarta-feira (8), Fernanda não resistiu, e perguntou: “Vem cá, não tem mais lambreta em Salvador, é?”. Depois de conversar com donos de estabelecimentos, fornecedores, especialistas e consumidores, descobrimos que até tem lambreta, mas encontrar o produto está cada vez mais difícil. E o preço disparou por conta disso. 

Eliene Cunha, dona do Koisa Nossa, restaurante na Mouraria que tem a lambreta como carro chefe, conta que os pedidos aos fornecedores não estão sendo cumpridos. “Na semana passada, fiz um pedido de 100 dúzias e chegaram só 30. Os clientes sentam, pedem e, se não tem lambreta, vão embora”, diz. A empresária até tenta avisar que a falta é generalizada, mas os clientes, principalmente turistas, saem em busca nos restaurantes vizinhos.

O produto não tem mais durado o dia inteiro, como era comum, e o estoque da cozinha termina por volta das 13 horas. “E logo quando Salvador está lotada, no verão. A demanda está enorme, e não conseguimos encontrar o produto”, lamenta Eliene Cunha. As lambretas graúdas estão cada vez mais raras, e as iguarias servidas aos clientes são pequenas - e caras. Eliene pagou R$20 por uma dúzia, na última compra, sendo que a média é R$12.

Um problema, muitas questões

Apontar uma razão para a ausência da lambreta em bares e restaurantes de Salvador não é simples. Especialistas avaliam que a mão de obra nas cidades baianas é insuficiente, e não acompanha o aumento da procura na alta temporada.

“Estamos no auge do verão e a lambreta está sendo muito requisitada. A produção, que é artesanal, não consegue acompanhar a demanda”, diz Roberto Pantaleão, assessor técnico da Bahia Pesca. Isso não acontece apenas com as lambretas. A procura por ostras também cresce no verão, como mostrou reportagem do CORREIO. 

Os manguezais de cidades como Cairu, Valença, Taperoá, Nilo Peçanha e Maragogipe são os principais locais de exploração. Na vila de Guarapuá, na Ilha de Tinharé, marisqueiras coletam lambreta há mais de 30 anos. A pesca e a mariscagem são as principais fontes de renda e alimento dos moradores da localidade, conhecida como "santuário" das lambretas

Roberto Pantaleão explica que as lambretas, que tem como nome científico Lucina pectinata, fazem parte do grupo de animais bioindicadores, sensíveis às mudanças climáticas. “Os mariscos de duas conchas são os primeiros a sentir qualquer alteração no meio ambiente. Se ocorrer uma enxurrada, por exemplo, eles ficam fechados durante dois ou três dias. E não suportam agressões mais severas”, explica.

A Bahia Pesca não recebeu alertas sobre redução da oferta de lambretas, mas é possível que alterações climáticas contribuam para a escassez. Ricardo Oliveira, dono do Boteco Lambretão, em Itapuã, diz que animais filhotes têm chegado ao restaurante através dos fornecedores.

“Desde setembro, encontrar lambreta para comprar está complicado em Salvador. As que chegam são pequenas, o que significa que não estão se desenvolvendo do jeito certo nos mangues”, afirma. Outro problema, segundo ele, é que os fornecedores têm optado por vender o alimento para estabelecimentos próximos ao local onde o marisco é encontrado. Nem sempre é vantajoso transportar quantidades menores para a capital. 

O modo de preparo mais comum é a lambreta cozida ao bafo, mas também pode ser servida gratinada, frita e servida com massas. Enquanto a oferta do molusco não é normalizada, amantes do alimento percorrem via crucis para se deliciar com a iguaria tipicamente baiana.

“Vou continuar procurando porque a última vez que comi foi ano passado, e a vontade só aumenta”, diz a biomédica Fernanda Carvalho.