Em menos de um mês, Teatro Vila Velha registra cinco roubos; prejuízos devem ultrapassar R$ 10 mil

Equipamento cultural perdeu cabos, fios de cobre e até esquadria por conta da ação criminosa

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  • Larissa Almeida

Publicado em 23 de agosto de 2024 às 05:00

Fachada do Teatro Vila Velha ficou sem a esquadria que o identifica após último roubo Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Faz menos de um mês desde que o Teatro Vila Velha completou 60 anos de história, mas o clima comemorativo se esvaiu depressa. Isso porque, também em menos de um mês, o equipamento cultural registrou cinco casos de roubo. Quatro deles, inclusive, ocorreram nos últimos cinco dias. O mais recente se deu na madrugada desta quinta-feira (22), quando criminosos invadiram o espaço e levaram a esquadria de alumínio do letreiro do Cabaré dos Novos – como é chamado o segundo palco da casa de espetáculos. A estimativa inicial é de que os prejuízos recentes ultrapassem o valor de R$ 10 mil.

Situado no Passeio Público, no Campo Grande, o Vila Velha lida há muitos anos com as consequências da insegurança que assola a região central de Salvador, de modo que é difícil precisar quando a onda de roubos teve início. Só neste ano, Márcio Meirelles, diretor do teatro, estima que houve pelo menos 15 ocorrências. A sequência registrada nos últimos dias teve início com um furto no final de julho.

“Primeiro, roubaram os cabos da eletricidade e ficamos efetivamente uma semana sem luz. No sábado, eles arrombaram a janelinha da bilheteria e o cadeado da casa das máquinas para roubar os cabos, inclusive do ar-condicionado, que fica na parte externa da casa”, relata Vânia Paixão, funcionária do setor financeiro do teatro.

Na madrugada da última terça-feira (20), os meliantes voltaram a roubar cabos de fios e, na quarta-feira (21), levaram a lona que identifica o Vila Velha em sua fachada. Nesta quinta-feira, além da esquadria, também foram subtraídos fios de cobre. Segundo Tiago Basto, coordenador-geral do espaço, a ação dos criminosos ocorreu mesmo com a presença de câmeras de segurança.

“Temos câmeras de segurança que não pegam todos os ambientes, mas alguns nós conseguimos pegar, embora isso não os iniba. Eles continuam fazendo. Sempre agem de madrugada e, à distância, fica difícil fazer qualquer reconhecimento”, diz Tiago, sem esconder a frustração.

A equipe do teatro ainda conta que sofreu com a quebra de uma porta de vidro blindex e o arrombamento de uma janela com vista para o foyer da parte inferior do espaço, que causaram um prejuízo de aproximadamente R$ 4,6 mil. Segundo Tiago, só o roubo da última quinta-feira vai custar mais de R$ 2 mil, de modo que o saldo de prejuízo deve ser maior do que R$ 10 mil após a realização de todos os cálculos.

Janelas ficaram quebradas Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

O coordenador afirma que estão pendentes os registros das ocorrências dos últimos três dias, mas todos os outros casos foram denunciados à polícia. No entanto, ele admite que não pretende depender apenas da segurança pública. “Estamos reforçando mais uma vez com a polícia para ver o que conseguimos, mas estamos vendo outras alternativas. Afinal, câmeras de segurança têm se mostrado insuficientes”, afirma.

Impactos

Além do custo pelo conserto do que foi quebrado e pela reposição daquilo que foi perdido, os impactos dos roubos ao Teatro Vila Velha também se manifestam na sensação de medo que acompanha cerca de 60 pessoas que frequentam o equipamento cultural diariamente, mesmo após o fechamento para os reparos estruturais promovidos pela Prefeitura de Salvador no ano passado. Esse é o caso de Vânia Paixão, que sempre fica em alerta na hora de saída do trabalho. “A sensação é de insegurança mesmo. Não está nada fácil para a gente”, pontua.

Para o diretor Márcio Meirelles, as raízes do problema estão no abandono do Passeio Público, bem como do restante de outras regiões do centro de Salvador. “O Passeio Público é uma área verde no centro da cidade que poderia ser aproveitada pelos moradores do entorno e visitantes, tendo um espaço para criança, idoso, encontros e eventos, mas virou um grande estacionamento. Tem carros em cima dos canteiros e as calçadas estão todas quebradas. Os espaços vazios estão sendo ocupados por pessoas vulneráveis e em situação de rua, que precisam de atenção também”, reivindica.

Meirelles reconhece que há um temor no ar por parte da população diante de toda essa situação, mas acredita que os efeitos negativos ainda estão sendo sentidos com menor peso porque o teatro não está aberto ao público. “Quando estávamos com espetáculos, víamos que as pessoas tinham um certo receio de vir para cá. Isso mostra que esse já é um problema que tem muito tempo, infelizmente”, lamenta.

A estimativa é de que as intervenção no espaço sejam concluídas em julho de 2025. O esticamento da obra se deu em virtude da sua complexidade, uma vez que será necessário o emprego de renovações completas em algumas estruturas, o que demandou a reestruturação do projeto. Até a reabertura para o público, o Teatro Vila Velha contará apenas com o setor administrativos e com integrantes de oficina, e o diretor não descarta a contratação de uma empresa de segurança privada. “Se nada mudar, vamos ter que contratar”, diz.

Polícia diz que região já conta com reforço

Em nota, a Polícia Militar disse que a unidade tem intensificado o policiamento em toda a região para combater ações criminosas com o apoio da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT), Rondesp BTS e de unidades especializadas e convencionais, como o Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur).

Ainda, disse que o comando da unidade tem promovido reuniões com as associações de moradores da região com o intuito de ouvir as demandas de cada localidade e direcionar o efetivo de forma inteligente. Por fim, a corporação ressaltou a importância do acionamento e registro da ocorrência junto à delegacia que atende ao bairro.

A Polícia Civil foi procurada pela reportagem para informar se há ações de policiamento em curso na região que abriga o Teatro Vila Velha, mas direcionou a demanda para a Polícia Militar. A Secretaria de Segurança foi procurada para a mesma solicitação e não respondeu até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo