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Educação nota 3: Bahia fica entre piores no ranking nacional

O pilar avalia as condições educacionais do país e o estado ocupa a antepenúltima posição em relação a taxa de frequência líquida no Ensino Médio

  • M
  • Y
  • Millena Marques

  • Yasmin Oliveira

Publicado em 17 de janeiro de 2024 às 06:00

A educação da Bahia ficou entre os dez piores do país, superando apenas o Amazonas, Acre, Roraima e o Amapá, conforme o Ranking de Competitividade dos Estados e Municípios 2023, divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).

A Educação é um dos dez pilares do levantamento, mas em razão de sua importância econômica e social, o pilar possui o 4º maior peso do ranking (11,5% do total). De acordo com o Ranking, ele avalia as condições atuais da educação do país e para a sua construção são utilizadas as informações dos portais de cada programa de avaliação estadual, que são checadas com as secretarias estaduais de educação.

Neste pilar, a Bahia se manteve na terceira pior posição em relação a taxa de frequência líquida do Ensino Médio e subiu para a 16ª posição quando olhamos mesmo indicador no Ensino Fundamental.

Segundo a especialista em educação Claudia Cotin, são três fatores que podem levar um estudante a não frequentar a escola. O desengajamento nos estudos, o sentimento de que não está aprendendo, necessidades econômicas ou até mesmo a soma de todos.

“A baixa frequência não está ligada a uma escola chata, como alguns poderiam supor, mas uma escola que tem baixas expectativas de aprendizagem em relação aos alunos. Se eu espero pouco dos alunos, muito provavelmente esses alunos vão se sentir diminuídos na sua capacidade de aprender. Quando a escola se organiza de verdade para o aprendizado, com os professores sendo preparados para um bom ensino e esperando de todos os alunos, e não só daqueles que já nasceram ‘motivados’, a frequência irá aumentar porque o aluno enxerga o sentido da escola”, explica Claudia.

A especialista relata que não existe um número de faltas que seja internacionalmente reconhecido como aceitável, mas o ideal é que a maioria dos alunos tenham mais de 80% de frequência.

“Quando um aluno está com baixa frequência, cabe a escola olhar para isso com muita seriedade. Em primeiro lugar, acionando a família, e isso deve ser algo que a direção da escola, alertada pelos professores, faça de imediato. Um jovem fora da escola tem que ser considerado um problema social grave, mesmo quando for apenas por alguns dias, desde que isso ocorra de forma recorrente. A vigilância é importante não só da escola, mas inclusive da sociedade. Nós, cidadãos, deveríamos nos indignar quando um jovem não conclui a sua escolarização obrigatória, que é terminar o ensino médio e, de preferência, com pouco atraso escolar, ou seja, não conseguir estar até o final dos 17 anos na escola, pelo menos. Senão, ele não constrói o seu futuro”, diz a especialista.

O abandono escolar acontece, em sua maioria, no Ensino Médio, quando o jovem adolescente possui uma certa autonomia. De acordo com Claudia, a pandemia de Covid-19 agravou a situação, pois com dois anos em que as escolas estavam totais ou parcialmente fechadas, os jovens começaram a trabalhar e conseguiram acrescentar dinheiro em seu núcleo familiar.

“E isso trouxe consequências graves, porque a Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendou que na retomada das aulas houvesse uma busca ativa desses alunos. Muitos estados fizeram essa procura ao conversar com as famílias e mostrar para o jovem que ele não constrói seu futuro se ele não volta para a escola. Essa busca ativa tem que começar não só quando o aluno já abandonou, mas quando ele começa a faltar de forma sistemática”, conta.

Para evitar que o aumento dessa taxa de frequência líquida, é preciso criar mecanismos para que os alunos permaneçam nas escolas. Para a especialista, tornar o ensino mais engajador para que o estudante possa entender o sentido do que está sendo ensinado para seu futuro é algo que pode ser implementado.

A Base Nacional Comum Curricular estabeleceu que algum tempo das aulas deve ser reservado para discutir, a partir do Fundamental 2, mas no ensino médio com mais força, o projeto de vida do aluno. A discussão deverá embarcar como o aluno enxerga a construção do seu futuro e como ela pode ser realizada.

“Se você não trabalhar com ele, a ideia de que ele quem vai construir o seu futuro não vai ser a escola, não vai ser o seu professor, vai ser ele mesmo, mas para isso a escola deve prepará-lo. Em tempos de chat GPT e inteligência artificial, não ter concluído o ensino médio com qualidade, não vai preparar esse jovem nem para o mundo do trabalho, nem para um exercício consciente de cidadania”, finaliza.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo