Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Millena Marques
Publicado em 22 de dezembro de 2023 às 17:26
Depois de 13 anos, Beyoncé voltou a pisar em território soteropolitano e emocionou centenas de fãs, que se reuniram no Centro de Convenções de Salvador, na Boca do Rio, para o evento de promoção do documentário sobre os bastidores da última turnê mundial da estrela, realizada em 2023, o “Renaissance: A Film by Beyoncé”. O fato de ter escolhido a capital baiana como a cidade de lançamento da produção cinematográfica é simbólico, representativo e de um potencial de visibilidade local extremo, como pontuam fãs, produtores culturais e representantes do movimento negro. >
Beyoncé subiu ao palco do Club Renaissance, nome do evento feito para os fãs da cantora, por volta das 23h, na última quinta-feira (21). Antes disso, a presença da estrela norte-americana era apenas uma especulação do público e da imprensa. Vê-la de perto foi a realização de um sonho para o jornalista Danilo Isaac da Silva, 22 anos, fã da cantora desde os cinco anos. >
"São 18 anos de história. Ela esteve presente em cada fase durante esses anos, cada canção me remete a um momento da minha vida. Guardo grandes memórias afetivas, eu a tenho como uma figura materna", afirma, emocionado. >
A escolha de Salvador é mais que simbólica. Isso porque o álbum Renaissance, que deu nome à turnê mundial, é uma celebração à cultura negra e, fora do continente africano, não há cidade mais preta no mundo do que a capital baiano, como pontua Danilo Isaac e confirmam os dados do último Censo Demográfico do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram divulgados na apresentação da pesquisa “Minha Cor, Minha Raça”, na Casa do Olodum, no Pelourinho, nesta sexta-feira (22). >
De acordo com o levantamento, 83,2% dos habitantes de Salvador são negros - quase metade da população se declara como parda (1.186.416 em números absolutos) e 825.509 pessoas se autodeclaram como pretas. Apenas 16,5% (398.688 pessoas) declararam sua cor como branca; 0,2% (4.395 pessoas) afirmaram ser indígenas apenas no quesito cor ou raça; enquanto 0,1% (2.605 habitantes) declararam sua cor como amarela.>
"Celebrar a cultura negra, junto com artistas locais, com fãs tão apaixonados, na minha cidade natal e na presença da maior potência musical da atualidade, foi mágico. Uma noite jamais será esquecida por mim, nem pela Beyhive e muito menos pela Bahia", complementa Danilo Isaac. >
A estudante universitária Elaine Alves, 20 anos, passou a infância ouvindo as músicas da Bey e reproduzindo as coreografias ao lado das primas, mulheres pretas como ela. "Ver uma mulher preta chegar onde ela chegou me inspira a continuar, as músicas dela me movem e tudo que ela prega me faz acreditar em mim e nunca desistir dos meus sonhos", pontua. >
Ter a oportunidade vê-la foi a realização de um sonho, nutrido por amor à representatividade da estrela pop. "Eu não esperava que ela fosse realmente aparecer, pensei que teríamos um anúncio ou um vídeo dela mas ela veio mesmo e foi muito lindo. Esse momento foi inesquecível. Foi o dia mais feliz da minha vida!", afirma.>
A noite do dia 21 de dezembro de 2023 entra para a história de eventos internacionais no estado. O co-fundador da empresa de investimentos em aplicações financeiras Vale do Dendê, Paulo Rogério Nunes, compara o evento com a visita de Michael Jackson à Bahia em 1996, quando gravou o clipe da música ‘They Don’t Care About Us’ com o Olodum no Centro Histórico de Salvador.>
"Beyoncé é a maior artista global viva e é representatividade do ponto de vista de identidade afro, do diálogo com a juventude e do emponderamento feminino e da comunidade LGTQIA+. A presença dela em Salvador consolida, finalmente, Salvador como destino para visitantes internacionais, principalmente da diáspora africana", afirma. >
A escritora, jornalista e palestrante Ashley Malia, 26, que esteve no Club Renaissance, pontua os traços de referências ao rei do Pop em toda a carreira de Beyoncé, fã assumida de Michael Jackson, inclusive, nesta visita a Salvador. "Quem acompanha o trabalho de Beyoncé consegue perceber as referências do trabalho de Michael Jackson. Quando vi a banda Didá no palco, tive certeza que ela viria", afirma. >
Além das referências a Michael Jackson e do fato simbólico da capital baiana ser a cidade mais negra fora da África, Malia destaca o fato de o Brasil ser um dos países mais engajados do mundo. "O Brasil é o país que mais vibra pela Beyoncé, não tenho dúvida alguma", diz Malia. >
De acordo com um levantamento da Comscore, empresa norte-americana de análise da internet, o Brasil é terceiro maior consumidor de redes sociais do mundo, atrás apenas de Índia e Indonésia. >
A repercussão internacional gerada pela vinda de Beyoncé reflete no potencial de turismo político pertencente a Salvador, de acordo com a ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA), Naira Gomes. "Salvador pode ser vista como a cidade que pulsa e produz uma política apesar do racismo. O mundo e o Brasil colocarem os olhos para Salvador, que produz um referencial de antirracismo para o mundo inteiro", afirma. >
A escolha da Queen B, como é conhecida por seus fãs, coloca Salvador no mapa do mundo, conecta a cultura queer soteropolitana com a apresentação de Lunna Monty, DJ e mother da House Afrobapho que se apresentou no Club Renaissance, e celebra os fãs baianos. Isso é o que pontua o secretário de Cultura e Turismo da cidade, Pedro Tourinho, por meio de publicação no Instagram.>
"Ela [Beyoncé] fez o certo, o perfeito, o impecável: voou por 10 horas direto para Salvador, celebrou a cultura local, abraçou os fãs e serviu um evento de primeira. E assim, colocou Salvador no mapa do mundo, quem não conhece vai procurar saber, porque ela escolheu Salvador", diz trecho da nota. >
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>