'Dragão azul' é visto em praia do Litoral Norte; especialistas tiram dúvidas sobre espécie

Fake news publicada em grupos de Whatsapp diziam que o contato com o animal poderia até matar

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  • Saulo Miguez

Publicado em 8 de julho de 2024 às 10:50

Dragão azul visto em Jacuípe
Dragão azul visto em Jacuípe Crédito: Reprodução

Um molusco da espécie Glaucus atlanticus, mais conhecido como dragão azul, foi visto no último domingo (7), na praia de Jacuípe, cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador.

O banhista Murilo Nascimento, que há três anos frequenta semanalmente a praia, conseguiu registrar uma imagem do exemplar da espécie ainda viva na areia. "Nunca tinha visto esse animal lá e nem em lugar nenhum. Achei bem estranho", disse.

Essas lesmas marinhas são primos distantes dos caracóis e búzios que não possuem concha e vivem flutuando em águas oceânicas, afastadas das praias. Quando ventos dos quadrantes Sul e Leste sopram com mais intensidade, esses pequenos animais de colorido vibrante e forma exótica costumam aparecer encalhados nas praias.

Segundo os especialistas ouvidos pelo CORREIO, os dragões azuis se alimentam de cnidários, como caravelas e porpitas, podendo guardar alguns cnidócitos - células especializadas que causam acidentes semelhantes a queimaduras, quando tocados - em seu corpo.

O coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação da Universidade Federal de Alagoas, Cláudio Sampaio, explica que por esse motivo no passado se acreditava que eles poderiam também causar queimaduras, como às das águas-vivas.

"Hoje sabemos que o dragão azul não causa acidentes, são animais delicados e raramente observados por banhistas, então caso encontre um na praia, nada de pânico", alertou. Sampaio disse ainda que no litoral baiano eles não são necessariamente raros, especialmente depois de períodos de ventos fortes.

Fake news 

Segundo o pesquisador do Departamento de Invertebrados do Museu Nacional, Vinicius Padula, há cerca de dois anos foi espalhada uma fake news pelo Whatsapp dizendo que os dragões azuis são muito venenosos, poderiam causar acidentes graves e até matar.

Porém, ao contrário das mensagens difundidas, a espécie não representa maiores riscos ao seres humanos e não queimam como as caravelas. "É um privilégio poder ver esse animal, porque ele é muito bonito. Mas, como todo animal silvestre que está em seu ambiente, não deve ser manipulado", frisou.

O setor de Malacologia, ramo da biologia que estuda os moluscos, do Museu Nacional, inclusive, publicou em suas redes sociais, em 2020, um texto esclarecendo dúvidas sobre a espécie e explicando que se trata de um animal inofensivo.

Os especialistas contam que não há muito o que fazer com o animal caso um dragão azul seja encontrado na areia. Porém, é importante registrar as imagens e envia-las com informações sobre o local e data de aparecimento para os centros de pesquisa, universidades, museus e ONGs dedicadas à vida marinha.