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Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2024 às 14:56
A Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE) vai mover uma ação contra o município de Feira de Santana por conta da morte de uma criança indígena de dois anos da etnia Warao, no Hospital da Criança. O óbito aconteceu na terça-feira (23), após a menina passar 42 dias internada na unidade de saúde. >
A ação civil pública, segundo a DPE, busca promover um acolhimento institucional efetivo aos indígenas oriundos da Venezuela, incluindo moradia, educação, alimentação e saúde. >
De acordo com o defensor público responsável pelo caso, Maurício Moitinho, desde 2020, quando os Warao chegaram em Feira de Santana, a DPE vem acompanhando a situação. Segundo ele, essa morte não é fruto do acaso, uma vez que outras duas crianças seguem internadas devido à desnutrição e, em novembro de 2023, um homem da mesma comunidade e pai de uma das crianças internadas morreu por conta de problemas respiratórios.>
Atualmente, são cerca de 60 indígenas da etnia vivendo em uma vila no bairro da Mangabeira, sendo que 40 deles são crianças com idades até sete anos. Ainda segundo o defensor, essa população é acompanhada pelo Movimento Nacional da População em situação de Rua, que está fazendo todo o trabalho de assistência que deveria ser feita pelo município.>
"Quando eles chegaram, em 2020, ficaram num casa abanonada. Depois foram para uma instituição da Igreja Católica e, em seguida, o município os levou para a vila no bairro da Mangabeira", relatou Moitinho.>
O defensor conta que as casas dessa vila pertencem a um proprietário que recebe aluguel social, que deveria ser pago pelo município. No entanto, os aluguéis dos cerca de 13 imóveis nunca teriam sido pagos e essas pessoas correm o risco de, a qualquer momento, serem despejadas.>
"A DPE está instaurando um procedimento de dano coletivo porque há um risco não apenas para os indígenas que estão sofrendo diretamente com o problema, mas também para toda a população de Feira que, a qualquer momento, pode ter na cidade mais 40 crianças em situação de rua", disse Maurício.>
Atuação da Funai>
A Fundação Nacional do Índio (Funai), atendendo a uma designação do Ministério Público Federal, esteve em Feira de Santana para avaliar a situação. Os representantes da entidade se encontraram com o Secretaria de Desenvolvimento Social, mas, ainda de acordo com a DPE, não tiveram acesso a nenhum documento da Secretaria referente aos indígenas.>
"Os únicos documentos fornecidos foram do Movimento Nacional da População de Rua e da Defensoria Pública. Inclusive, quem fez os registros de nascimento dos índios que nasceram no Brasil foi o Movimento Nacional de Situação de Rua", completou o defensor. >
Diante do quadro de calamidade, a DPE chegou a fazer uma campanha de arrecadação de alimentos e donativos para os cerca de 60 indígenas venezuelanos que vivem em Feira de Santana, onde foram doadas cestas básicas, fraldas e itens de higiene pessoal.>
O outro lado>
Em nota, a prefeitura de Feira de Santana, informou que a família já estava sendo assistida pelo plano de ação do Município há alguns meses. No entanto, a família deixou Feira de Santana e foi para João Pessoa (PB), retornando em novembro com a criança em estado de desnutrição. Foi providenciada toda a assistência de saúde, incluindo encaminhamento ao Hospital da Criança.>
Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedeso), ao ser informada sobre o internamento da criança em João Pessoa-PB, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) entrou em contato com o setor de Serviço Social do Hospital Infantil Arlinda Marques, relatando que a criança foi internada em 30 de agosto de 2023, tendo saído da unidade em 08 de setembro de 2023, recusando tratamento médico. Desde o retorno da família a Feira de Santana, têm sido fornecidos amparos assistenciais.>
A nota ainda afirma que a secretaria também se colocou à disposição da Defensoria Pública da Bahia para unir esforços com outros órgãos voltados para causas sociais de pessoas em situação de vulnerabilidade.>
“A gestão municipal reconhece que, apesar dos esforços, há uma baixa receptividade às orientações da equipe sobre cuidados de higiene pessoal e comunitária, mas a Prefeitura continuará trabalhando para conscientizar a comunidade sobre a importância desses cuidados”, diz o comunicado.>
A Prefeitura de Feira de Santana finaliza a nota reafirmando “seu compromisso em garantir acolhimento e assistência a todas as pessoas residentes no município”.>
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde, que faz a gestão do Hospital da Criança, respondeu que, cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual.>
Em dezembro do ano passado, a Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) identificou que três crianças indígenas venezuelanas da etnia Warao, refugiados no Brasil e residentes em Feira de Santana, estavam com desidratação, desnutrição e suspeita de pneumonia. Na ocasião, as crianças tinham idades entre um e três anos. >
Ainda de acordo com a DPE, um adulto da mesma comunidade morreu em novembro do ano passado, vítima de complicações da pneumonia. >