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Vitor Rocha
Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 18:39
Dois agentes do Corpo de Bombeiros passaram mal durante as buscas para encontrar o mergulhador Williams da Silva Teixeira nesta terça-feira (17). O homem de 54 anos desapareceu na segunda (16), enquanto trabalhava na Ponte Salvador-Itaparica. Ele sumiu durante uma ação de sondagem na Baía de Todos-os-Santos, nas proximidades da Ponta de Humaitá. >
De acordo com o Corpo de Bombeiros, os dois agentes estão em observação e, até o momento, estáveis. Segundo um leitor CORREIO, eles teriam sido encaminhados para o Centro Hiperbárico do Nordeste, unidade Canela, após uma subida livre de emergência de 40 metros de profundidade. Os Bombeiros não confirmaram a informação.>
As buscas para encontrar Williams seguiram até o pôr do sol de hoje e continuam amanhã, por volta das 5h.>
Posicionamentos>
De acordo com a Concessionária Ponte Salvador-Itaparica, em nota, na manhã desta terça (17) foi estabelecida uma Comissão de Análise do Evento, composta por funcionários do Consórcio de Sondagem, com acompanhamento da Concessionária, para colher os depoimentos. No mesmo dia, diretores da Concessionária convocaram uma reunião com membros do Consórcio de Sondagem para investigar as causas do acidente e cobrar a execução de um plano de ação emergencial pautado na transparência.>
Ainda segundo eles, na segunda-feira, o Comitê de Crise da Concessionária foi acionado e se mobilizou conjuntamente com o Consórcio de Sondagem e Governo do Estado para adotar ações emergenciais de busca e salvamento. "A Concessionária segue monitorando e cobrando os esclarecimentos dos fatos ao Consórcio de Sondagem", informou. >
A Concessionária Ponte Salvador-Itaparica é a responsável pela gestão do empreendimento. Segundo eles, o mergulhador foi contratado pelo Consórcio de Sondagem que presta serviço à concessionária. >
O Consórcio de Sondagem, por sua vez, informou, também em nota, que "está colaborando com as autoridades competentes, tratando o assunto com prioridade. O consórcio informa que está apoiando a Sapucaia Engenharia, empresa prestadora de serviços especializada, contratada para executar as atividades em mergulho profissional, para oferecer todo o suporte à família do mergulhador. O consórcio esclarece que não comentará o caso durante a apuração dos fatos".>
Relembre o caso>
Com 40 anos de profissão, Williams desapareceu enquanto realizava sondagem e inspeção de âncora de duas balsas na Baía de Todos-os-Santos junto com outros três mergulhadores. Ele mergulhou para substituir uma das boias de sinalização da ancoragem da balsa. Depois foi verificado que o cilindro de oxigênio dele subiu até a superfície do mar. Os companheiros desceram antes da vítima, mas só chegaram a 15 metros de profundidade e voltaram por conta da maré.>
Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, cuja identidade foi preservada, a correnteza estava forte, mas o dono da empresa terceirizada da concessionária Ponte Salvador-Itaparica teria pressionado os mergulhadores a fazerem o serviço.>
“Na hora que os três voltaram, o dono começou a falar que ele mesmo ia ter que descer. Os mergulhadores falaram que só às 16h, mas ele [Williams] queria mostrar serviço para outras oportunidades e disse que ia tentar, mas não voltou mais. Ele fez porque houve pressão para realizarem o serviço”, completou.>
Willians ainda teria descido sem os equipamentos adequados quando sumiu. O CORREIO obteve informações de que, ao fazer um mergulho de cerca de 40 metros de profundidade, ele estava sem os sistemas de ar necessários para mergulhos tão fundos.>
Os familiares contaram que, pela grande experiência, Williams conseguia fazer mergulhos de até 30 metros no peito, sem equipamentos de ar. Os mergulhadores com quem ele estava o consideram um excelente profissional, mas que teria desaparecido pelas condições adversas a que foi exposto. >
A Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) informou a realização de um inquérito sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) para apurar as causas e circunstâncias do acidente. >
Motivação especial>
O trabalhador tinha um motivo especial para o mergulho: pagar o curso de enfermagem da filha. “Ele foi domingo lá em casa e pediu para eu cortar o cabelo dele, porque tinha um trabalho que ia dar um bom dinheiro. Falou ainda que o valor ia ser para pagar meu curso de enfermagem. Estava todo alegre falando disso, mas não disse nada sobre mergulhar”, relatou Laís Teixeira, 31, a filha cujo curso Williams queria pagar.>
Ex-companheira, mãe de Laís e dos outros dois filhos do profissional, Luzimara Teixeira, 51, disse que o mergulhador não comunicou a família para que ninguém tentasse fazer com que ele não fosse. “Ele tem 40 anos de profissão, muito tempo de mergulho, mas já tem 54 e a gente se preocupava. Para esse trabalho, ele nem avisou a gente. Só disse para ela que ia ganhar muito dinheiro para pagar o curso de enfermagem e mais nada”, contou.>
A família só foi comunicada do desaparecimento de Williams oito horas depois do desaparecimento, já às 22h de segunda-feira (16). Os parentes se queixaram, no entanto, da empresa não ter revelado nem o nome para eles.>
“Foram vários representantes lá avisar a gente, mas ninguém disse que empresa era. Como é que eles contratam alguém para mergulho, a pessoa desaparece no momento que está trabalhando e eles só comunicam isso para gente e mais nada? Não explicaram como foi, quem eram e nem se estavam fazendo algo para poder ajudar nas buscas por Williams”, reclamou Luzimara.>
A concessionária Ponte Salvador-Itaparica foi questionada pela reportagem sobre qual empresa seria a terceirizada responsável pela contratação de Williams. No entanto, o nome da terceirizada não foi informado pela assessoria, que explicou apenas que o consórcio para construção da ponte é formado pelas empresas CHEC Dredging e Concremat.>