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Raquel Brito
Publicado em 25 de agosto de 2023 às 05:00
No último dia 09, o jogador de futebol Deon, atacante do Bahia de Feira, faleceu durante um treino do time, após sofrer um infarto. Ele tinha apenas 36 anos. O caso do atleta não foi isolado: comumente associados aos mais velhos, os problemas cardíacos vêm aumentando entre jovens e adultos. >
Apenas entre janeiro e junho deste ano, 63 pessoas com idade igual ou menor que 40 anos morreram por doenças isquêmicas do coração na Bahia. Dessas mortes, 84% aconteceram com pessoas entre 30 e 40 anos. De 2019 a 2022, foi registrado um aumento de 3,3% nos óbitos por infarto entre essa faixa etária: em todo o ano de 2019, foram 149 ocorrências. Já em 2022, o ano fechou com 154. >
Um desses casos foi o do estudante Ian Caíque Nunes, que faleceu vítima de um infarto fulminante aos 19 anos, em setembro do ano passado. De acordo com seu irmão, Pedro Henrique, de 25 anos, o mais novo era saudável, praticava esportes e se alimentava bem. Entretanto, mesmo sentindo dores de cabeça e tonturas de tempos em tempos, ele raramente ia a médicos ou fazia exames de rotina. >
“Ian deixou um alerta não só para mim, mas para todos os jovens da comunidade. Que, independente da idade, temos que fazer o check-up. Depois que ele faleceu, eu procurei mais o posto de saúde e estou me cuidando mais”, diz Pedro.>
Mais jovens>
O número de internações por infarto e doenças do coração de pessoas com 40 anos ou menos também aumentou nos últimos quatro anos, pulando de 574, em 2019, para 615 em 2022. Este ano, de janeiro a maio, foram 178 internações no estado, o que representa, em média, 35,6 internações por mês.>
O infarto agudo do miocárdio é a maior causa de mortes no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostrou que, entre 2008 e 2022, o número de internações por infarto aumentou em todo o país: entre os homens, a média mensal aumentou de 5.282 para 13.645, o equivalente a uma alta de 158%. Entre as mulheres, a média passou de 1.930 para 4.973, num aumento de 157%. >
De acordo com o cardiologista Eduardo Lisboa, os infartos fulminantes são mais comuns em pessoas acima dos 65 anos. "Isso ocorre porque, à medida que envelhecemos, a probabilidade de desenvolver doenças cardíacas aumenta devido ao acúmulo de fatores de risco ao longo do tempo, como hipertensão, diabetes, colesterol elevado e outros", explica. >
Para conhecer os sintomas do infarto, ele recomenda o autoconhecimento. "Se um desconforto torácico, uma dor no peito ou uma sensação de falta de ar surge de forma inesperada ou incomum e perdura, deve-se buscar uma avaliação médica, entrar em contato com um serviço de emergência para relatar esses sintomas a um profissional de saúde que possa conduzir e entender a gravidade e dar a correta orientação", frisa.>
As doenças isquêmicas são aquelas que afetam as artérias cardíacas com o acúmulo de gordura, que bloqueia a passagem do sangue e diminui o fluxo sanguíneo no coração. Isso faz com que uma parte do órgão não receba sangue o suficiente para bombear da forma correta, e essa obstrução pode causar desde falta de ar até infartos fulminantes.>
De acordo com Luiz Eduardo Ritt, cardiologista e diretor da Associação Bahiana de Medicina, os novos hábitos de vida e a rotina são os maiores motivos de infartos em pessoas mais jovens, que incluem fatores como o alto consumo de fast food e de cafeína, sedentarismo e sono desregulado, por exemplo. >
Por isso, para prevenir doenças cardíacas, as melhores opções são, além de ter contato frequente com um profissional, ter sempre atenção aos fatores de risco. Segundo o cardiologista Luiz Eduardo Ritt, é essencial ter um alerta a mais se o paciente tiver familiares de primeiro grau que infartaram ainda jovens. >
Apesar de ser mais frequente em pessoas idosas, o médico explica que o infarto pode ter consequências maiores nos mais novos. “O infarto no jovem é relacionado mais comumente a pequenas placas que rompem agudamente, causando obstrução total de um vaso do coração. Já no idoso, o processo de acúmulo de gordura nas artérias é crônico e o coração, por vezes, se adaptou ao longo do tempo, criando vasos colaterais que suprem áreas menos perfundidas. Quando há um infarto, essas colaterais, às vezes, conseguem suportar”, diz.>
Sinais>
Entre os principais sintomas do infarto no miocárdio, destacam-se dor no peito e falta de ar ao realizar esforços físicos. Além disso, são comuns também sintomas como palpitações frequentes, tontura, desmaios e inchaço nas pernas. Quem explica é Leandro Vladimir Silveira Cavalcanti, cardiologista e membro da seccional baiana da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).>
“Os sintomas costumam ser progressivos e se tornarem cada vez mais frequentes e intensos e ocorrerem aos mínimos esforços, como tomar banho, pentear o cabelo ou até mesmo escovar os dentes. Nas fases mais avançadas e graves, os sintomas ocorrem em repouso e podem ser fatais. Vale ressaltar que diversos desses sintomas são comuns a outras doenças e temos visto em nossa rotina, cada vez mais frequente, a ocorrência por transtorno ansioso, vez que os sintomas podem ser semelhantes”, afirma Cavalcanti. >
A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) foi procurada para informar os números mais recentes de mortes por infarto no estado, mas não apresentou os dados até o fechamento desta reportagem. A Secretaria Municipal de Saúde também foi procurada sobre os índices de infarto em Salvador e afirmou que a informação demanda mais tempo para ser atendida. >
Tanto a Sesab quanto a SMS foram questionadas também sobre estratégias para evitar mortes causadas por infarto. Até o fechamento da reportagem, nenhuma respondeu. >
Com a colaboração de Larissa Almeida ([email protected])>