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Maysa Polcri
Publicado em 8 de abril de 2025 às 14:00
Irma Ferreira Santos, doutoranda em Educação Musical e cantora, ministrou aulas na Universidade Federal da Bahia (Ufba) durante um semestre antes de ter sua contratação cancelada por uma decisão da Justiça. No domingo (6), a instituição publicou uma nota repudiando a determinação da 10ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia, que nomeou outra pessoa para a vaga. >
A docente, inscrita como pessoa negra, foi aprovada por meio de cotas no processo seletivo para vaga prevista para a Área de “Canto Lírico”, na Escola de Música da Ufba. A universidade informou, através de nota, que solicitou que a Procuradoria Federal recorra da decisão. >
A reportagem entrou em contato com Irma Ferreira, que disse que só vai se posicionar publicamente após reunião com a Pró-Reitoria de Desenvolvimento de Pessoas da Ufba. Ela confirmou, no entanto, que ministrou aulas na Ufba durante o último semestre. >
"A Universidade considera este entendimento equivocado e soma-se às reiteradas recomendações do Ministério Público Federal para a matéria. A aplicação da reserva de vagas sobre o conjunto das vagas das áreas do processo seletivo é coerente com a finalidade da política de cotas em concursos públicos", pontuou a Ufba.>
A outra candidata, Juliana Franco Nunes, que é branca, questionou a admissão de Irma Ferreira alegando que tirou nota final maior que a concorrente, segundo resultado divulgado pelo Departamento de Música em 6 de setembro de 2024. A reportagem tenta contatar a candidata nomeada após decisão judicial. >
A decisão da Justiça em cancelar a contração de Irma Ferreira Santos repercutiu entre entidades acadêmicas e da música. A Associação Brasileira de Educação Musical (Abem) publicou uma nota contra a determinação. Segundo a Abem, a professora atuou como docente na Ufba durante um semestre, teve seu contrato renovado e, logo em seguida, foi afastada de suas funções após decisão judicial.
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"O afastamento da professora Irma de suas funções, já em pleno exercício da docência, representa um constrangimento institucional inaceitável e um ataque simbólico a políticas e ações afirmativas", diz a associação. Uma candidata que participou do processo seletivo buscou a Justiça contra a nomeação de Irma. >
"Situações como essa ferem a dignidade das pessoas envolvidas e produzem efeitos desmobilizantes, fortalecendo os obstáculos ao ingresso e permanência, em espaços acadêmicos e profissionais, de pessoas negras, indígenas e pertencentes a demais grupos historicamente excluídos", completa a Abem.>
Essa não é a primeira vez que uma polêmica envolvendo a contratação de professores através de cotas acontece na Ufba. A doutora em Ciências da Saúde Lorena Pinheiro foi impedida por uma liminar da Justiça de ser nomeada professora da Faculdade de Medicina, no ano passado. >
Apesar da aprovação no concurso através da reserva de cotas, a médica otorrinolaringologista, que é negra, teve o seu direito à vaga contestado por uma candidata da ampla concorrência. Após a repercussão do caso, a médica foi nomeada na Ufba, em outubro do ano passado.>