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Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2024 às 10:39
A família de Brendo de Sousa dos Santos, 26 anos, morto na sexta-feira (5) em Ubaitaba por policiais militares, está questionando a versão apresentada pelos agentes. Enquanto os policiais alegam que o jovem reagiu e morreu em confronto, a família diz que ele estava "jurado de morte" pelos militares e que havia sido torturado por eles, junto com a esposa grávida, há dois meses. >
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Brendo momentos antes da morte. Dentro de um carro, ele é abordado por policiais e sai rendido de dentro do veículo. A mãe de Brendo, Isaura Moreira, contou em entrevista ao CORREIO que a abordagem foi por volta das 14h. A família só teve notícias do jovem novamente depois das 17h, quando foi declarado morto em um hospital da região. >
Ainda segundo ela, Brendo não tinha arma, não bebia e não usava drogas. Ele trabalhava como guarda municipal no turno da noite em uma escola da prefeitura de Gongogi, onde morava. Durante o dia era gerente de uma fazenda de gado. Há pouco mais de um mês, teve que sair da cidade após supostamente ter sido torturado por policiais. >
"A Rondesp invadiu a casa dele e torturou ele e a esposa grávida. Os policiais disseram que ele não ia ver a filha dele nascer. Ele estava jurado de morte aqui, foi muita crueldade o que fizeram com meu filho", disse a mãe do jovem, que ainda acrescentou que os policiais costumavam aparecer encapuzados, sem mostrar os rostos. Brendo foi sepultado na manhã deste domingo (07), no município de Gongogi.>
A reportagem do CORREIO procurou a Polícia Militar para um posicionamento sobre as acusações. Em resposta, a corporação orientou contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), que não retornou até a última atualização da matéria. >
Isaura Moreira
mãe de BrendoHá dois meses, o irmão de Brendo, Nelson José dos Santos Neto, 24, também foi morto pela polícia, como alega a mãe, com a mesma justificativa de que houve um confronto. Desde sexta-feira (5), após a morte de Brendo, Isaura relata estar recebendo ameaças à segurança do restante da família. “Falaram que iam exterminar minha família de um por um”, revelou. >
Na véspera do dia em que morreu, Brendo teria viajado para Ilhéus para encontrar o advogado Walisson dos Reis, que agora representa a família. Queria entender o motivo da perseguição policial que vinha sofrendo. O advogado destacou que o jovem não era procurado pela polícia, mas tinha passagem por um acidente de trânsito em 2019, ao qual respondeu prestando serviço à comunidade. Walisson contou também que que a casa da família foi invadida pela polícia com agentes encapuzados por mais de três vezes. >
“Ele não estava sendo investigado por nada. Ele não tinha nenhum crime e, mesmo que tivesse, a polícia não pode tirar a vida de ninguém”, disse Walisson. Para o advogado, pela posição da viatura nas imagens que circulam nas redes sociais, os policiais militares estavam esperando ele. “Inclusive tem carro descaracterizado junto com a viatura. Isso tem acontecido muito na Bahia. Eles pegam a pessoa viva, matam e falam que foi confronto”, denuncia. >
Walisson dos Reis
advogado da famíliaO advogado disse que pretende acionar a Corregedoria da Polícia Militar e o Ministério Público do Estado. Em nota, a Polícia Civil afirmou que de acordo com a ocorrência registrada na Delegacia Territorial de Ubaitaba, na sexta-feira (5), policiais militares estavam em patrulha na BR-101, quando abordaram um veículo e que Brendo saiu do carro atirando contra as equipes - o vídeo acima nesta reportagem mostra Brendo deixando o carro ainda vivo, já rendido. A versão oficial do boletim de ocorrência aponta que teria acontecido um tiroteio após revide dos PMs e Brendo foi baleado. Ferido, ele foi socorrido para o Hospital São Vicente de Paula, mas não resistiu. >
Foi apreendida com Brendo uma pistola calibre 380, ainda segundo a polícia. O CORREIO questionou também a Polícia Militar (PM) sobre o caso, mas não obteve retorno. >