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Disparou: dólar turismo é vendido por até R$ 6,38 nas casas de câmbio de Salvador

Valor alto é motivado por aumento do dólar comercial; entenda

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 05:46

Dólar americano
Dólar americano Crédito: Shutterstock

O dólar turismo, que é a moeda em espécie utilizada para os brasileiros quando viajam a passeio para os Estados Unidos, está sendo vendido por até R$ 6,98 nas casas de câmbio de Salvador. A reportagem fez um levantamento em seis estabelecimentos do tipo nesta terça-feira (3) e encontrou valores que variaram entre R$ 6,19 e R$ 6,38. O preço é considerado alto e reflete o momento de incerteza vivenciado pelo mercado financeiro brasileiro diante da alta da moeda norte-americana.

O economista Uitan Maciel, especialista em mercado financeiro, explica que o dólar turismo não tem previsão de ter um recuo porque é definido com base no dólar comercial, costuma ser mais caro e tem valores variados em cada casa de câmbio. Isso acontece porque essas casas costumam incluir o valor do Spread – margem de lucro –, além de custos operacionais e impostos.

Em Salvador, o valor mais em conta do dólar turismo foi registrado na Conecta Câmbio, localizada no Salvador Shopping. Já o valor mais caro foi registrado na Travelex Confidence, uma agência também situada no Salvador Shopping.

Na agência Prime Câmbio, o dólar turismo em espécie estava sendo comercializado por R$ 6,32 às 18h10 de terça-feira. De acordo com Luiz Tavares, que é sócio proprietário da casa de câmbio, o valor foi estipulado levando em conta os custos vinculados à moeda. “Só de imposto é 1,1% que pagamos e ainda temos todos os custos financeiros de importar a moeda. O dólar turismo em espécie, infelizmente, é o mais alto de todos”, afirma.

Ele ressalta que, ao contrário do que muitos acreditam, vender o dólar turismo com valor mais alto por conta da alta do dólar comercial não é o cenário ideal para as casas de câmbio. “Nós somos um banco e correspondente cambial. Então, se o dólar está alto, eu também compro caro para revender e acabo não vendendo tanto porque o cliente fica esperando o valor diminuir. Além disso, a minha margem de lucro é melhor quando o dólar está baixo, porque consigo colocar um Spread maior”, conta.

Já na agência Premier Câmbio, o dólar turismo em espécie foi vendido a R$ 6,34. Segundo João Pedro Reis, gerente do estabelecimento, o valor foi fixado levando em conta os custos da loja, o pagamento do deslocamento no carro forte e os impostos. Ele admite, no entanto, que o preço não tem agradado os clientes.

“As vendas estão abaixo do que a gente espera para esse mês. Para quem trabalha com câmbio, não faz tanta diferença o aumento do dólar comercial, mas o ideal é que ele esteja abaixo porque as pessoas viajam mais”, frisa.

Entenda por que houve disparo do dólar turismo

No dia 29 de novembro, o dólar comercial teve recorde de maior valor nominal – isto é, valor não ajustado pela inflação da economia – ao atingir R$ 6,10. Nesta terça-feira (3), o valor chegou a R$ 6,07 e impactou diretamente os valores do dólar turismo que foram comercializados nas casas de câmbio de Salvador.

Isso acontece porque o dólar comercial é aquele influenciado pelo cenário político. É a taxa de câmbio definida pelo Banco Central que é utilizada em transações comerciais, financeiras e de investimento, como importações, exportações, pagamentos de dívida externa e investimentos estrangeiros.

Mas, afinal, por que o dólar comercial está alto?

Em novembro deste ano, a Prime Câmbio registrou queda de 23% nas vendas do dólar turismo em relação ao mesmo período do ano passado. O sócio proprietário Luiz Tavares diz que já era esperado que o dólar comercial fosse um vilão a depender do rumo das eleições americanas, mas pondera que outros fatores políticos prepararam o cenário atual.

“Um dos grandes fatores para esse dólar estar assim foi a eleição de Donald Trump. A política dele é de valorização da moeda americana, então, desde que foi especulado que ele poderia ganhar as eleições, o mercado reagiu mal. O real desvalorizou demais. Em paralelo a isso, o conflito que está acontecendo há mais de um ano entre Israel e Hamas tem afetado absurdamente o dólar, assim como a guerra da Ucrânia contra a Rússia”, aponta Luiz Tavares.

O economista Uitan Maciel, por sua vez, destaca que as razões que desencadearam a alta histórica do dólar, computada na semana passada, tem relação mais direta com o a política brasileira. Para ele, há falta confiança do mercado frente a política fiscal definida pelo Governo Federal, ou seja, descrédito quanto ao conjunto de ações do governo para controlar o orçamento, equilibrando as receitas e despesas do país.

“Tivemos, de forma tardia, o anúncio do corte de gastos na ordem de R$ 5 bilhões. No entanto, diante do já então déficit fiscal, esse valor é incipiente e não terá efeito satisfatório. Ainda, houve isenção do Imposto de Renda para quem possui renda até R$ 5 mil. É uma medida que prejudica a arrecadação do governo e contribui para o aumento do déficit fiscal. Logo, o mercado entende que essa medida não favorece as questões fiscais”, esclarece o economista.

Diante desse cenário, não há previsão de recuo do dólar comercial. Como último recurso, resta às casas de câmbio a esperança de que o verão traga mais turistas estrangeiros ao país, de modo que seja possível comprar o dólar diretamente com eles para economizar e aumentar a margem de lucro.