Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Priscila Natividade
Publicado em 17 de novembro de 2024 às 14:14
Cozido, feijão, arroz, suco de manga e manjar de laranja de sobremesa. Esse foi o prato servido para pessoas em situação de rua ou em vulnerabilidade social que estiverem na região do Largo de Roma, em Salvador, neste domingo (17). A iniciativa fez parte das ações do Dia Mundial dos Pobres que acontece em santuários e em paróquias de todo o mundo, inclusive da Arquidiocese de Salvador.
Cerca de 300 refeições foram servidas no Restaurante Popular Vida Nova dos Mares, que abriu pela primeira vez no domingo, na iniciativa promovida pela Ação Social Arquidiocesana (ASA), em parceria com a Cáritas Regional Nordeste 3 e com a Pastoral Arquidiocesana Povo de Rua.
"Esse é um dia muito importante. Não é só celebrar, é dar visibilidade e incentivar mais pessoas a se juntarem a essas ações e fazerem a diferença. Enquanto houver desigualdade, vamos ter mais gente passando necessidade", disse a coordenadora da Pastoral Povo de Rua da Arquidiocese de Salvador, Irmã Gilcilene Ferreira.
As ações de caridade são realizadas diariamente pela igreja católica durante todo ano. No entanto, a programação de 17 de novembro é fruto de uma convocação do Papa Francisco, que chama para esse olhar aos mais pobres e vulneráveis. Em seu oitavo ano, o Dia Mundial dos Pobres tem como tema “A oração do pobre eleva-se até Deus”, como explica o bispo auxiliar, Dom Valter Magno de Carvalho:
"O Dia Mundial dos Pobres se caracteriza exatamente pelo que o nome diz: é uma ação mundial que o papa lança e que todas as igrejas abraçaram. Olhar de quem cuida, que enxerga o outro como irmão. Pedimos a Deus pelos pobres e rezamos para eles e para que nossa oração possa alcançar o coração de Deus".
De acordo o o último censo divulgado pela Prefeitura de Salvador no mês de janeiro, a cidade tinha uma população de 5.130 pessoas em situação de rua. A unidade do Restaurante Popular dos Mares fornece de segunda a sexta, das 11h às 13h, 400 refeições diárias. Nos 10 restaurantes, são 4 mil refeições diárias.
Coordenadora de Segurança, Alimentos e Nutrição da Secretária Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (SEMPRE), Karine Assis destacou que o cozido foi o prato escolhido para o cardápio de hoje não só pelo seu valor tradicional, mas, também, pela presença na culinária regional.
"O cozido traz esse conjunto de composição nutricional completa. Mas também é uma comida que carrega essa questão cultural é um prato que todo mundo gosta aqui na Bahia".
Mais cedo, o bispo auxiliar celebrou uma missa no Santuário Santa Dulce dos Pobres. No início da manhã, a programação que teve início às início às 7h na área externa do santuário, contou ainda com a distribuição do café da manhã, serviços de corte de cabelo, atendimento jurídico e de saúde, música e atividades e brincadeiras para crianças.
"Todos os dias existem muitas ações na nossa igreja. O que queremos é fortalecer essas ações e transformar a realidade", acrescenta Dom Valter Magno de Carvalho.
Invisiveis e vulneráveis
Ozemário Alves tem 36 anos e mora nas ruas há 2 anos. Saiu de Mapele depois que perdeu o pai e a mãe. "Eu agradeço muito a Deus ter essa comida no prato aqui hoje. A comida está muito boa mesmo, com certeza. Na rua, a gente se ajuda, faz nosso grupo e um apoia o outro".
Já Ailmar Ferreira, 51 anos, viveu nas ruas por 8 anos. Hoje está acolhido, mas foi ao restaurante com o grupo que ainda vive na comunidade. "Essa comunidade me acolheu. Participo todos os anos. Vivi nas ruas por conta do vício e de problemas com relações familiares. Essa é uma ação que tem que acontecer sempre".
Por vários meses, José Deivison, 33 anos, viveu sem teto no bairro do Rio Vermelho. Dificuldades financeiras, desemprego e questões familiares deixaram em situação de vulnerabilidade. Hoje ele trabalha na distribuição da revista Aurora da Rua.
"Vários motivos me levaram a viver na rua: família, falta de dinheiro. Espero que aconteça sempre iniciativas como essa de hoje. As pessoas precisam muito, passam muita necessidade. Que não seja só um dia que elas possam contar com essa ajuda, mas todos os dias", defendeu.
Para o idealizador da Comunidade da Trindade, Irmão Henrique Peregrino, todo mundo tem capacidade de partilhar. "A bíblia nos diz que a pobreza é fruto da injustiça e a paz é fruto da justiça. Se a riqueza do Brasil fosse dividida por todo povo brasileiro, ninguém passaria fome. Nas sociedades com menos diferenças de salários todo mundo tem acesso a políticas públicas, alimentação e saúde. O caminho está na partilha de bens para que a paz e a justiça se abracem".
O dia dos pobres não tem intenção de reduzir a pobreza, mas o de celebrar tudo que é feito todos os dias para diminuir o abismo das diferenças sociais. "Que nesse dia o pobre possa ser protagonista e que a gente possa colocá-lo no coração da igreja", acrescentou Henrique Peregrino.