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Gil Santos
Publicado em 21 de maio de 2024 às 15:19
Dez policiais militares e um bombeiro foram presos preventivamente na Bahia por envolvimento com a venda de armas e munições para a facção criminosa Bonde do Maluco (BDM). Um ex-PM baiano, expulso da corporação no começo de 2024 por práticas criminosas, e um PM de Petrolina (PE) também foram presos, além dos donos de três lojas de armas. Em Salvador, um homem resistiu à prisão e foi baleado. A Operação Fogo Amigo foi coordenada pela Polícia Federal. >
Segundo as investigações, os militares desviavam armas e munições apreendidas em ações policiais, antes que fossem registradas, e vendiam o material por valores que chegavam a ser até três vezes maior para os bandidos. A polícia não informou o nome da facção criminosa envolvida no esquema, mas o CORREIO apurou ser o BDM. Estão na lista armamentos como fuzis, pistolas e escopetas com calibre 12, 9mm e ponto40. Outra tática era usar armas registradas por Caçador, Atirador e Colecionador (CAC). Alguns deles participavam do esquema e outros foram usados como laranjas. >
Nos últimos anos, a flexibilização do acesso às armas aumentou quase sete vezes o número de CACs no Brasil. Apenas em 2022, foram 200 mil registros. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontaram que, em 2018, o número de pessoas com registros CAC era de 117,5 mil. Já em 2022, havia 783,4 mil registros. O delegado regional da Polícia Federal, Rodrigo Motta, comentou sobre o cenário. >
"A legislação está sendo constantemente revisada e alterada e de alguma forma dificultando o acesso aos armamentos como existia antes, e o objetivo é buscar o aperfeiçoamento da legislação para a liberação do uso de armas", afirmou. >
Os 325 policiais federais e dos grupos táticos da Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público e Exército saíram no começo desta terça-feira (21) para cumprir 20 mandados de prisão preventiva e 33 mandados de busca e apreensão na Bahia, em Pernambuco e em Alagoas. Foram efetivamente cumpridas 19 prisões, uma prisão por porte ilegal de arma e 24 buscas e apreensões. O delegado contou que a operação surgiu de outra investigação. >
"No ano passado, a delegacia da Polícia Federal de Juazeiro, em conjunto com a Polícia Militar, Polícia Civil e Ministério Público, deflagrou uma investigação que reuniu diversas provas e na análise desse material probatório foi identificado que existia uma organização criminosa comercializando armas e munições. Foram realizados trabalhos de investigação que identificou empresas, policiais e CACs envolvidos nessa ação", afirmou. >
O que despertou a atenção dos investigadores em Juazeiro foi a violência com que os bandidos do BDM agiram para exterminar a facção rival. Os policiais rastrearam de onde vinha o armamento pesado usado pela facção e chegaram aos 20 mandados de prisão desta terça-feira (21). As três lojas que vendiam armas ficam em Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e Arapiraca (AL) e tiveram as atividades suspensas. Foram bloqueados R$ 10 milhões em bens de todos os envolvidos. >
Em Salvador, os investigadores estiveram em bairros como Graça, Lobato e Pirajá. Eles também visitaram endereços nos municípios de Juazeiro, Porto Seguro, Vera Cruz e Santo Antônio de Jesus, e nas cidades de Petrolina, em Pernambuco, e Arapiraca, em Alagoas. A polícia não informou detalhes sobre o homem que resistiu à prisão, mas afirmou que ele foi baleado, socorrido com vida e está internado. >
Revolta >
Um homem de 33 anos foi morto a tiros dentro de casa por quatro suspeitos no bairro Antônio Guilhermino, em Juazeiro. O crime ocorreu em abril e foi registrado por imagens das câmeras de segurança. Em maio, uma troca de tiros entre policiais e bandidos no Engenho Velho da Federação terminou com um homem morto e moradores assustados com o aumento da criminalidade. As duas áreas são dominadas pelo Bonde do Maluco, facção criminosa que estava recebendo armas e munições desviadas por policiais militares. Dez foram presos nesta terça-feira (21). >
Atualmente, o Engenho Velho da Federação é uma região dividida, o Forno e a Baixa da Égua são controlados pelo Comando da Paz (CP), enquanto a Lajinha está sob domínio do BDM. Entre os policiais presos nesta terça-feira está o ex-subcomandante da 41ª Companhia Independente da PM (CIPM/ Federação). O nome dele não foi divulgado, mas a polícia informou que quando começou a ser investigado ele foi afastado do cargo e colocado em funções administrativas. >
Em média, os PMs e o restante do grupo vendiam cerca de 10 mil munições e 20 armas por mês para o grupo criminoso. Policiais militares contaram, em anonimato, que a ação colocou em risco a corporação e os profissionais que vão para as ruas todos os dias. Um militar que atua em Salvador fez um desabafo. >
"A investigação apontou que eles estavam atuando há pelo menos dois anos, então, a gente pode concluir que muitas dessas armas desviadas foram usadas contra a própria polícia. Eles estavam armando o inimigo. Colegas podem ter tido as vidas ceifadas por essas armas. É revoltante, mas é preciso deixar claro para a sociedade que existe bons e maus profissionais em todas as áreas e que a Polícia Militar não é assim", afirmou. >
A Polícia Federal informou que continuará a apuração para identificar mais integrantes do esquema. A operação Fogo Amigo é integrada com o GAECO Norte do MP/BA, e com o apoio da CIPE-CAATINGA, BEPI (PM/PE); CORE-Polícia Civil da Bahia; GAECO/PE; FORCE/COGER; CORREG (Polícia Militar da Bahia e de Pernambuco); e Exército Brasileiro. >