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Maysa Polcri
Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 14:10
A Igreja de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no Comércio, ficou pequena para os milhares de devotos que foram até o templo em demonstração de fé, na manhã desta quarta-feira (13). No dia em que Santa Luzia é celebrada no catolicismo, fiéis enfrentaram até quatro horas de fila, debaixo do sol quente e com sensação térmica de 32°C. A multidão que aguardava pacientemente tinha um objetivo: entrar em contato com as águas da fonte milagrosa que cura doenças e protege os olhos.
O dia 13 de dezembro tem um significado especial para o técnico de informática Luiz Carlos, de 46 anos. Além de ser o momento em que renova sua fé com as águas de Santa Luzia, o baiano também comemora o aniversário. Para ele, o dia não poderia começar diferente senão na fila da fonte milagrosa. Para banhar o rosto com a água e levar uma garrafa pet de dois litros cheia para casa, Luiz precisou enfrentar quatro horas de fila. Ele chegou às 7 horas, na companhia do filho.
“Eu venho desde que estava na barriga da minha mãe. Vir aqui é como a vitória de mais um ano, então venho renovar a fé e pedir para que o próximo ano seja melhor do que este”, falou. Ele não era o único aniversariante da multidão. Marcos Espinheira, que completou 68 anos, chegou à Igreja utilizando uma muleta, que o ajuda a andar mesmo com parte do corpo paralisado. “Só a fé explica”, falou ele, sobre participar do percurso.
A imagem de Santa Luzia deixou a igreja às 12 horas, acompanhada pela multidão emocionada e calorosa, logo após a terceira missa do dia. Com flores brancas e vermelhas, o andor seguiu até a Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia e retornou até a matriz. O trajeto tem, ao todo, 4,6 quilômetros.
Nem o sol forte atrapalhou os fiéis que se protegiam com sombrinhas, lenços na cabeça e óculos escuros. “Ninguém aqui é de manteiga, né?”, brincou o padre Renato Minho sobre a alta temperatura, logo depois de celebrar a missa das 10 horas. Outras duas, uma às 15h e outra às 17h, estão marcadas para esta quarta-feira (13).
Elza Maria Conceição, de 78 anos, foi até a igreja para agradecer pela visão mesmo após quatro cirurgias. “Eu agradeço porque já fiz quatro cirurgias na vista, sendo a última de catarata. Santa Luzia me protegeu e protege todos os dias”, falou. Segundo o catolicismo, a santa foi vítima da perseguição no Império Romano e teve seus olhos arrancados.
Elza Maria estava acompanhada da afilhada Edlucia Regina Conceição, 53, que também passou pela cirurgia de catarata. Vestida com trajes brancos típicos de religiões de matriz africana, Edlucia compareceu à celebração pela primeira vez. Foi a forma que encontrou para homenagear sua mãe de santo. “Minha mãe pequena vinha com ela, mas ela faleceu há alguns meses. Vim no lugar para fazer a parte dela”, falou.
A celebração de Santa Luzia é uma entre as dezenas de festas populares de Salvador marcada pelo sincretismo religioso. A santa é considerada padroeira dos marinheiros e madrinha dos Filhos de Gandhi, que marcaram presença na celebração. “Temos que conviver em harmonia e o respeito é fundamental em qualquer religião, especialmente no axé”, disse Edlucia Regina.