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Maysa Polcri
Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 06:00
O início da batida viral vem acompanhado de um alerta. “Vou lançar de maluquice aqui. Se for pra me escutar e levar a sério, nem escute”, diz Jonathan Esquine nos primeiros segundos de uma das músicas mais ouvidas do país. Resenha do Arrocha ocupava o sexto lugar no TOP Brasil do Spotify quando o baiano de 25 anos conversou com o CORREIO.
Considerado desde cedo como a “esperança” da família cristã, o cantor começou fazendo apresentações em ônibus, em Salvador. Em dois meses, viu a vida mudar graças ao sucesso nas redes sociais.
“Desde criança eu tinha sonhos. Queria ser jogador de futebol, e minha família sempre viu em mim a esperança para mudarmos de vida”, relembra o cantor. A carreira no mundo da bola não deslanchou, mas o baiano nascido e criado no Uruguai, bairro da capital baiana, ficou famoso mesmo assim. Antes disso, precisou ralar em apresentações no transporte público.
Em 2018, Jonathan começou a cantar MPB em ônibus de Salvador com um amigo. A dupla rodava a Cidade Baixa, Suburbana e também se apresentava em coletivos que atendiam a Estação da Lapa. Enquanto isso, ele escrevia canções de rap e trap. Também fazia bicos como funcionário de festas infantis e ajudante de pedreiro.
“A gente fazia até R$ 70 por dia. Depois, vimos que apresentações no ferry-boat eram mais lucrativas. Um dia ruim, no ferry, rendia R$ 50”, diz. Nos melhores dias, recebiam até R$ 150. J. Eskine - nome artístico escolhido - cantava em bares de Salvador para complementar a renda.
Mas os passageiros dos ônibus e do ferry não ouviam versos como “solta carta, caralho, tigrinho filha da puta” ou “vuk vuk na onda maluca”. Àquela altura, ele ainda não tinha criado Resenha do Arrocha, a música que o fez ficar conhecido em todo o país. “A gente escolhia as músicas que todo mundo conhece, de cantores como Caetano e Djavan”, explica.
O sucesso que está no topo das paradas foi criado no final do ano passado (ouça abaixo). A ideia era que a música, que mistura frases de pagodão e o ritmo do arrocha, servisse como gatilho do álbum que seria lançado em seguida. “A música fez tanto sucesso que a gente precisou mudar a estratégia. Eu já esperava que as pessoas fossem gostar, mas nunca achei que seria tanto assim”, conta. São 11 milhões de visualizações em apenas um vídeo do Youtube publicado em 29 de novembro.
No mesmo dia em que foi lançada, a música já era usada em mais de 1 mil vídeos no TikTok. Hoje, são mais de 1 milhão. A batida e letra de Resenha do Arrocha embala memes e vídeos de dança, gravados por artistas e anônimos.
A canção tem mais de cinco minutos e os usuários das redes utilizam vários cortes de segundos. A impressão que dá é que os trechos que viralizam separadamente são de músicas diferentes. O sucesso confirma o título de “gângster do arrocha” - apelido pelo qual ficou conhecido.
“Surgiu a proposta de gravar um EP de arrocha. Eu adaptei as letras do rap e trap que já tinha para o ritmo. Para chamar atenção para o EP, pegamos músicas do pagode baiano e colocamos na voz e violão, como se fossem músicas românticas”, explica a receita. O bem bolado deu certo e a música alcançou o primeiro lugar no Top Viral, do Spotify, há três semanas.
Resenha do Arrocha entrou no repertório de artistas como Nattan e Anitta. No último sábado (11), ele foi um dos convidados da 1º edição do Ensaio da Anitta de 2025, realizado em São Luís (MA). Sob gritos do público, Eskine cantou ao lado de uma das cantoras brasileiras mais famosas da atualidade.
A mudança de vida, em tão pouco tempo, ainda não foi bem digerida pelo artista. “Parece que a ficha ainda não caiu. Tudo que eu mais quero é continuar investindo na minha música e na minha carreira”, afirma Jonathan. Gravações foram feitas em parceria com outros artistas, mas ele não revela quais. “Vamos lançar em breve”, desconversa.
Os primeiros contatos de J. Eskine com a música começaram quando ele era criança, nas escola e dentro de casa. O cantor conta que pegava emprestado o violão de um tio, que se apresentava na Igreja. “Eu venho de uma família cristã e, desde que comecei a lançar minhas músicas, tive muito apoio deles. Mesmo as músicas não sendo do ciclo deles, sempre me apoiaram”, diz.
Jonathan tem um irmão mais novo, de 8 anos, que considera filho, além de outros três irmãos por parte de pai. Com o sucesso do hit, alugou uma casa mais espaçosa para a mãe e o irmão caçula morarem.
“Nossa vida mudou totalmente nos últimos dois meses. Sempre viemos de uma realidade muito humilde. Por mais que achem que as músicas que eu canto não são agradáveis para Deus, eles entendem que o que aconteceu comigo foi coisa de Deus”, afirma. O grande sonho do artista, a partir de agora, é manter o sucesso: “Não quero ser aqueles cantores de um sucesso só”, garante o gângster do arrocha.