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Larissa Almeida
Publicado em 26 de novembro de 2024 às 05:40
A pequena cidade de Rio Real, no Litoral Norte da Bahia, engana pela modéstia. Quem vê as terras do município, tão distantes dos grandes centros, não imagina que o território concentra grande parte da riqueza citricultora do estado ao movimentar R$ 156,5 milhões na economia apenas com a produção de laranja – da qual é líder. Com pouco mais de 35 mil habitantes, quase toda a população do local é envolvida na cadeia da commodity. Lá, até o prefeito é produtor e o investimento é tanto que, em 2023, a cidade produziu 251.430 toneladas da fruta, segundo dados da Produção Agrícola Municipal (PAM), levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme dados do IBGE, a Bahia era o quarto produtor de laranjas na Brasil em 2023, com 610.084 toneladas, o que representava 3,5% da produção nacional. Rio Real era responsável por 41,2% da produção do estado. A nível nacional, à frente da Bahia, estavam Paraná, com 4,2% de participação; Minas Gerais, com 6,4%; e São Paulo, com 77,5%. Em território baiano, a área plantada em 2023 foi de 49,2 mil hectares, sendo que a área plantada em Rio Real correspondia a 34,5% (17 mil hectares) do total do estado.
Assis Pinheiro, engenheiro agrônomo e diretor de Agricultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), afirma que o clima e a tecnologia são dois dos motivos que explicam a produção pujante de laranja em Rio Real. “O clima é favorável, inclusive, para a prevenção de doenças. Na Bahia, como tem o segundo clima mais quente, as doenças que precisam de umidade e temperaturas amenas têm mais dificuldade de se multiplicarem”, aponta.
“Além disso, cada vez mais os agricultores estão se tornando tecnificados. Esse ano teve em Rio Real um evento que mostrou toda essa tecnificação com palestras, equipamentos novos e adubos. A cidade também tem um viveiro de mudas ideais para a produção de citrus, que são certificadas pela Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e evitam a contaminação por pragas”, complementa Assis Pinheiro.
A seleção da muda a ser plantada é o passo inicial no manejo da produção de laranja. Depois, o citricultor precisa cuidar do solo, equilibrando a quantidade de adubo e calcário ideal para a plantação. Depois que a muda é plantada, é preciso combater formigas e qualquer praga com defensores agrícolas durante todo o tempo de vida da planta. Ela leva de dois a três anos para começar a produzir, tem pico de produção entre sete e oito anos, e vive até 20 anos.
Apesar de liderar a produção de laranja no estado, Rio Real também enfrenta desafios nesse segmento. Para Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), a Bahia tem tudo para se tornar a maior exportadora de frutas cítricas do Brasil, sendo guiada por Rio Real. Antes, no entanto, precisa resolver problemas quanto à infraestrutura e capacitação.
“Nós ainda temos dificuldade com a chegada da energia elétrica no campo, temos problemas com estradas para escoar a produção e a falta de assistência técnica para que os produtores sejam atendidos e produzam produtos de qualidade. São desafios que ainda precisamos construir soluções junto com políticas públicas e parcerias com empresários”, destaca.
Para Rodrigo Anunciação, coordenador das pesquisas agropecuárias do IBGE na Bahia, outro grande entrave é a falta de mão de obra. “Temos observado a crescente dificuldade que os produtores têm de contratar braços para trabalhar no plantio, nos tratos culturais e na colheita. Não só de laranja, mas de vários produtos em todo estado. Isso tem levado à substituição de laranja e outras culturas permanentes pelo milho, na região do Litoral Norte e nordeste da Bahia, justamente por conta da maior mecanização e consequente menor necessidade de mão de obra”, pontua.