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Culpado ou inocente? Padre viraliza após discurso contra a figura do Papai Noel

‘Não estou mais suportando aquele velho’: vídeo do religioso cearense Antônio Furtado ultrapassa 1,3 milhão de visualizações nas redes sociais; veja também onde Papai Noel não é bem-vindo

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 24 de dezembro de 2024 às 17:36

Em certos contextos, a figura do Papai Noel desafia valores ou ideologias predominantes (Imagem: Pixel-Shot | Shutterstock)
Figura do Papai Noel desafia valores culturais, políticos e de consumo Crédito: Shutterstock

A bordo de um trenó voador puxado por renas mágicas, ele percorre o mundo para entregar os presentes a meninos e meninas que se ‘comportaram’ durante o ano, tudo isso em troca de um copo de leite e um biscoito que deve ser gentilmente deixado bem próximo à árvore. Uma das figuras mais queridas e universais que a gente conhece: é só pensar no Natal que a imagem do Papai Noel toma conta da nossa imaginação. Afinal, quem nunca acreditou que ele realmente existe?

Ainda que Papai Noel tenha se tornado esse símbolo, um padre cearense viralizou nas redes sociais no final de semana após um discurso durante a missa, ao criticar que a sociedade trocou Jesus por Papai Noel, tornando a data de 25 de dezembro um reflexo do consumismo.

"Não estou suportando mais aquele velho. Essa sociedade imunda trocou o personagem. Tirou de cena o aniversariante, botou um velho de barba branca com um saco nas costas que duvida da realidade do Natal. Transformou em num símbolo de dinheiro, de compra", disse o padre Antônio Furtado, que soma mais de 221 mil seguidores no Instagram (@padreantoniofurtado).

O vídeo tem mais de 1,3 milhões de visualizações, 67,5 mil curtidas e 56 mil compartilhamentos. Ele ainda aconselhou os pais a não levarem os filhos para ver Papai Noel no shopping. "Isso é para seu filho não crescer achando que o Natal é a chegada daquele velho, que não tem nada a ver com nada, a não ser com o desejo de venda, de compra. Tiremos nossos olhos daquele velho e coloquemos numa criança inocente que nasce para nos amar e adorar".

Questões geopolíticas e culturais

Não é de agora que o Papai Noel é uma figura que enfrentou momentos conturbados ao longo da história, por mais que a ele pareça só um bom velhinho de barba e cabelo branco, vestido de vermelho e que desce pela chaminé. Em alguns países, sua imagem é proibida por motivos políticos, religiosos ou culturais.

Professor de História da Plataforma Professor Ferretto, Pedro Rennó lista alguns lugares onde Papai Noel não é muito bem-vindo. "O Papai Noel, embora hoje seja amplamente associado ao comércio e à tradição natalina ocidental, carrega simbolismos que, em certos contextos, desafiam valores ou ideologias predominantes. Isso levou algumas sociedades a vetarem sua presença, especialmente em períodos ou regimes de forte controle cultural e político".

"O Papai Noel, embora hoje seja amplamente associado ao comércio e à tradição natalina ocidental, carrega simbolismos que, em certos contextos, desafiam valores ou ideologias predominantes"

Pedro Rennó

professor de história 

A antiga União Soviética tem momentos marcados por essa rejeição, como acrescenta o professor: “Durante parte do período comunista, celebrações religiosas, incluindo o Natal, foram desencorajadas, já que os valores do cristianismo eram vistos como incompatíveis com a ideologia marxista. Em vez disso, figuras como Ded Moroz, o ‘Avô Gelo’, foram promovidas como substitutas seculares do Papai Noel”.

Já na Arábia Saudita, a proibição tem a ver com questões religiosas. Como o Natal não faz parte das tradições islâmicas, a celebração é vista como um símbolo de influência ocidental. “Mais recentemente, em alguns países asiáticos, como a Coreia do Norte, a presença do Papai Noel é limitada. Por mais inofensivo que pareça, o Papai Noel, às vezes, é interpretado como um embaixador de valores culturais estrangeiros. Isso desperta tensões em contextos de resistência à globalização ou à influência ocidental," ressalta Rennó.

Símbolo natalino

Há quem diga que ele mora no Polo Norte, mas também passe o resto do ano tocando sua fábrica de brinquedos na Lapônia, no extremo norte da Finlândia. Fato é que a história do Papai Noel - Santa Klaus ou São Nicolau - se transformou muito ao longo dos tempos, combinando diferentes tradições, crenças e significados. Bispo grego do século IV, a lenda conta que São Nicolau se tornou santo por sua generosidade.

Uma das narrativas mais conhecidas está por trás daquela tradição de colocar os presentes dentro da bota. Um pobre vizinho ia prostituir as três filhas para conseguir dinheiro. Assim que Nicolau descobriu, jogou janela adentro um saco de ouro. Quando o homem reconheceu Nicolau, atirou-se aos seus pés para agradecer. Ele, no entanto, discreto, pediu que o vizinho não revelasse o seu feito para ninguém.

Já a versão inglesa traz um contexto mais antigo e associado às celebrações pagãs do solstício de inverno, o que deu ao Papai Noel um significado de fertilidade e abundância na colheita. Tem ainda a história alemã em que o bom velhinho ganha o nome de Santa Klaus, barbas e aparência madura, tudo isso muito baseado nas lendas nórdicas e na figura do deus mitológico Odin.

Porém, foi em 1863 que o cartunista norte-americano Thomas Nast criou ilustrações do Papai Noel para a revista Harper’s Weekly, com o visual de um homem mais velho e de barba branca. Só em 1931 é que a Coca-Cola vem com tudo depois de transformar a figura em um símbolo de publicidade nas campanhas de marketing, massificando esse Papai Noel que até hoje - com crianças deixando de acreditar nele ou não - faz parte do imaginário do Natal.