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Larissa Almeida
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 07:37
A última lembrança que o estudante Antonio Santos, 43 anos, tem de Paulo Andrade, 18 anos, é de quando o jovem ainda estava na barriga da mãe. A amizade com os pais do garoto surgiu muito antes de ele nascer e permanece intacta, ainda que se vissem pouco e os encontros fossem, geralmente, fora do ambiente de casa. No entanto, bastou que Antonio visse pelo noticiário o que havia acontecido com Paulo e a família para que ele se deslocasse de Lauro de Freitas até Saramandaia, onde ficou por mais de 30 horas até que o jovem soterrado desde quarta-feira (27) fosse localizado na manhã desta sexta-feira (29).
"Eu vim quinta-feira de manhã para tentar resgatar o corpo e colocar a mão na massa. Foi muito trabalho, porque não sabíamos onde o corpo dele estava e precisávamos procurar com calma. Levei direto de ontem para hoje: não dormi, não tomei banho, almocei ontem e, desde então, só fiz um lanche. Estávamos e estamos todos muito preocupados com a família", afirmou.
Antonio foi um dos mais de 60 voluntários que ajudaram nas buscas por Paulo Andrade. Em sistema de revezamento, cada um deles contribuiu como pôde, fosse retirando lama, segurando balde, despejando escombros fora da área do acidente ou quebrando estruturas que eram entrave para o trabalho. Enquanto um grupo colocava a 'mão na massa', o outro descansava do empenho físico, mas ajudava a motivar os bombeiros e os próprios voluntários com palavras e gritos de incentivo.
Para que o trabalho de todos os envolvidos na procura pelo corpo de Paulo fosse possível, dezenas de mulheres e homens se envolveram no cozimento e distribuição de alimentos. Da tarde até a noite, pelo menos três rodadas de sopa, café e pão passavam pela rua até o corredor estreito onde, ao final, estavam os agentes e voluntários. Uma das pessoas que ajudou nesse processo foi a confeiteira Denise Souza, 40, que cancelou todo o trabalho previsto para essa semana com o intuito de ajudar a família Andrade e a comunidade de Saramandaia.
"Aqui é o povo pelo povo, então temos que nos ajudar mesmo. Temos que esquecer nosso 'eu' um pouquinho, porque foram três dias terríveis e cansativos, principalmente para a família. Nem imaginamos a dor deles. Por isso, me voluntariei na igreja para auxiliar na comida e arrecadar alimentação. Outras pessoas ajudaram na cozinha e na distribuição. No fim, foi uma corrente do bem", frisa.
Corrente de solidariedade: conheça histórias de quem parou tudo pra ajudar nas buscas por jovem soterrado em SaramandaiaVizinha da família Andrade, a auxiliar de desenvolvimento infantil Rosane Santos, 53, fez dupla jornada. É que, além do trabalho que paga as contas, ela usou todo o tempo restante para ajudar quem estava nas buscas por Paulo. "Ajudei as meninas a distribuírem pão e outros alimentos para os bombeiros, e dei tudo que eu tinha disponível para possibilitar as buscas, como enxada, pá e as tábuas que eu estava guardando para bater minha laje. Na medida do que pude, fiz a minha parte e ninguém tem nada para me agradecer, porque estamos todos aqui para ajudar um ao outro", ressaltou.