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Corpo de Chico Moreira é cremado no cemitério do Campo Santo

Ele comandou o Porto do Moreira, tradicional restaurante do Dois de Julho

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 13 de julho de 2024 às 18:54

Velório contou com a presença de antigos clientes Crédito: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO

O corpo de Chico Moreira, proprietário do tradicional restaurante Porto do Moreira, que ficava no Dois de Julho, foi cremado no cemitério do Campo Santo, na Federação, neste sábado (13). Chico tinha 77 anos e foi internado depois de passar mal na madrugada de quinta-feira (11). A morte foi confirmada no dia seguinte. Ele deixou uma filha e dois netos. A família acredita que o fechamento do restaurante afetou a saúde do idoso.

Depois de passar mal, Chico foi socorrido por uma ambulância do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris. Os médicos constataram que o empresário teve insuficiências renal e respiratória agudas, além de uma hemorragia digestiva. O quadro de saúde agravou e ele foi transferido para a sala vermelha da unidade, uma espécie de UTI. A morte foi confirmada às 13h15 de sexta-feira (12).

O restaurante estava na família desde a fundação, em 1938, e encerrou as atividades em julho de 2023 por problemas financeiros agravados pela pandemia. A filha do empresário, Cristina Moreira, contou que o pai era um homem ativo e que além de administrar o restaurante realizava serviços em casa, como consertar eletrodomésticos e fazer obras, e amava as canções da Jovem Guarda. Ela disse que o pai estava triste e fala constantemente sobre a dor que sentia por não ter conseguido manter o restaurante.

“Ele dizia que tinha perdido a vontade de viver, porque o restaurante era a vida dele. Ele nasceu, cresceu, casou e teve os filhos ali dentro. Ele saía entre 7h e 8h para trabalhar e ficava no restaurante até a noite, todos os dias, de domingo a domingo. Ele perguntava ‘o que eu fiz para merecer isso?’, ‘não sei o que vou fazer da minha vida’ e ‘antes tivesse uma boa morte’. O Porto do Moreira era a vida dele. Doeu muito”, afirmou, emocionada.

Chico Moreira assumiu o comando da casa depois do pai e do irmão Crédito: Paula Froes/ CORREIO

Cristina contou que nos últimos meses o pai andava ranzinza, calado e não queria mais sair de casa. Delegados, jornalistas e empresários e outros antigos clientes do Porto do Moreira compareceram ao velório. Comerciantes do Centro Histórico, como Clarindo de Jesus, também marcaram presença. A cozinheira Maria dos Reis, 67 anos, trabalhou 38 anos no estabelecimento e fez questão de prestar uma homenagem ao antigo patrão.

“A gente era uma família. Era divertido, tinha suas brigas, mas a gente se adorava. Ele era carismático e uma excelente pessoa. Quando vi a notícia de que o restaurante ia fechar eu não acreditei. O pessoal adorava o local. Eu tenho fotos com vários famosos que foram lá como Zeca Pagodinho, João do Pulo, Amado Batista, Juca Pitanga e Riachão. Os turistas sempre iam lá. Era uma tradição da cidade”, contou a cozinheira Maria.

O velório foi realizado na capela 6 e, em seguida, o cortejo seguiu para a capela 1, onde ocorreu a cremação. O delegado aposentado Iran Barroso, 80 anos, é primo de Chico e contou que quando fez uma cirurgia, há alguns anos, o empresário o visitou todos os dias até a recuperação.

“Ele era um empreendedor, fez amizades solidas e fez o possível para manter o restaurante aberto. A admiração que tinha por ele era grande. Fiquei muito triste quando soube da notícia. Estive com ele há poucos dias e ele tinha muito amor pelo Porto do Moreira, era mais amor do que interesse comercial. Todos eles eram assim, tanto o pai, que fundou o restaurante, como os três filho: Américo, Antônio e Francisco”, disse.

O professor, jornalista, escritor, poeta e membro da Academia de Letras da Bahia, Florisvaldo Mattos, 92 anos, é contemporâneo do pai de Chico e testemunhou o nascimento e o fim do Porto do Moreira. Ele não pode comparecer ao velório, mas compartilhou através das redes sociais o sentimento de pesar pela morte do amigo.

“Tristeza, mais que imensa, está que nos surpreende e nos impõe está infinita ausência de uma pessoa com quem mantive relação de amizade, desde o ano de 1958, como frequentador do glorioso também tristemente saudoso Restaurante Porto do Moreira, onde também convivi com seu grande irmão Antônio Moreira, que também já se foi, deixando enorme lacuna de fraternidade”, escreveu.

História

Familiares e amigos afirmaram que com Chico Moreira morreu um pedaço da história de Salvador. Ele era uma figura conhecida, porque o restaurante que ele comandava ficou em atividade durante 85 anos. Fundado em 1938, pelo pai dele, o carpinteiro português José Moreira, o Porto do Moreira funcionou inicialmente no edifício Marquês de Abrantes, até que em 1966 mudou para o Largo do Mocambinho. O local foi colocado à venda em 2022 após problemas financeiros agravados com a pandemia de Covid-19.

No auge do sucesso, o Porto do Moreira recebia nomes como o escritor Jorge Amado (1912-2001), o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) e o cantor e compositor Caetano Veloso. No cardápio do restaurante os pratos que faziam mais sucesso eram a moqueca de carne, rabada com pirão, mocotó, moqueca de arraia e língua ensopada. Chico assumiu a casa após a morte do irmão dele, Antônio, em 2018.

O restaurante encerrou as atividades definitivamente em 17 de julho de 2023, após problemas financeiros. Chico relatou ao CORREIO que o Porto do Moreira enfrentava dificuldades para fechar as contas, com dívidas que chegavam a R$ 100 mil. “Temos seis funcionários e era para ter menos, mas não tenho como pagar os encargos. O dinheiro foi todo embora. Então é isso, não tem condições de continuar. O movimento do Centro caiu muito, não é mais como antigamente”, disse, na época.

Amigos e clientes criaram um grupo no WhatsApp autointitulado “Amigos Porto do Moreira", que juntou mais de 80 integrantes para pensar iniciativas que evitassem o fim do restaurante. Apesar dos esforços, o negócio não resistiu à crise e fechou as portas definitivamente no ano passado.