Conhece algum milagre de Madre Vitória? Igreja procura relatos de fiéis para santificar religiosa

Freira que viveu em Salvador pode ser considerada nova santa baiana

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  • Maysa Polcri

Publicado em 26 de setembro de 2024 às 06:00

Devotos podem procurar o Convento do Desterro, em Salvador, para relatar milagres
Devotos podem procurar o Convento do Desterro, em Salvador, para relatar milagres Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Quando foi diagnosticada com câncer de ovário, Ylka Aragão, de 60 anos, já carregava no pescoço a medalha de Madre Vitória, religiosa que pode se tornar a próxima santa baiana. Os médicos acreditavam que se tratava de um câncer muito agressivo devido ao tamanho do tumor. Dois anos depois, Ylka está curada pelo que acredita ter sido um milagre. A história da baiana se junta aos relatos de devotos de Madre Vitória que estão sendo investigados pela Igreja Católica. 

A escuta atenta dos episódios que serão investigados como milagres fazem parte do processo que pode culminar na canonização da religiosa soteropolitana. Nessa quarta-feira (25), uma sessão solene marcou o final da fase arquidiocesana, que reuniu documentos sobre a vida da religiosa. O dossiê será levado ao Vaticano em outubro. Caso ocorra aprovação da Santa Sé, a Igreja começará a apuração dos milagres. Aí surgem histórias como a de Ylka Aragão, que estão sendo procuradas e investigadas por membros eclesiásticos. 

“A biópsia mostrou que o tumor era maligno e que estava rompido, o que é um grande risco. Pedi a intercessão de Madre Vitória e, apesar do tamanho do tumor, ele foi considerado grau 1. Fiz algumas sessões de quimioterapia e, hoje, estou curada”, conta a devota. Ylka também atribui à Madre a melhora repentina do quadro de saúde da manhã. A devota foi uma das pessoas que acompanhou a finalização da fase arquidiocesana do processo, no Convento do Desterro.

Yilka Aragão
Yilka Aragão acredita que recebeu um milagre de Madre Vitória Crédito: Arisson Maronho/CORREIO

“A sensação é de gratidão e de reconhecimento. Madre Vitória não gostava de aparecer, então, eu peço para que ela permita que seja declarada santa para que possa ajudar mais pessoas”, almeja Ylka Aragão. Além dos relatos de melhora em quadros de saúde, a freira tem fama por ajudar os fiéis a encontrarem objetos desaparecidos. 

Madre Vitória nasceu em Salvador em 1661 e entrou no Convento de Santa Clara do Desterro em 1986. Se tornou uma Clarissa, ordem que vive a clausura monástica. No convento nunca exerceu grandes cargos. Foi faxineira, ficou responsável pelo recebimento das doações e foi mestre de confissões. Sua vida dedicada a ajudar os mais necessitados ganhou fama a partir do século XVIII. Madre Vitória renunciou sua própria cama, que foi doada a um morador de rua, e passou a dormir em uma esteira de palha. Assim permaneceu até o final da vida.

Investigação 

Thiago Felipe da Mata, devoto de Madre Vitória, faz parte da comissão que investigou a vida da religiosa soteropolitana. Ele tem ouvido relatos que devem ser investigados como milagres no futuro. Há duas semanas, a história de uma senhora chamou sua atenção.

“Uma idosa, moradora de Paripe, chegou aqui [no Convento do Desterro] emocionada e querendo agradecer a Madre Vitória. Ela tinha uma ferida na perna há 20 anos, que não cicatrizava, e só foi curada quando ela tocou o santinho da Madre Vitória e fez a oração”, conta. Pessoas que tiverem histórias similares podem procurar o convento, em Nazaré, para relatar seu milagre ou graça. 

“Precisamos que os relatos cheguem até nós porque precisamos diferenciar e apurar. Uma graça alcançada é um favor recebido do céu, enquanto que o milagre não pode ser explicado pela ciência ou pela medicina. Precisa ter acontecido após o pedido e deve durar por toda a vida”, explica o frei Jociel Gomes.