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Gilberto Barbosa
Publicado em 19 de julho de 2024 às 06:00
Quem passou pelo Largo Dois Leões na manhã desta quinta-feira viu que Elder Grise estava dando os últimos retoques no muro da nova sede do 12º Batalhão de Bombeiros Militar (12ºBBM/Salvar). Assinando como Pitoco, o artista de 43 anos atua com o grafite há mais de 30 anos e já colaborou com diversas figuras conhecidas da capital, como o boxeador Popó, os músicos Luiz Caldas e Durval Lelys.>
Na pintura estão retratados os brasões do Salvar e do Corpo de Bombeiros, além de um bombeiro com asas de anjo e um atendimento a uma vítima, que está imobilizada. Pitoco explica que foi o responsável pelo conceito da obra e que as imagens representam a atuação da corporação na cidade. "Os bombeiros do Salvar são conhecidos como os anjos do asfalto, já que são preparados para fazer o atendimento em acidentes mais graves. Eu fiz essa analogia a figura do anjo, porque eles dão o primeiro combate no socorro às vítimas”, detalhou.>
Ele divulga os seus trabalhos no seu perfil pessoal (@pitoco_grafite). O projeto no 12º BBM demorou cerca de três dias para ser entregue e rendeu R$ 2.315 para o artista, que relata que os preços variam de acordo com o tamanho da obra, o cliente e a localidade. “Às vezes, o cliente é de um bairro mais pobre, mas ele tem uma área grande, então cobramos preços entre R$ 300 e R$ 600. Já em uma área nobre, eu chego a cobrar até R$ 3000”, explicou.>
Desenhista durante a infância, Pitoco começou sua trajetória com a arte de rua em 1992, aos 14 anos. Ele começou utilizando pincéis para pintar as paredes e dois anos depois teve o primeiro contato com o spray. O sucesso dos primeiros trabalhos rendeu o convite do então campeão mundial de boxe, Acelino “Popó” Freitas para pintar as paredes da primeira sede do projeto Mão de Pedra, localizado na Baixa de Quintas, em 1999.>
“Nós somos vizinhos desde a infância e ele me chamou para pintar a academia de boxe dele. Nesse projeto, ele me deu a minha primeira pistola de aerógrafo [usado em pinturas de longa distância] e assinou a nota fiscal, que eu guardo até hoje. Ficamos amigos e mantemos contato desde então”, afirmou. >
A colaboração com músicos começou com a banda Nossa Juventude e seguiu ao longo dos anos, com as bandas de artistas como Luiz Caldas, Carlinhos Brown e Ivete Sangalo. Ele também produziu a calça usada por Durval Lelys na gravação do show Eternamente Asa, em celebração aos 40 anos de carreira do cantor. >
“Meu Rei!!! Obrigado pela arte, você se superou dando vida a sua linda arte que vai ficar marcada para história dos fãs do Asa! Parabéns e obrigado pela sua dedicação!”, comentou Durval em uma publicação de Pitoco no Instagram. >
Recentemente, ele foi um dos três grafiteiros responsáveis por pintar a barraca da influenciadora Mani Rêgo, localizada em Brotas. “O convite foi feito enquanto Davi [ex-namorado de Mani] ainda estava no Big Brother. Quando ele saiu, deu aquela confusão e ela me chamou para executar o projeto, que fizemos em quatro horas”, contou. >
Esse não foi o primeiro trabalho de Elder com as forças militares. Há cerca de 15 anos, ele foi apresentado por um vizinho que integrava o Batalhão de Operações Especiais (Bope) a uma liderança da corporação que o convidou para desenhar o brasão na sede do batalhão. Essa colaboração se estendeu para as outras forças como a Polícia Militar (PM), Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros, onde aproveita para angariar novos clientes. >
“Um dia eu vi os soldados fazendo a mudança para aquele lugar e reparei que eles pintaram um muro vermelho. Com isso, entrei no local e apresentei a proposta para a coronel Keila Macario [comandante do 12º BBM], que me convidou. Isso seria impensável quando eu comecei, devido ao preconceito e hoje eles ficam acompanhando de perto e quando veem o resultado, me convidam para trabalhos particulares em seus restaurantes ou comércios”, relatou.>
Além de grafiteiro, Pitoco também comanda o projeto O Som do Amor, no qual ensina percussão para crianças e adolescentes, sem restrição de idade. Ele iniciou o projeto após receber instrumentos dos músicos com os quais colaborava. As aulas são realizadas nos finais de semana, no período da tarde, no bairro de Baixa de Quintas.>
“Alguns percussionistas doaram os instrumentos e eu convidei as crianças para fazer a aula de percussão. Eu cobro deles o boletim escolar, um bom comportamento na escola, com suspensão das atividades em casos de queixas dos professores. A referência do projeto para eles é tão importante que a diretora me liga em caso de problema e eu faço essa intervenção ajudando-os a entender que a arte e o estudo são as saídas para mudarem suas realidades”, finalizou.>
Projeto foi concluído em três dias
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>