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Gilberto Barbosa
Publicado em 6 de setembro de 2024 às 06:00
Após quase dois anos de operação, o BRT de Salvador passou a contar com duas mulheres no quadro de motoristas. Ilmara Sales, 53 anos, e Carla Patrícia Maltez, 43, foram convidadas pela administração do equipamento para serem as primeiras a operar os ônibus que fazem os trajetos do modal. Elas passaram por uma semana de treinamento e iniciaram na nova função no dia 12 de agosto.
Ilmara iniciou sua trajetória no transporte soteropolitano há cerca de 10 anos. Em 2014, ela foi contratada como cobradora e meses depois assumiu o volante dos ônibus. Ela já dirigiu em diversas regiões da cidade como Pau da Lima, Doron e Pirajá e teve como última linha antes de ingressar no BRT o percurso Estação Pirajá - Cajazeiras VIII.
“Meu ex-marido era carreteiro e eu comecei com ele no caminhão. Depois eu fiz transporte de passageiros de fábrica, escolar e parei aqui por acaso. Entrei como cobradora e depois de seis meses fui convidada pela empresa para ser motorista. Fiz a escolinha, aprendi a manobrar e fui pra rua. Eu rodei quase todos os lugares da cidade nesses 10 anos”, lembra.
Carla trabalhava como professora quando, em 2015, ingressou na OT Trans e passou a trabalhar como cobradora. XX meses depois, ela foi convidada para manobrar os veículos que ficavam na garagem da empresa. Os desafios aumentavam conforme ela ia ganhando experiência, passando a dirigir micro ônibus e os ônibus convencionais.
“Eu não sabia dirigir e fiz a escola para aprender a guiar os veículos. Eu passei para manobrista, onde fiquei por três anos e meio, e segui para os outros modelos de ônibus. Eu comecei na reserva e rodei em diversas linhas que me fizeram conhecer quase todos os bairros de Salvador. Depois, eu passei a rodar as linhas IAPI/Pero Vaz - Estação BRT Hiper e IAPI - Lapa de forma fixa”, relata.
O treinamento durou cerca de uma semana, onde elas aprenderam a dirigir os veículos e os trajetos das quatro linhas do modal, já que os motoristas do BRT não possuem linha fixa. Além de serem elétricos, os ônibus possuem outras diferenças importantes como um painel totalmente digitalizado e o comprimento de 15 metros contra 12 do convencional.
“Nós conhecemos o sistema, o modus operandi e fomos para um curso em sala de aula. Depois fomos treinar e passamos uma semana nos ônibus correndo os trechos, entendendo como encosta nas plataformas, como é a profissão, entre outras coisas”, relata Ilmara.
“Você sente uma diferença ao entrar, já que o carro não balança tanto, tem um painel digitalizado, além do conforto do ar-condicionado. Eu sinto uma segurança maior em conduzir esse veículo, já que no convencional, tudo era feito de forma manual e agora eu coloco a linha no painel e sigo caminho com mais tranquilidade”, diz Carla.
O treinamento foi conduzido pelo instrutor Florisvaldo Silva que explica que a seleção se baseou na ficha de conduta das motoristas e na telemetria, equipamento que reporta a maneira que o motorista conduziu o ônibus durante o trabalho. Ele também revela que outras motoristas foram convidadas a integrar a equipe, mas optaram por continuar no sistema convencional.
“Infelizmente elas não quiseram vir, mas a intenção é termos ainda mais mulheres no BRT. O treinamento que elas recebem é o mesmo dos homens, onde elas aprendem sobre condução econômica, defensiva, como parar corretamente nas estações, a distância do ônibus para a plataforma e o trajeto. O resultado está sendo bastante positivo”, afirma.
Enquanto não está rodando com os coletivos, Ilmara pode ser vista fazendo crochê no ponto de descanso dos motoristas. Ela costuma dirigir uma moto para se deslocar ao trabalho e reflete sobre o fato de ser uma das primeiras mulheres na operação do equipamento. “Nós estamos quebrando esse tabu do que mulher pode ou não fazer. Quando eu comecei eram quatro motoristas na antiga empresa [OT Trans] e agora já são 20. Eu espero que a gente consiga empoderar essas mulheres e trazer outras para cá”, conclui.
“Nós somos as pioneiras. As pessoas geralmente gostam quando vêem que é uma mulher que está dirigindo. Essa aceitação é cativante e demonstra que o céu é o limite. Além disso, minha mãe e meus filhos falam com orgulho sobre mim e dizem que queriam ter metade da minha coragem. Isso me dá ainda mais motivação para continuar”, finaliza Carla.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela