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Maysa Polcri
Publicado em 10 de janeiro de 2024 às 05:30
Uma semana antes do dia mais importante do ano, a roupa que Marta Barbosa vai usar e as folhas para fazer o banho de ervas já estão compradas. Com 52 anos, a baiana de acarajé participa da lavagem da parte de fora da Basílica do Senhor do Bonfim há pelo menos 30 anos, mesmo assim, não esconde a ansiedade nos dias que antecedem a festa. “Não vejo a hora de chegar quinta-feira”, admite.
Para quem acompanha o festejo de longe, pela televisão, pode achar que a festa se repete da mesma forma todos os anos. Quem tem fé percorre os oito quilômetros que separam a Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia da Colina Sagrada, no Bonfim, a pé. Mas quem faz a festa acontecer ano a ano sente uma emoção inexplicável cada vez que a quinta-feira que antecede o segundo domingo após o Dia de Reis se aproxima.
“Tem a emoção de repetir o que fazemos todos os anos. Eu participo desde de mocinha e sempre é um sentimento diferente”, conta Marta Barbosa. Enquanto o dia não chega, a baiana prepara a indumentária que usará no dia. “A que eu vou usar já está passada e pendurada. Tem que ser branca e prata, como manda a tradição”, diz. A vestimenta completa chega a custar R$1,2 mil.
Para o banho de amaci, que benze os devotos que chegam a Basílica do Senhor do Bonfim, são usadas ervas de todos os tipos. Arruda, acaçá, manjericão e patchouli formam a mistura que as baianas carregam durante o cortejo. O frasco de alfazema também é pré-requisito importantíssimo.
Claudina Silva Souza, 72, já cumpriu o trajeto da procissão durante muitos anos. Hoje em dia, coordena um grupo de baianas que participam do festejo. Cada uma ganha, em média, R$200 para acompanhar políticos no cortejo. Em anos de eleições municipais, como neste ano, a demanda pelo serviço fica ainda maior. E é preciso estar atenta para não ter nenhum problema.
“Já aconteceu de algumas delas saírem no meio do cortejo e participar de outro grupo. Aí, no final do dia, recebem pelos dois. Nosso trabalho é cuidar de tudo para que não tenha confusão”, diz Claudina, que faz parte da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam).
Entre as baianas, estão aquelas praticantes das religiões de matriz africana e outras que não. Marta Barbosa, por exemplo, se considera ‘católica não praticante, mas com um pé no dendê’. Isso porque os pais eram do candomblé. “O importante é ter respeito por todas as religiões, isso é o que importa de verdade na Festa do Senhor do Bonfim”, resume.