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Maysa Polcri
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 16:12
Entre todas as 20 favelas mais populosas da Bahia, apenas uma não está em Salvador. Trata-se de Teotônio Vilela, em Ilhéus, no sul do estado. A localidade atende aos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para ser chamada assim, mas o termo é rechaçado por boa parte dos moradores. “Aqui tá mais para cidade do que para favela”, resume um ilheense.
A localidade possui 12.788 moradores e aparece como 14º favela mais populosa da Bahia, de acordo com dados do Censo 2022, divulgados nesta sexta-feira (8). É a única do interior entre as 20 maiores da Bahia. O pódio é formado por Tancredo Neves, Pernambués e Valéria - todas na capital.
Teotônio Vilela surgiu durante a década de 1980 como um pequeno loteamento graças ao êxodo rural. Foi nesse período que a vassoura-de-bruxa atingiu as plantações de cacau de Ilhéus, provocando destruição em larga escala. Sem emprego, os trabalhadores da zona rural foram buscar oportunidade na cidade.
“Com o advento da vassoura-de-bruxa, houve uma evasão da zona rural, que trouxe as pessoas para a cidade. Elas não foram para o centro, ficaram na periferia. O local estava terraplanado e, assim, surgiram as primeiras invasões”, conta Anarleide Cruz Menezes, museóloga que mora em Ilhéus.
Com o passar dos anos, o bairro se desenvolveu. Avenidas foram criadas, o comércio ganhou força e a localidade é uma das mais populosas da cidade. “É um bairro auto sustentável, tem serviços de todo o tipo lá dentro. Algumas áreas invadem o mangue e acabam alagando quando chove. Mas, no centro, estão casas, condomínios, lojas e centros comerciais”, detalha a museóloga.
Para o IBGE, áreas de Teotônio Vilela podem ser consideradas favelas por atender certos critérios. São eles: precariedade ou inexistência de serviços públicos, infraestrutura desorganizada e invasões em áreas com restrição de ocupação. O instituto voltou a usar o termo no Censo de 2022 após 50 anos. As regiões também podem ser chamadas de “comunidades urbanas”.
Quem vive de perto a realidade de Teotônio Vilela discorda que a localidade seja uma favela, independente dos critérios técnicos utilizados pelo órgão. É o caso de Ricardo dos Santos, 44, atual presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Teotônio Vilela. Ele mora na região desde os 6 anos de idade e não vê com bons olhos a utilização do termo.
“Eu não gosto muito desse termo porque, quando se trata de favela, tratam o povo como favelado e isso nos diminui”, opina. “A geografia do bairro é muito boa, é plana e estamos a 10 minutos do centro da cidade. O comércio também é muito bom”, completa. Para ele, alguns serviços essenciais ainda são precários, como a saúde. “Pelo tamanho do bairro, já passou da hora de termos uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) aqui dentro”, cobra.
Para a estudante Simone Amorim, que mora no bairro, a localidade se parece mais com uma cidade do que com uma favela. Ela ressalta as melhorias ocorridas nas últimas décadas. “Antigamente poderia até ser chamado como favela, mas muita coisa mudou. Nós temos mercado, lotérica, farmácia, tudo. É como uma cidade”, diz.
As opiniões contrárias sobre o termo não são exclusividade de Ilhéus. Em Salvador, moradores das suas maiores favelas da Bahia também se dividem sobre a nomenclatura utilizada pelo IBGE.