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Emilly Oliveira
Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 18:26
A festa em devoção à Santa Luzia do Pilar, que atraiu nesta quarta-feira (13) milhares de fiéis que esperaram até quatro horas em uma fila sob o sol para lavar os olhos com suas águas milagrosas, na Igreja de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no Comércio, em Salvador, começou há muitos séculos e resiste até hoje.
Segundo o historiador Rafael Dantas, a celebração data do século 17, quando uma antiga capela na região da Gamboa era dedicada à Santa Luzia. Com o passar do tempo, a pequena capela foi transferida, indo para o local onde hoje está a igreja em louvor à padroeira dos olhos e da visão.
Ali, de acordo com Dantas, é onde começa, de fato, a concentração da devoção ligada à Santa Luzia e a festa começa a ganhar as características dos festejos atuais. A partir do início do século 20, a Igreja de Santa Luzia do Pilar começa a ser visitada pelos fiéis. Nesse contexto, a área da fonte ganha importância por conta dos milagres que foram relacionados àquelas águas.
O pároco da Igreja de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, padre Renato Minho, que assumiu o cargo há quatro anos, compartilha os primeiros milagres da Santa.
“A fonte que nós temos aqui em Salvador abastecia os navios e parte da cidade e a saída era na rua. Por providência, quem estava aqui trouxe a saída da fonte para dentro da igreja. Ela está num lugar privado, mas aberta ao povo. Conta-se que depois da chegada da imagem de Santa Luzia, um cidadão com deficiência visual bebeu da água e lavou o rosto. Ele volta a enxergar e sai contando. É bíblico. O fato não foi registrado, não se tem o nome, mas aconteceu”, relata o padre Minho.
A igreja teve sua edificação impulsionada pelos espanhóis que chegaram a Salvador em 1718. O estilo rococó e barroco da igreja é enriquecido por telas pintadas por José Joaquim da Rocha, cujo talento também adornou outras igrejas notáveis da região.
Martírio
A história da Santa, antes de se tornar padroeira no Brasil, remonta ao século 4, quando, após resistir a torturas e manter sua fé cristã, foi martirizada. O padre Renato Minho lembra que Santa Luzia, ainda jovem, se consagrou a Deus, com voto de castidade e pureza, mas no tempo das perseguições no Império Romano.
“Oriunda de família cristã e rica, após a morte do pai, ela herda uma fortuna dividida entre ela e a mãe. Além de rica, a sua beleza e status criaram desejos. Então, um cidadão a corteja e chega uma hora que ela diz: ‘não quero, vou me consagrar a Jesus’”, conta o pároco.
Por isso, ela é denunciada ao Império, sofrendo diversas torturas. Então lhe arrancaram os olhos, e a história conta que Deus lhe devolve a visão. Ela pega todo o dinheiro da herança, dá aos pobres, e passa pela tortura definitiva: a decapitação.
“A devoção nasce através da sua resistência. Arrancam os olhos e Deus devolve os olhos ainda mais belos. É o testemunho para que o sangue derramado floresça novos cristãos”, destaca o clérigo.