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Conheça a chef baiana que assina prato servido nos voos internacionais da Latam

Nara Amaral é proprietária do Di Janela Gastronomia Restô e Bar, que é sucesso no bairro da Saúde

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 02:15

Nara Amaral Crédito: Felipe Archer /Estúdio Ondina

A fachada modesta em meio a tantos imóveis tradicionais da Rua da Glória, situada no bairro da Saúde, guarda em segredo qualquer sinal de prestígio do Di Janela Gastronomia Restô e Bar. Não fosse o movimento fora do estabelecimento e a beleza dos pratos servidos um após o outro pelos garçons, o lugar poderia passar despercebido a olhos desatentos. Esse, no entanto, seria um problema facilmente solucionável com a apuração de outros sentidos: paladar e audição. Por lá, um aciona o outro, porque basta comer a comida para querer saber quem fez. E, ao saber a autoria dos pratos, fica claro que o Di Janela chama atenção pela excelência silenciosa da chef Nara Amaral, 55 anos, que tem sido arrancada do anonimato ao alçar voos com o sabor das iguarias que prepara.

O alceamento de voos é quase literal. Isso porque, pela segunda vez, Nara vai ser responsável por assinar o prato principal dos voos internacionais da Latam. A primeira oportunidade surgiu de surpresa, em 2023, quando um dos representantes da companhia aérea, à paisana, provou a comida da chef. Um tempo depois, a Latam decidiu criar um programa chamado ‘Sabor à Brasileira’, que tem o intuito de empoderar e dar visibilidade ao talento de chefs brasileiras, e convidou Nara para participar.

“Foi uma surpresa. Na primeira vez, eram cinco chefs brasileiras representando uma região do Brasil. Eu fui a primeira representando o Nordeste e isso não tem preço. Agora, veio a segunda temporada, porque a Latam entendeu que foi um projeto que deu certo. Afinal, fala de mulheres na cozinha e como chef, e essa é uma luta que estamos correndo atrás para sermos reconhecidas”, destaca Nara.

Ela, que é natural de Ipiaú, no sul da Bahia, fincou raízes em Salvador desde a juventude. Ao casar-se, a Saúde se tornou o lar da baiana, que decidiu transformar o quintal de casa em restaurante. A decisão ocorreu após um momento difícil. “Eu comecei a cozinhar depois dos 40 anos, mas houve uma época em que eu vendia marmitas, porque fiquei desempregada. Como era uma coisa que eu gostava, decidi investir e comecei a fazer comercialmente para complementar a renda”, conta.

O que era somente um restaurante caseiro se tornou popular demais para ficar restrito à casa. Foi então que Nara, que já tinha formação em Administração de Empresas, resolveu abrir o próprio negócio em 2013, tendo como carro-chefe a comida regional. Em 2022, ela inaugurou o Provisório Bar, no tradicional estilo carioca, com muita comida e chope gelado. No ano seguinte, ela já estava assinando o primeiro prato para a Latam, batizado de ‘baião de quatro’. Isso mesmo, de quatro.

“Eu faço uma piada bem engraçada quando eu estou na mesa com os clientes, imito a posição e tudo”, brinca. “O prato leva quatro proteínas, por isso que chamo de ‘baião de quatro’. Eu apresentei o prato para a Latam e foi aprovado. O chefe-executivo me perguntou a história, mas como era para voos internacionais e muita gente não iria entender, mudamos o nome do prato para ‘Baião Al Mare’, que eu faço com quatro frutos do mar”, detalha Nara.

O prato que será servido para os voos internacionais da companhia aérea pelos próximos seis meses é diferente e leva ainda mais baianidade para o mundo. Ela, que conta com a parceria da chilena Lorna Muñoz, que é proprietária e chef do ‘Travesía’ – restaurante situado no sul do Chile, no arquipélago de Chiloé –, diz que preparou uma refeição mais ousada.

Nara Amaral e Lorna Muñoz unem cozinha baiana e chilena Crédito: Felipe Archer /Estúdio Ondina

“Inicialmente, eu tive medo de colocar o dendê em um voo internacional, mas dessa vez eu vou usar. O prato será um lombo de peixe com molho de camarão, arroz de coco, farofa de amêndoa e uma moqueca de castanha de caju, que aqui no restaurante é servido como entrada. Para a Latam, eu fiz uma releitura e vou colocar a moqueca como um acompanhamento. Ficou super saboroso”, orgulhou-se.

Já Lorna Muñoz vai contribuir com a entrada e a sobremesa. A primeira parte da refeição será composta por quinoa, frutos do mar e verduras. Por sua vez, a sobremesa, que foi nomeada de ‘Sobremesa do Bruxo de Chiloé’, leva mazamorra, purê caramelizado de maçã, com creme de baunilha e merengue. Segundo a chef chilena, que está em Salvador desde segunda-feira (13) para ajustar os últimos detalhes das receitas, destaca a importância da junção de duas culinárias distintas.

“É uma bonita possibilidade de aprender sobre a cultura de Nara, que é tão distinta da cultura chilena, mas também tem similaridades que basicamente erradicam essas diferenças. Nossas cozinhas são domésticas e tradicionais. [...] Então, para mim, representa uma grande oportunidade estar trabalhando para a Latam pela segunda vez, além de conseguir o alcance dos nossos trabalhos”, ressalta Lorna.

Refeição completa servida pela Latam nos voos internacionais; pratos são assinados pela baiana Nara Amaral e pela chilena Lorna Muñoz Crédito: Felipe Archer /Estúdio Ondina

Assim como houve maior alcance para o restaurante da chef chilena, o talento gastronômico da chef baiana também conseguiu ultrapassar fronteiras. Cada vez mais turistas começaram a frequentar o espaço, bem como propostas para projetos novos e abertura de filiais do restaurante surgiram. Ela, contudo, insiste em manter os pés firmes no chão. Mesmo abertas a oportunidades, o foco está em um projeto grande que garanta um futuro financeiro confortável.

Para Nara, o Di Janela já está consolidado e, agora, a função que lhe cabe é de mentora. Não à toa, ela tem se permitido aproveitar mais com os clientes, sempre integrando as resenhas nas ruas da Saúde, de onde não quer deixar de ter raízes. “Eu quero crescer, mas não quero crescer só. Hoje em dia, sou uma mulher realizada. Não tenho filhos, mas moro bem, tenho conforto, realizo e viajo muito. O próprio bairro da Saúde reflete meu legado”, enfatiza.

“Tem vários restaurantes no bairro com receitas que eu sugeri e ensinei. Hoje, a Saúde é o mundo. Tem uma menina, chamada Lorena Martins, que veio trabalhar comigo com 15 anos de idade em um momento que eu tinha urgência e ela precisava de trabalho. Todo mudo me julgava porque ela era menor de idade. Eu só pensava: se ela precisa, o que estou fazendo de errado? Quando ela fez 18 anos, eu dei a ela uma festa de aniversário. Hoje ela tem 25 anos, está se formando em Nutrição e é minha subchef. [...] Esse é meu maior legado”, finaliza.