Comunidade LGBT organiza protesto contra a entrega da Comenda Dois de Julho a Silas Malafaia

Pastor vai receber mais alta honraria da Assembleia Lesgilativa da Bahia (Alba) em data a ser definida

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  • Marina Branco

Publicado em 19 de setembro de 2024 às 16:22

Silas Malafaia
Silas Malafaia Crédito: Isac Nóbrega I PR

Um grupo da comunidade LGBT+ está planejando um protesto contra a entrega da Comenda Dois de Julho ao pastor Silas Malafaia. A honraria, mais alta da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), ainda não tem data de entrega definida.

O Diário Oficial da União publicou, na última terça-feira (17), a decisão de entregar a Comenda Dois de Julho a Malafaia. A proposta partiu do deputado estadual Samuel Júnior (Republicanos), e foi aprovada em 2023 com apenas dois votos contra, dos deputados Hilton Coelho, do PSOL, e Fabíola Mansur, do PSB.

A homenagem, destinada a personalidades que contribuíram para o desenvolvimento político e administrativo estadual e nacional, bem como a luta em defesa das liberdades do povo da Bahia, foi justificada pelo “bem que ele traz às famílias brasileiras como um todo”, e “por alçar sua voz em favor da família e da heteronormatividade, combatendo a liberação de drogas e o aborto”.

Pronunciamento da Alba
Pronunciamento da Alba Crédito: Divulgação I Alba

A partir da aprovação do projeto pelo presidente da Alba, o deputado Adolfo Menezes, grupos LGBT+ da Bahia começaram a se organizar contra a homenagem. A primeira reunião de organização da iniciativa está marcada para esta quinta-feira (19), às 18h30, on-line.

A ideia é organizar a comunidade em torno de um objetivo em comum - impedir a entrega da Comenda a Silas -, e também levar a insatisfação com a homenagem ao Ministério Público da Bahia (MP-BA). 

Uma das organizadoras do movimento é Sandra Muñoz, coordenadora da Casa Marielle Franco Brasil e do Movimento Negro Unificado da Bahia. “É um cara que vem realizando violências, principalmente contra nós, LGBTs, com esse negócio de heteronormatividade. Com a questão do aborto, ele persegue nós mulheres, e a gente precisa de falar sobre isso e de outras violências. É um cara que faz miséria com a gente”, diz ela.

Desde o início do movimento, algumas entidades se aliaram à proposta. A Associação de Docentes da Universidade Estadual da Bahia (Aduneb) divulgou uma nota criticando a homenagem (leia mais abaixo). Sandra diz que está mantendo diálogo com lideranças da Ufba e também tem expectativa que a universidade se manifeste, assim como Diretórios Centrais de Estudantes (DCE).

Comenda Dois de Julho
Comenda Dois de Julho Crédito: Casa Civil I Wagner Lopes

A Aduneb critica fortemente a ideia de entregar a Comenda Dois de Julho a Malafaia: “A Aduneb enfatiza que o pastor em questão é um dos principais porta-vozes do fascismo na atualidade. Salienta que não há qualquer justificativa plausível para tal homenagem, salvo a propagação de pautas de ultradireita, que violam direitos e empenham posições reacionárias contra a vida, a democracia e a dignidade humanas”.

“Diante da atual conjuntura de recrudescimento do fascismo, é importante ressaltar a posição laica do Estado, sem que haja espaço para qualquer retrocesso ou abrigo ao fundamentalismo religioso. Silas Malafaia tem prestado um desserviço ao povo brasileiro, incentivando discursos de ódio e propagando fake news. É um agente do retrocesso, da ignorância e da incivilidade”, completa o texto.

Silas Malafaia é pastor protestante neopentecostal, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Graduado em psicologia, ele é presidente da editora Central Gospel, e vice-presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB).

Sob orientação da subeditora Carol Neves