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Maysa Polcri
Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 02:00
Faltam menos de 24 horas para que uma multidão vestida de azul e branco se concentre em frente à Basílica Conceição da Praia para acompanhar a saída da imagem do Senhor do Bonfim. Devotos, admiradores, curiosos, baianos e turistas seguirão em procissão até a Colina Sagrada, em um percurso de 6,5 quilômetros. Confira abaixo algumas curiosidades sobre a tradição, que completa 280 anos em 2025.
Imortalizado nas vozes de Caetano, Gil e Gal, o Hino ao Senhor do Bonfim integra o álbum Tropicalia ou Panis et Circencis, lançado em julho de 1968 e que virou símbolo do movimento tropicalista. O que pouca gente sabe é que o hino foi encomendado em 1923, pelo prefeito de Salvador na época, Manoel Duarte de Oliveira.
O historiador Murilo Mello conta que a composição, que faz alusão aos 100 anos da Independência da Bahia, foi criada pelo poeta Arthur de Salles e João Antônio Wanderley, instrumentista da Polícia Militar.
"Naquela época, na visão da elite, a Independência da Bahia tinha acontecido graças ao Senhor do Bonfim, um santo católico. Isso entra em confronto com a visão popular, em que a vitória é, sobretudo, pelo caboclo", explica o historiador. É justamente para inverter essa ordem que o hino foi incluído no álbum dos baianos, quatro décadas depois.
"O hino ganhou um apelo popular muito mais forte, que não tinha na época. Caetano e Gil tiveram a coragem de exaltar uma vitória popular, é isso que está subentendido, em plena Ditatura Militar", completa o historiador.
A tradição de subir a Colina Sagrada e pedir as bênçãos ao Senhor do Bonfim já era repetida há mais de 140 anos quando a Igreja Católica decidiu proibir o cortejo. A Igreja tentou evitar que costumes populares e o povo de santo fossem associados à cerimônia católica.
O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil na época, Dom Luís Antonio dos Santos, recebeu apoio da polícia, que reprimiu a população. Quem participou da festa em 17 de janeiro de 1890 teve instrumentos musicais, potes de barro, vassouras e moringas apreendidos pelas forças de segurança. Só em 1934 o cortejo voltou a acontecer oficialmente, dessa vez com o apoio da prefeitura.
A presença do tradicional desfile de jegues durante a Lavagem do Bonfim virou imbróglio judicial nos últimos anos. Enquanto protetores dos animais denunciavam que os jegues são vítimas de maus-tratos na condução de carroças na procissão, quem participava do desfile defendia a tradição. Desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) proibiram o desfile em 2011.
Se já tem gente que considera a Lavagem do Bonfim uma prévia do Carnaval, isso era praticamente indiscutível anos atrás. Em 1997, último ano em que foram permitidos, 29 trios elétricos desfilaram pela Avenida Contorno. Era dela que partiam os trios para converter a celebração religiosa em folia carnavalesca, que acabou sendo proibida.
As disputas judiciais entre a Arquidiocese de Salvador e a Devoção do Senhor do Bonfim, que motivaram uma intervenção na irmandade, tiveram início com desentendimentos sobre a organização da Lavagem do Bonfim em 2023. A discussão começou com intrigas entre o padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Bonfim, e Jorge Nunes Contreiras, ex-juiz da devoção.
A devoção solicitou que o padre tivesse a carteira de trabalho assinada e limitação quanto ao recebimento das arrecadações financeiras do templo. Em agosto do ano passado, o arcebispo de Salvador Dom Sérgio da Rocha decretou intervenção na irmandade e o afastamento do então juiz da congregação.
Em outubro de 2024, o santuário do Bonfim lançou uma marca unificada para colocar um ponto final no imbróglio e transmitir a imagem de união entre as partes.