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Larissa Almeida
Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 05:57
Ao atingir o recorde de maior alta nominal – isto é, valor não ajustado pela inflação da economia – com cotação a R$ 6,10 na última sexta-feira (29), o dólar americano causou efeitos diversos na economia brasileira. Os impactos afetaram não apenas o mercado financeiro, mas o bolso dos brasileiros. Afinal, a tendência é que tudo fique caro com a alta do dólar, desde a passagem aérea até a ceia de Natal.
Segundo Guilherme Dietze, consultor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), os produtos importados são os que mais vão ter impacto nas prateleiras dos supermercados, mas não serão eles, diretamente, os vilões do Natal. “Não dá tempo de afetar os preços dos produtos no Natal porque as compras foram feitas com certa antecedência, mas isso afeta o varejo na hora de importar produtos da China. Na hora que é pago o frete mais caro, isso chega no bolso do consumidor”, aponta.
Entre os produtos que terão possíveis aumentos no preço por conta do frete, estão o trigo e, por consequência, o pão, o macarrão, bolachas e até alguns tipos de cerveja, molho e sopa. No entanto, não só os alimentos vindos de fora do país entram na berlinda, uma vez que itens como a soja e o milho, por exemplo, tem cotação no preço internacional.
Guilherme Dietze afirma que o cenário só não está pior porque as commodities estão acomodadas. “O petróleo, a soja e até mesmo o milho estão em uma tendência ainda de baixa, o que não pressiona tanto. O que a gente viu no passado recente, lá em 2021 e 2022, sobretudo na guerra da Ucrânia, foi uma explosão do dólar e uma explosão das commodities, por isso a inflação foi tão elevada no Brasil”, explica.
O modal rodoviário, que é o mais utilizado para locomoção, depende de combustível fóssil, como gasolina e diesel, que são produtos também dolarizados. Isso faz com que os preços dos produtos que chegam nas gôndolas dos supermercados fiquem mais elevados.
Outro setor afetado é o da aviação, que deverá elevar os custos das passagens aéreas para cobrir os custos, já que 60% dos gastos das empresas aéreas estão atrelados em dólar, como o próprio avião, o aluguel, a manutenção e o combustível, conforme aponta Guilherme Dietze.
Para quem já tem viagem marcada para os Estados Unidos, preocupa a possibilidade de gastar além do planejado diante do atual cenário econômico. Esse é o caso do empresário Danilo Louzado, que vai embarcar pela primeira vez para Orlando com a família. “Quando nós decidimos fazer a viagem no início do ano o dólar estava a R$ 5,40. Não nos programamos para comprar o dólar porque achamos que ele ia baixar e, pelo contrário, cada vez mais ele está aumentando”, se queixa.
“Pelo menos, fizemos a compra de uma parte antes da campanha eleitoral dos Estados Unidos e ainda conseguimos um valor muito menor do que o de hoje. Então, só me preocupa se houver excesso. Vamos ter que segurar a mão porque, com a desvalorização da nossa moeda, não vai dar para gastar como tínhamos planejado antes”, lamenta o empresário.
A alta do dólar também impacta a possibilidade aquisição de alternativas do poder de compra. É o que aponta o economista Uitan Maciel, especialista em mercado financeiro. “A alta do dólar impacta nos preços de insumos, máquinas, serviços e isso gera inflação. Com o aumento desse índice, o Banco Central como medida para conter a inflação precisa aumentar juros o que encarece o custo do dinheiro. Logo, empréstimos e financiamentos ficam mais caros. Isso reduz o apetite das empresas em investir e enfraquece a economia”, analisa.