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Comerciantes relatam perda de 100% nas vendas durante apagão

Fecomércio estima prejuízos em R$ 2,2 milhões por hora parada

  • M
  • Millena Marques

Publicado em 16 de agosto de 2023 às 05:00

Manhã na Avenida Sete durante apagão
Lojas fechadas na Avenida Sete de Setembro Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Não vendi nem água.” Este é o relato de Ciro Gonzaga, proprietário da Cafeteria Lacerda Café e um dos comerciantes afetados pela interrupção no fornecimento de energia que atingiu 25 estados brasileiros e o Distrito Federal nesta terça-feira (15). Vinte minutos após a abertura do estabelecimento, localizado no bairro do Comércio, ele e a única funcionária do local foram surpreendidos com o apagão, responsável por impactar diretamente no faturamento do dia.

De acordo com uma projeção da Fecomércio, o apagão pode ter gerado perda de vendas, por hora parada, de R$ 2,2 milhões. Segundo o presidente do Sindicato de Lojistas do Estado da Bahia (Sindilojas-BA), Paulo Motta, a interrupção "desorganizou a operação do sistema produtivo e as perdas são imensuráveis para o comércio de bens".

O relógio marcava 12h quando Ciro conversou com o CORREIO e, até esse horário, o fornecimento não havia sido restabelecido no bairro. No período de baixa estação, Ciro vende entre R$ 1.200 e R$ 1.300 diariamente. Com o apagão, a cafeteria não produziu e, consequentemente, nada vendeu, o que configura uma perda de 100% das vendas diárias.

“As máquinas que utilizamos não funcionam sem energia. Foi um dia perdido, porque o maior movimento acontece pela manhã. Não conseguimos recuperar”, explicou.

As mesas do estabelecimento Churrascaria e Pizzaria Modelo também estavam vazias, sem sinal de cliente à vista até as 12h30. O dono, Márcio Santos, disse que a queda no faturamento foi total. Diariamente, o restaurante recebe entre 60 e 80 pessoas para almoço, com o maior pico entre 11h30 e 12h. “A perda é imensurável”, afirmou o proprietário, que não estabeleceu um valor do prejuízo.

O bar Recanto do Gino era um dos poucos estabelecimentos próximos ao Mercado Modelo e ao Elevador Lacerda que tinham clientes nas mesas – poucos, mas tinha. Apesar disso, o administrador do local, Gino Dias, estimou uma redução de mais de 80% nas vendas diárias por causa do apagão. “Estamos vendendo o que conseguimos. Não consegui tirar nem o dinheiro da gasolina para chegar até aqui”, afirmou. Nesta época do ano, o estabelecimento fatura entre R$ 500 e R$ 2.000. Até as 12h, Gino não havia vendido nem R$ 100.

No Depósito de Bebida do Vissor, ainda na região do Comércio, o proprietário Wilson Bispo destacou uma redução de 50% nas vendas durante o horário em que foi afetado pelo apagão, de 9h às 13h, e teve que recorrer às lanternas de celulares e velas para faturar alguma coisa pela manhã: "Foi complicado, porque o movimento maior é pela manhã. Não foi um dia jogado no lixo porque chegou a tempo", explicou Wilson.

Wilson Bispo, proprietário do Depósito de Bebidas Vissor
Wilson Bispo, proprietário do Depósito de Bebidas Vissor Crédito: Marina Silva/CORREIO

Na Avenida Sete, nada diferente: queixas de proprietários e funcionários que recebem comissão por venda, além de dezenas de lojas fechadas. Rute Navarro, proprietária da Artesanato Carinho e Arte, vendeu uma peça durante toda a manhã – a média diária é de 30 peças. Já Jackson Sacramento Junior, funcionário da Kasa Andrade, que tira entre R$ 60 e R$ 70 por comissão diariamente, terminou a manhã zerado.

Rute Navarro, proprietária da Artesanato Carinho e Arte
Rute Navarro, proprietária da Artesanato Carinho e Arte Crédito: Marina Silva/CORREIO

Quanto aos shoppings centers, o coordenador da Associação Brasileira de Shoppings Centers na Bahia (Abrasce-BA), Edson Piaggio, afirmou que os centros comerciais que possuem geradores não foram prejudicados pelo apagão. A organização, no entanto, não teve como informar quais shoppings possuem o equipamento, nem quais foram os prejuízos.

Transtornos com Pix e pagamento no cartão

Para Roberto Neder, proprietário da loja de jeans Aduana, na Avenida Sete, o maior problema é a forma do pagamento. De acordo com o empresário, 99% das pessoas realizam as compras por meio do cartão de crédito ou da transferência via Pix, processos que ficaram fora do ar por causa da interrupção.

"Não conseguimos fazer venda nenhuma. Estamos aqui zerados", afirmou Roberto, às 12h50, minutos antes do restabelecimento do sistema na Avenida Sete. O empresário vende, em média, 30 peças por dia.

Roberto Neder, proprietário da Aduana
Roberto Neder, proprietário da Aduana Crédito: Marina Silva/CORREIO

Motorista da Saúde do município de Santa Cruz da Vitória, no interior baiano, Lauro Dias aproveitou que estava em Salvador a serviço para realizar compras na Avenida Sete, mas foi pego de surpresa com o apagão. "É uma turbulência. Estamos com esse problema de passar o cartão na máquina e de encontrar lojas abertas", afirmou Lauro Dias.

Lauro Dias, morador de Santa Cruz da Vitória
Lauro Dias, morador de Santa Cruz da Vitória Crédito: Marina Silva/CORREIO

Motoristas peregrinam em busca de combustível

Quem teve o azar de ficar com o combustível na reserva na manhã de terça-feira (15), precisou enfrentar filas nos postos de gasolina para conseguir abastecer. Foi o caso de Jorge Baptista, de 64 anos. O aposentado tentou abastecer em três postos diferentes, mas em nenhum deles as máquinas de cartão estavam funcionando.

“Eu passei por uma consulta no hospital e lá fiquei sabendo do apagão, a luz chegou a cair duas vezes. Agora, o carro está na reserva e preciso abastecer para voltar para Brotas”, disse enquanto aguardava na fila em um posto na Avenida Paralela. Alguns postos de gasolina visitados pela reportagem durante a manhã tinham geradores, o que garantiu o funcionamento.

Em um posto próximo à Estação Pernambués, no entanto, mais de dez carros aguardavam o serviço ser restabelecido por volta das 11h. Apesar do fornecimento de energia ter sido retomado, os frentistas aguardavam o processo de automação, que consiste na integração das bombas de combustível com o caixa. “Temos que esperar cerca de meia hora para voltar a funcionar e tem muita gente esperando porque o carro está na reserva e não tem como sair”, disse o frentista Lázaro Lopes.

Entre os que aguardavam na fila estava André, que já havia passado em três postos de gasolina e estava atrasado para o trabalho. “Esse apagão atrapalhou tudo. Estou atrasado para o serviço, mas não posso sair daqui antes de abastecer ou o carro vai parar no meio da rua”, afirmou.

Indústrias

De acordo com o superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira, a produção no Polo parou por um tempo, que não foi especificado. Os dados sobre uma possível perda produtiva ainda serão apurados. "Não é possível saber [sobre perdas], porque a queda foi geral", explicou Mauro.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo